Quando cápsulas como esta foram atingidas por lasers, no último outono, o hidrogênio no interior foi comprimido, liberando uma explosão de energia| Foto: Dr. eddie dewald

Após anos de resultados decepcionantes, um complexo a laser de US$5 bilhões acaba de dar um passo que renova o otimismo de que a fusão termonuclear, o processo que alimenta o Sol, poderá um dia ser aproveitada para uma energia quase ilimitada.

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Na National Ignition Facility do Lawrence Livermore National Laboratory, na Califórnia, 192 lasers enormes são disparados em um pequeno cilindro dourado, vaporizando-o. Isso gera uma enxurrada de raios-X na direção de uma pastilha de combustível (menor do que um grão de milho), transformando o hidrogênio de seu interior em hélio e liberando uma explosão de energia – em efeito, uma bomba de hidrogênio em miniatura.

Ao menos esse era o conceito.

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Porém, desde que a instalação iniciou suas operações, em 2009, o último passo – a fusão de átomos de hidrogênio em hélio – não aconteceu em quantidade significativa, até setembro.

Escrevendo na revista "Nature", cientistas do projeto descrevem disparos em setembro e novembro. Nos dois casos, a fusão gerou mais energia do que havia sido depositada no hidrogênio. Mesmo assim, a fusão por laser continua longe de ser prática, pois apenas cerca de 1 por cento da energia do laser acaba chegando ao hidrogênio.

"Muita gente está animada", declarou Omar A. Hurricane, o cientista que comanda o projeto. "Estamos certamente em uma posição melhor do que antes".

Uma antiga esperança é que a fusão possa se tornar uma fonte de energia mais abundante e limpa do que os combustíveis fósseis ou a fissão nuclear, que divide átomos de urânio e produz resíduos radioativos. O planejamento começou há duas décadas, como experimento de energia e também como apoio à manutenção de átomos nucleares, proporcionando uma forma de conferir simulações de computador sem detonar testes nucleares.

Entretanto, o resultado dos experimentos sempre ficou aquém do que se previa, sugerindo que o entendimento da fusão por parte dos cientistas era incompleto.

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Segundo especialistas, os novos resultados ajudarão a conseguir mais tempo para o laser gigante provar seu valor e conquistar mais apoio. Ele é financiado pelo Departamento de Energia dos EUA, e possui um orçamento de aproximadamente US$330 milhões para este ano.

Stephen E. Bodner, um crítico do complexo a laser e ex-diretor de uma iniciativa similar no Naval Research Laboratory, em Washington, afirmou que o projeto havia conseguido se reinventar.

"Muitas pessoas defendiam que o complexo deveria ser fechado. Agora, a visão geral é que eles estão praticando uma ciência de melhor qualidade".

Um resultado particularmente promissor é que os núcleos de hélio produzidos pela explosão inicial da fusão aqueceram os átomos de hidrogênio vizinhos. Atualmente, apenas uma minúscula partícula do hidrogênio se funde, e para que a abordagem do laser funcione, as reações de fusão teriam de se propagar pelo restante do combustível de hidrogênio.

Robert J. Goldston, um professor da Princeton University em New Jersey, comparou o processo a acender um fósforo e depois colocar fogo em uma pilha de madeira.

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"Eles estão perto de acender o fósforo", comparou o Dr. Goldston. "O que é um grande passo".

Os lasers não são a única abordagem focada em explorar a fusão. Cientistas também vêm usando reatores do formato de rosquinhas, chamados "tokamaks", que usam campos magnéticos para conter e comprimir o combustível de hidrogênio. No final da década de 1990, o experimento Joint European Torus, na Inglaterra, gerou 16 milhões de watts de energia de fusão por um breve momento, chegando a 70 por cento do caminho para produzir a mesma quantidade de energia que era consumida.

Um projeto internacional chamado ITER está atualmente construindo um reator tokamak maior na França, programado para começar a funcionar em 2020.