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"Quando você vai ter um desses?" me perguntou uma amiga há alguns meses, referindo-se ao bebê de 10 meses que chorava em seus braços.

"Estou trabalhando nisso", respondi. E por "trabalhando", eu quis dizer que acabara de começar a usar o Tinder, popular aplicativo de paquera.

"É melhor trabalhar mais rápido", afirmou ela. "Os espermas não estão ficando mais jovens".

Eu havia lido os recentes artigos alertando sobre problemas de fertilidade para homens de certa idade, incluindo riscos de autismo e esquizofrenia para seus filhos. E eu estava com 42 anos. Não seria prudente congelar um lote de paternidade no banco, para uso mais adiante? Pode levar um tempo até eu encontrar a mãe de meus futuros filhos, e certamente o esperma que eu doar hoje será superior ao esperma que produzirei, digamos, em 2020.

E foi assim que me encontrei, semanas mais tarde, fechado numa pequena sala da clínica da California Fertility Partners em Los Angeles, depositando meus espécimes num copinho de plástico.

O dr. Paul Turek, especialista em fertilidade masculina e diretor da Turek Clinic em São Francisco e Los Angeles, me disse ter visto um aumento no número de jovens da área de São Francisco congelando esperma.

Diferente de congelar os óvulos de uma mulher, o que pode facilmente atingir mais de US$10 mil somente para a extração, congelar esperma é não invasivo e relativamente barato. Dependendo do laboratório, o custo para um espermograma completo e um ano de armazenamento geralmente sai por volta de US$500, com cada ano subsequente de armazenamento pelo mesmo valor ou menos.

Mas isso é necessário?

Bronte Stone trabalha na California Fertility Partners e seu laboratório, o Reproductive Technology Laboratories, conduziu um recente estudo sugerindo que a contagem de esperma começa a diminuir por volta dos 34 anos, e o número de esperma de formação normal começa a cair em torno dos 40.

De acordo com o dr. Turek, conforme o homem envelhece, "os mecanismos de controle de qualidade do esperma começam a falhar".

Em seu blog, o dr. Turek (que não possui um negócio de congelamento de esperma) enumerou uma quantidade surpreendente de riscos que, ele acredita, pais acima dos 40 trazem para os filhos, incluindo um aumento de duas vezes no risco de aborto espontâneo ou parto prematuro, um aumento de 25 por cento no risco de defeitos de nascença, um aumento de duas vezes em anormalidades cromossômicas, um aumento de oito a dez vezes no risco de doenças, e um aumento de até cinco vezes na incidência de esquizofrenia, transtorno bipolar e epilepsia.

Mas esse tipo de pesquisa é controverso. "As sugestões de autismo são apenas isso", afirmou o dr. Mark Surrey, fundador e diretor médico do Southern California Reproductive Center. Ele acredita que nenhum estudo controlado vinculou diretamente o autismo à idade paterna avançada.

"As especificidades do autismo são muito difíceis de isolar, pois trata-se de um processo de múltiplos fatores sem distúrbios num gene isolado", explicou o dr. Surrey. "Caso contrário, poderíamos eliminar a doença geneticamente".

O dr. Craig Niederberger, chefe do departamento de urologia da Universidade de Illinois, na Chicago College of Medicine, concorda que diversos estudos recentes sugeriram uma conexão entre espermas mais velhos e anormalidades genéticas, mas ele também é cauteloso em afirmar que homens mais jovens devam congelar esperma. "Sabemos que os óvulos coletam erros conforme as mulheres envelhecem", argumentou ele. "Mas com o esperma, que está constantemente se reabastecendo, não temos essa certeza".

E existem riscos em se congelar esperma, diz a presidente da American Society for Reproductive Medicine, dra. Rebecca Sokol, professora de obstetrícia, ginecologia e medicina na Universidade do Sul da Califórnia. "Se você está muito preocupado, vá em frente e coloque seu esperma no banco – mas lembre-se de que esperma congelado, uma vez descongelado, pode não ser tão funcional quanto o esperma que você possui no tempo presente. Assim, não se pode deduzir que teremos 100 por cento de fertilidade quando ele for descongelado, pois você pode nem mesmo ter 100 por cento agora".

Não sei se algum dia usarei meu esperma congelado. E, naturalmente, preciso me perguntar: o esperma que estou produzindo hoje é bom? Eu estaria melhor se tivesse congelado meu esperma há dez anos?

E terei a energia para ser um pai novato aos 50 anos?

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