| Foto: Tyler Hicks//The New York Times

O ataque aéreo atingiu a fábrica de engarrafamento de água no final do turno da noite, matando 13 trabalhadores que em poucos minutos voltariam para casa.

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Parado entre as garrafas espalhadas, caixas fumegantes e máquinas pulverizadas, alguns dias depois, o proprietário, Ibrahim al-Razoom, disse que não havia motivo para que aviões de guerra da coalizão militar liderada pelos sauditas atacassem o lugar.

Nada nas ruínas sugeria que a fábrica fosse usada para fazer bombas, como alegou um porta-voz da coalizão. Ela também ficava longe de qualquer instalação militar que poderia explicar o ataque como um erro trágico: em muitos quilômetros ao redor não há nada além de deserto.

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Dos muitos perigos que a população do Iêmen enfrentou nos últimos seis meses de guerra, nenhum foi tão mortífero quanto os ataques aéreos da coalizão.

O que começou como uma campanha liderada pelos sauditas contra os houthis, milícia rebelde que forçou o governo do Iêmen a deixar o poder, tornou-se tão amplo e maligno que os críticos acusam a coalizão de punir coletivamente pessoas que vivem em áreas controladas pelos houthis.

Ataques “por engano” da coalizão destruíram mercados, prédios de apartamentos e campos de refugiados. Outras bombas caíram tão longe de qualquer alvo militar que grupos de direitos humanos dizem que esses ataques constituem crimes de guerra.

A guerra aérea está cristalizando a ira em partes do país contra a Arábia Saudita e seus parceiros, incluindo os Estados Unidos.

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O bombardeio mais próximo da fronteira com a Arábia Saudita foi tão intenso que as pessoas se abrigaram em cavernas nas montanhas ou foram obrigadas a fugir para o sul, muitas vezes a pé, onde montaram acampamentos improvisados ao lado da estrada.

Em Saada, terra natal dos houthis, muitas vezes bombardeada, médicos dizem que aumentam os casos de desnutrição. 

Bairros no norte da cidade de Saada foram tão duramente bombardeados que os moradores brincam com tristeza que a coalizão ficou sem prédios para atingir. O grupo cada vez menor de alvos não impede que os aviões circulem diariamente sobre Sanaa, a capital, e bombardeiem os mesmos prédios diversas vezes.

A coalizão liderada pelos sauditas raramente ou nunca reconhece a morte de civis por engano, mesmo depois dos ataques mais mortíferos, como o bombardeio a um conjunto residencial de trabalhadores em Mokha em julho, que matou pelo menos 63 pessoas.

Em vez disso, a coalizão culpa os houthis, acusando-os de agir em áreas populosas.

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Um tenso impasse político surgiu na guerra em março, depois que milícias houthis depuseram o governo do presidente Abdu Rabbu Mansour Hadi, que fugiu para o exterior. A Arábia Saudita lançou sua ofensiva com o objetivo declarado de recolocar Hadi no poder, enquanto via os houthis liderados pelos xiitas como representantes do Irã.

Mais de 4.500 pessoas foram mortas. As restrições sauditas às importações aprofundaram o sofrimento humanitário no Iêmen, causando falta de combustível, água e suprimentos médicos enquanto inflava os preços dos alimentos e de outros produtos.

O comissário de Direitos Humanos da ONU disse que, dos 1.527 civis que morreram entre o início da ofensiva saudita e 30 de junho, pelo menos 941 foram mortos por ataques aéreos.

Os ataques aéreos ajudaram a coalizão a avançar no sul do Iêmen, onde o sentimento contra os houthis é forte. Mas o número crescente de baixas civis despertou preocupações sobre as táticas da coalizão de Exércitos árabes que combatem com os sauditas.

A maioria dos civis foi morta por aviões da coalizão, muitas vezes despejando munições americanas que variam entre 100 e 900 quilos.

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“Eles matam inocentes e afirmam estar matando houthis. Estão visando toda a população”, disse Adam Mujahid Abdulla, um sobrevivente de 20 anos que sofreu queimaduras em 65% do corpo. A bomba que atingiu sua casa matou sete pessoas da família.

Do outro lado da cidade, um ataque aéreo destruiu um prédio de lojas e apartamentos, matando sete pessoas. Entre as vítimas estava Tayseer Okba, uma menina de 12 anos que visitava sua avó, Amana al-Khowlani, de 65.

Omar Mohammed al-Ghaily, 28, estava sentado no centro de Saada, perto das ruínas de sua loja de roupas. Ele continua voltando là. “Não tenho para onde ir”, disse.