Vlasa Mircia, prefeito desse vilarejo pobre no leste da Romênia, achou que tinha tirado a sorte grande quando a Chevron, gigante norte-americana do setor energético, arrendou um terreno sob sua responsabilidade para explorar a perfuração de gás de xisto.

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Não demorou muito, porém, para a coisa toda virar um pesadelo. O vilarejo atraiu ativistas do país todo que se opunham ao fraturamento hidráulico, conhecido como fracking. Houve confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes. O prefeito, que defendia abertamente a empresa, saiu corrido da cidade, no que os militantes explicaram ser um caso típico de Davi contra Golias, ou melhor, a luta entre agricultores miseráveis e a força corporativa norte-americana. "Fiquei chocado de verdade. Nunca tivemos manifestantes em Pungesti antes e, de repente, eles estavam em todo lugar", comenta o líder, já de volta.

Mencionando uma campanha de protestos misteriosamente bem organizada e financiada, as autoridades romenas dizem que a luta contra o fracking na Europa tem um Golias, sim, mas de origem russa, e não norte-americana: é a gigante estatal Gazprom, cujo interesse é impedir que os países dependentes do gás natural russo desenvolvam suprimentos próprios de energia. Essa crença de que a Rússia esteja fomentando os protestos, compartilhada com as autoridades da Lituânia, onde a Chevron também foi alvo de manifestações, não foi comprovada, mas evidências circunstanciais, mais as suspeitas no melhor estilo da Guerra Fria, reforçaram essa apreensão.

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Antes de deixar o cargo de Secretário-Geral da OTAN, em setembro, Anders Fogh Rasmussen, disse: "A Rússia, como parte de suas operações sofisticadas de informação e desinformação, se envolveu ativamente com as ONGs ambientais que combatem a exploração do gás de xisto para manter a dependência dos outros países do gás que fornece".

"Estão fazendo jogo sujo. É aí que se percebe como o serviço secreto deles é bem eficiente", comenta Iulian Iancu, presidente do comitê de indústrias do Parlamento Romeno, que também acredita que a Rússia seja responsável por instigar a oposição contra a extração do gás de xisto.

O que se transformou em uma onda de rejeição ao fracking na Europa Oriental começou há três anos, na Bulgária, país da União Europeia muito mais solidário aos interesses russos que qualquer outro membro. Em face de uma série de protestos dos ativistas, o governo local, em 2012, proibiu o fracking e cancelou a licença de exploração de gás que já tinha concedido a Chevron.

George Epurescu, presidente da Romania Without Them, diz que seu grupo começou a combater o fracking "depois de saber do problema do gás de xisto" através dos ativistas búlgaros.

E rejeita as alegações da interferência russa.

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"É muito fácil: quem puder inserir a Rússia na equação, ganha o argumento", comenta, acrescentando que a Romênia, ao contrário da Bulgária, tem um longo histórico de brigas com o vizinho e jura que seu grupo não recebe ajuda financeira externa, apenas pequenas doações dos próprios integrantes.

A Romênia depende muito menos da energia russa que outros países da região, mas se a produção doméstica crescer drasticamente poderá passar a exportar energia para a Moldávia.

Como a Ucrânia, a nação se viu sob forte pressão, principalmente através dos preços do gás, para se manter dentro da órbita econômica e política da Rússia. "A energia é a arma mais eficaz da Federação Russa hoje em dia, muito mais que caças e tanques", dispara

Victor Ponta, o primeiro-ministro romeno.

A Rússia tem um longo histórico de atormentar os ambientalistas, mas o presidente Vladimir V. Putin declarou, em 2013, que o fracking "representa um problema ambiental enorme. Nos locais em que é praticado nem sai mais água das torneiras, só uma gosma escura."

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Alexander Medvedev, responsável pelo setor de exportação da Gazprom, chegou a afirmar aos europeus que eles jamais conseguirão repetir o sucesso dos norte-americanos em extrair grandes quantidades de gás através do fracking porque a geologia e a densidade populacional do continente são totalmente diferentes.

As previsões iniciais de enormes reservas em lugares como a Polônia estão perdendo força por conta dos resultados decepcionantes nos poços de teste. A Ucrânia, que pensava ter grandes estoques de gás de xisto na região leste, também se decepcionou. Ali, os separatistas pró-Rússia denunciaram o fracking como "um perigo mortal".

O plano de exploração do gás de xisto na Romênia também pode virar fumaça; a Chevron completou a perfuração exploratória em Pungesti, mas não divulgou os resultados ainda.

Enquanto isso, a subsidiária da Gazprom na Sérvia, a Nis, está procurando gás de xisto e petróleo no oeste da Romênia, perto da fronteira sérvia – mas ao contrário do projeto da Chevron do outro lado do país, a iniciativa não causou protestos de massa. Os líderes dizem que a diferença simplesmente reflete o fato de a norte-americana ter feito perfurações exploratórias, ao passo que a Nis só fez o trabalho de pesquisa geológica.