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Andrés Neuman, cujo livro mais recente é ‘‘Falar Sozinhos”, na Espanha | Jesús Granada para The New York Times
Andrés Neuman, cujo livro mais recente é ‘‘Falar Sozinhos”, na Espanha| Foto: Jesús Granada para The New York Times

Com apenas 22 anos, o escritor argentino Andrés Neuman foi ungido por um monstro sagrado, o escritor chileno Roberto Bolaño.

"A literatura do século 21 pertencerá a Neuman e a alguns de seus irmãos de sangue."

O chileno disse que o primeiro livro do argentino, "Bariloche" (1999), o "fascinou" e "hipnotizou" pela incrível fluidez do texto.

Neuman, aquele escritor jovem e promissor, hoje tem 37 anos e já lançou quase 20 livros —de poesia, contos, ensaios e aforismos— que o tornaram um nome de peso na literatura de língua espanhola.

"Falar Sozinhos" (título no Brasil) é o segundo romance de Neuman traduzido para o inglês.

Sua obra anterior é o aclamado "O Viajante do Século" (2012), um ambicioso romance de ideias na tradição europeia, que foi um dos finalistas do Prêmio Literário Internacional Impac-Dublin.

O crítico espanhol Fernando Valls, do jornal "El País", afirmou que Neuman é "o único escritor de sua geração que escreveu um grande romance, não um romance meramente bom".

"O Viajante do Século" se passa após as guerras napoleônicas e conta a história de Hans, um errante solitário que para em Wandernburg, uma cidade fictícia nas fronteiras difusas da Saxônia e da Prússia, para pernoitar.

Hans, porém, tem dificuldade para partir —ainda mais depois de ir a um salão em que a filosofia e a poesia servem de instrumentos para a sedução e inicia um caso amoroso. O romance é repleto de alusões a Kafka, Mann, Borges e Madame de Staël.

"Certa vez alguém disse que a obra era a fusão de ‘Madame Bovary’ com ‘Californication’", comentou Neuman em seu apartamento em Granada, Espanha.

A entrevista foi feita pelo Skype, com o ciclo de canções "Winterreise" [Viagem de Inverno], de Schubert, tocando ao fundo.

O romance é construído em torno da última dessas 24 canções, que fala do errante solitário e de um homem que toca realejo sem parar, embora ninguém escute.

Essas canções eram as favoritas da mãe de Neuman, uma violinista e concertista que morreu enquanto ele trabalhava no romance, o qual é dedicado a ela.

"Cada romance deveria contradizer o anterior", disse Neuman, que muda de estilo em "Falar Sozinhos", um drama familiar pontuado por sofrimentos.

Há três personagens principais — uma mulher, seu marido prestes a morrer e o filho de dez anos — cujas vozes se entrelaçam, criando um todo caleidoscópico.

Nascido em meio às turbulências políticas na Argentina da década de 1970, Neuman deixou Buenos Aires em 1991, aos 14 anos.

Sua infância teve um fim abrupto, quando sua família teve de vender tudo o que tinha em uma liquidação improvisada em casa e pessoas desconhecidas levaram seus brinquedos favoritos.

Com o irmão e o pai, ele embarcou em um avião para Granada, onde sua mãe havia fechado um contrato de um ano para tocar violino na orquestra sinfônica.

Em "Falar Sozinhos", Neuman aborda as experiências de sua família com as agruras da doença e do desterro. Com só 160 páginas, trata-se também de um tributo a histórias clássicas de viagens, desde "A Odisseia", passando por "Dom Quixote" e David Lynch.

Por um ano, sua mãe sustentou a família. Aos 15, Neuman fazia bicos como instalar cortinas, preparar sorvetes e dar aulas de latim.

Na Universidade de Granada, onde estudou filologia, apaixonou-se pela obra de García Lorca e começou a escrever poesia.

Então abandonou sua pesquisa para o doutorado e tornou-se escritor em tempo integral. "Lido com o trauma do exílio através da escrita", disse Neuman.

Ele continua constrangido com seu sucesso literário. "Quando vejo meus livros à venda, acho que é um erro. Tomara que esse equívoco perdure por algum tempo."

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