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Brian Williams, suspenso da NBC por observações falsas, no Iraque em 2007 | NBC/
Brian Williams, suspenso da NBC por observações falsas, no Iraque em 2007| Foto: NBC/

O quanto é possível confiar na memória? Muitos acreditam que ela é como uma câmera de vídeo, capturando um registro preciso que pode ser revisto mais tarde. Mas a verdade é que nossas memórias podem nos enganar — e normalmente é isso que fazem.

Vários estudos científicos mostram que as memórias podem desaparecer, mudar ou se distorcer com o passar do tempo. Elas não só podem ser alteradas e enfeitadas, mas algumas completamente falsas podem ser adicionadas em nosso banco de memórias, tão profundamente arraigadas em nossa mente que acabamos nos convencendo de que são reais e que os fatos realmente aconteceram.

A falibilidade e maleabilidade da memória humana estão no centro da recente suspensão de seis meses do ancora do jornal “NBC Nightly News”, Brian Williams. Em 2003, Williams estava aparentemente voando atrás de um helicóptero que foi atingido por uma granada. Porém, com o passar do tempo, a história foi mudando, até o ponto em que ele disse estar no helicóptero atingido.

“Todo mundo está dizendo que ele é um mentiroso e o acusando de tentar deliberadamente enganar a todos, sem no entanto considerar uma hipótese alternativa — a de que ele desenvolveu uma memória falsa”, disse Elizabeth Loftus, da Universidade da Califórnia, em Irvine.

As memórias não são acontecimentos individuais e completos em uma área do cérebro. Elas são fragmentos de informações armazenados em diferentes partes de nossa mente. Com o tempo, quando elas são acessadas, ou quando vemos vídeos sobre o evento ou falamos sobre ele com outras pessoas, a história pode mudar, pois a mente recombina partes da informação e erroneamente as armazenas como memória. Esse processo cria uma nova versão do acontecido que, para quem o narra, parece real.

A literatura científica está cheia de fascinantes estudos de pesquisadores implantando memórias fabricadas, desde as mais simples até as mais estranhas — como ser atacado por um animal feroz, por exemplo, ou até mesmo presenciar uma possessão demoníaca. Um estudo seminal de Elizabeth Loftus implantou falsas memórias de uma criança assustada perdida em um shopping. Após ler a descrição de alguém que se perdeu, cerca de uma em cada quatro pessoas que participaram do estudo acabaram acreditando na falsa memória como algo que de fato lhes ocorreu.

Outro estudo descobriu que os pesquisadores poderiam influenciar o modo com que testemunhas se lembravam de um acidente de carro dependendo do verbo que usassem na pergunta — esmagar, colidir, bater, ou encostar. Os participantes a quem perguntaram sobre a velocidade do carro no momento em que ele foi “esmagado”, disseram que a velocidade dos carros era maior do que quem respondeu à pergunta com o verbo “bater”.

Steven J. Frenda, da New School for Social Research em Nova York, induziu a uma falsa memória de resgate de um gato em uma árvore. Alunos foram aleatoriamente divididos em grupos e tiveram que produzir um texto. Um grupo teve que escrever uma história sobre o resgate; o grupo de controle recebeu outro assunto qualquer. Mais tarde, perguntaram aos dois grupos se eles já haviam resgatado algum gato. Os alunos que escreveram sobre o gato tinham uma chance duas vezes maior de relatar a lembrança desse acontecimento do que os do grupo de controle.

“A memória é um processo reconstrutivo, e pegamos informações de várias fontes”, disse Frenda. “Uma memória falsa pode surgir quando erroneamente consideramos uma informação como memória. Quer você exagere um acontecimento do passado, quer ele seja algo que você experimentou ou presenciou, você pode considerá-lo verdadeiro.”

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