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O guitarrista Vieux Farka Touré, à esquerda, conta que teve que se adaptar ao estilo do pianista Idan Raichel | Matthew Ryan Williams para The New York Times
O guitarrista Vieux Farka Touré, à esquerda, conta que teve que se adaptar ao estilo do pianista Idan Raichel| Foto: Matthew Ryan Williams para The New York Times

O pianista israelense Idan Raichel estava no aeroporto de Berlim, em 2008, quando viu o guitarrista malinês Vieux Farka Touré – e desse encontro fortuito resultaram uma das parcerias mais interessantes da world music, CDs elogiados pela crítica e uma amizade duradoura que supera as diferenças culturais. É difícil caracterizar o som da Touré-Raichel Collective. "Costumo dizer que é um pouco lá, um pouco cá. Nós dois somos muito influenciados por nossas raízes, que são supertradicionais. É como ter dois chefs, um de Taiwan e o outro do México; se forem preparar os clássicos, vão acabar encontrando um ponto comum; afinal, parte dos ingredientes, tipo sal e açúcar, são os mesmos", diz Raichel, de 37 anos. Surgiram inúmeras parcerias entre músicos ocidentais e de tradições africanas nos últimos 25 anos, principalmente desde o sucesso de vendas e crítica "Talking Timbuktu", de 1994, álbum que ganhou um Grammy e uniu dois guitarristas: o norte-americano Ry Cooder e o malinês Ali Farka Touré, pai de Vieux.

Geralmente não se associa o piano à música da África Ocidental – foi o que Touré disse antes de conhecer Raichel, tendo sempre utilizado instrumentos de cordas como a kora, parecida com a harpa, e o ngoni, para dar um novo colorido à sua música. E embora adore o som do piano, no início da parceria, teve dificuldades para se adaptar. "Às vezes eu tinha que aprender o que ele tocava. Tinha que perguntar e ficava olhando, prestando atenção. Mas o mais importante é o costume. Agora é moleza, não precisamos mais nem de ensaio, é só chegar e tocar, o que é muito bom", afirma Touré, de 33 anos.

Em novembro de 2010, Raichel organizou uma apresentação de Touré na Casa de Ópera de Tel Aviv; depois disso, se juntou a ele no estúdio, na companhia de um grupo de percussão, para uma jam session de mais de três horas. Quando Jacob Edgar, das gravadoras Cumbancha e Putumayo, ouviu o resultado, ficou fascinado.

"Hoje em dia a música é tão controlada e produzida que você não ouve mais esse tipo de som natural, orgânico. São quatro caras tocando ao vivo num estúdio, sem preparo nem ensaio, sem plano nenhum, só ali, sentados, criando em cima do que sentiam", comenta ele.

"The Tel Aviv Session" foi lançado no início de 2012, chegou ao topo da parada world music da Billboard e do iTunes e levou a uma turnê mundial e à gravação de um segundo CD, "The Paris Session", lançado em outubro.

O novo álbum tem faixas que vão desde uma oração cantada em hebraico a canções de amor em bambará, francês e songai (idiomas falados no Mali).

Raichel é descendente de europeus orientais, mas ouvia muita música etíope e iemenita na adolescência e é mais conhecido em Israel por seu trabalho na música pop. Nos últimos anos, ele também trabalhou com vocalistas como a cantora de fado portuguesa Ana Moura, o contratenor alemão Andreas Scholl e os norte-americanos India.Arie e Alicia Keys, que o descreve como alguém que "une culturas e promove a tolerância".

Tanto Raichel como Touré têm consciência da dimensão política do que estão fazendo – afinal, o simbolismo de um judeu e um muçulmano trabalhando juntos é inevitável. "O pessoal pergunta toda hora por que estou fazendo isso e respondo que, para mim, não tem nada a ver com religião; estou aberto à música de todas as partes do mundo. Ninguém deveria dizer: ‘Ah, sou judeu, não vou tocar com muçulmanos’, ou ‘Sou muçulmano, não vou tocar com cristão’. É por isso que temos tantos problemas", resume Touré.

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