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A reação contra o movimento antiacúmulo, instigado pela publicação em outubro nos EUA do livro de Marie Kondo “A Mágica da Arrumação: A Arte Japonesa de Colocar Ordem na Sua Casa e na Sua Vida”, foi rápida e forte.

Parece que muita gente não quer modificar sua vida e, na verdade, gosta de suas coisas. Chame-a de turma pró-bagunça.

Não devemos ceder à culpa e à ansiedade que todos os artigos de revistas e livros dizem que devemos sentir sobre acumular tanta coisa, escreveu Dominique Browning no jornal “The New York Times”.

É o que as pessoas fazem: “Admiramos, desejamos, colecionamos e exibimos. Ao longo de uma vida, vasculhamos, desencavamos e chafurdamos em nossas coisas, porque faz parte do ser humano. Nós valorizamos isso”, escreveu ela.

“Por que na vida deveríamos nos livrar de nossas coisas maravilhosas?”, perguntou Browning.

“Está na hora de celebrar a delicada arte da bagunça.”

É inútil resistir ao encanto de nossas coisas, sugere ela, porque por mais livros, fotos, quadros e bibelôs que dermos de presente haverá outros para substituí-los.

Se nos mudarmos para um espaço menor e formos obrigados a dispensar coisas, sentiremos falta delas e outros objetos entrarão em nossa nova casa.

“As coisas que acumulamos funcionam do mesmo jeito que nosso corpo engorda”, escreveu Browning. “Cada pessoa tem um ponto definido ao qual invariavelmente retorna. (...) Cada um de nós se permite uma certa tolerância, ou necessidade, de coisas”, acrescentou ela.

“Algumas raras pessoas tendem ao minimalismo; outras caem em um transtorno de acúmulo. A maioria vive na faixa média. Como é maravilhoso simplesmente aceitar isso, e comemorá-lo!”

Heidi Julavits admitiu no “NYT” que tem um “problema de acúmulo”.

Ela guardava todo o seu “lixinho” de bolso —tíquetes usados, cartões de embarque, recibos de caixa automático etc.— e os enfiava em sua escrivaninha. Agora a escrivaninha ficou lotada.

Ela pensou que precisava ler o livro de Kondo para aprender a se livrar de todo esse entulho e assim poder usar a escrivaninha como tal.

“Mas é difícil jogar fora”, escreveu Julavits.

“Conforme revi o conteúdo da escrivaninha, lembrei-me de muitos dias insignificantes ou quase que eu tinha esquecido, até reencontrar aquele passe de visitante ou aquela pulseirinha de show. Minha mente equivale a minha escrivaninha antes que eu a limpasse —não cabem mais recibos de táxi lá dentro.”

Mas, se ela seguisse um dos ditames básicos de Kondo —“Isto provoca alegria?”—, alguns detritos teriam de ser descartados, especialmente se não provocassem uma reação quando colocados junto do corpo, como recomenda a guru da faxina.

Mas Julavits tinha outro pequeno problema.

“O lixo de outras pessoas provoca muita alegria em mim”, escreveu. “Meu vício no eBay poderia ser classificado de modo geral como ‘felicidade no lixo dos outros’.”

Essa tendência a colecionar coisas não é apenas para viciados em eBay. Matthew Maddy projetou muitos restaurantes chiques em locais badalados do Brooklyn, e o “NYT” descreveu suas decorações como “ecléticas e ricas em detalhes”.

A casa de Maddy no Brooklyn reflete sua estética, pois seu antigo sobrado é repleto de objetos que encerram histórias pessoais, o que é notável, comentou o “NYT”, porque ele e sua mulher acabam de se mudar.

A parede do quarto parece um bloco de anotações, com fotos, desenhos e bilhetes pregados em toda a superfície. Há quadros e gravuras da mãe de Maddy, a artista Barbara Chapman, pendurados em quase todos os cômodos.

“Eu simplesmente adoro amontoar coisas e imagens”, disse Maddy.

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