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Em termos de polêmicas religiosas, esta é relativamente pequena. Mas a pergunta não pode deixar de ser feita: é ético comer um chocolate com o formato de uma figura divina?

A questão surgiu na pequena confeitaria Bond Street Chocolate, em Manhattan, que vende imagens de chocolate de Jesus, Moisés, Buda e Ganesh, o deus hindu com cabeça de elefante.

No mês passado, a organização Sociedade Universal de Hinduísmo anunciou: “Hindus indignados pedem o fim da venda de figuras comestíveis de chocolate na forma do Senhor Ganesh”.

Lynda Stern, proprietária da loja, ficou perplexa. Há mais de cinco anos ela vende a figura de Ganesh, salpicada de grãos dourados, e de outras figuras religiosas, além de bombons de maracujá e ervilhas secas temperadas com raiz-forte japonesa, tudo isso sem provocar controvérsia.

No release da Sociedade Universal de Hinduísmo, o presidente da entidade, Rajan Zed, escreveu que Ganesh, o deus que derruba obstáculos, “é profundamente reverenciado no hinduísmo e deve ser adorado em templos e santuários domésticos, não ser comido.”

Mas Stern, cuja figura de Ganesh com quase oito centímetros de altura é vendida por US$ 15, não pretende desistir.

“Todos os ícones espirituais recebem o mesmo tratamento em minha loja”, disse. “São tratados com honra e respeito.”

A questão de se as estátuas de chocolate ofendem os devotos, ou não, divide opiniões.

“Nós, hindus, consideramos o Universo eterno e deus todo-poderoso como um só”, disse Uma Mysorekar, presidente da Sociedade do Templo Hindu da América do Norte, em Nova York. “Portanto, não diríamos que o deus está apenas naquele pedacinho de chocolate. Seria mais correto dizer que, quando o chocolate é comido, o deus retorna a nós —ele está em nosso interior.”

A Coleção Divina da loja também inclui uma figura de dez centímetros da Virgem de Guadalupe. O reverendo Santiago Rubio, pastor da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em Nova York, não gostou de ser informado disso. “Consideramos estátuas e imagens objetos sagrados que nos ajudam a entrar em contato com o divino ou o sobrenatural”, disse. “Convertê-los em mercadorias, em chocolates, não é a melhor opção.”

Mas um porta-voz da arquidiocese católica de Nova York, Joseph Zwilling, recordou um jantar promovido por uma organização católica em que os convidados ganharam figuras da Virgem Maria feitas de chocolate branco. “Acho que não há nada de inerentemente sacrílego nisso”, disse Zwilling, aludindo ao Jesus de chocolate vendido por Lynda Stern. “O que importa é a intenção da pessoa.”

O lama budista tibetano Hun Lye disse que, segundo um texto budista antigo, “Guia ao Modo de Vida do Bodhisattva”, “aqueles que se incomodam quando Buda está sendo insultado não deveriam se considerar discípulos de Buda”. “É o texto favorito do Dalai Lama”, falou. “Mas você provavelmente não verá o Dalai Lama comendo esse chocolate.”

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