Arie den Hertog criou uma câmara de gás portátil para matar gansos selvagens na Holanda| Foto: Jasper Juinen/The New York Times

O chiado do gás, liberado por uma alavanca manipulada por Arie den Hertog na traseira da sua van, marcou o início do extermínio. Os animais selvagens, amontoados numa caixa de madeira, gritaram. Apenas dois minutos depois, estavam em silêncio.

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Olhando o cronômetro do seu celular, Den Hertog declarou o fim da operação. “Acabou”, disse sobre o trabalho, realizado próximo ao curso inferior do rio Reno.

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Tratado como nazista por ativistas dos direitos dos animais, mas louvado como herói por agricultores holandeses, Den Hertog, 40, é especialista na prática de exterminar gansos selvagens.

Em sua excursão a Wijk bij Duurstede, vilarejo a sudeste de Amsterdã, ele matou 570 gansos-bravos na sua câmara de gás portátil. Com isso, o total de animais mortos superou 7.000 em uma semana. “Não é divertido, mas precisa ser feito”, disse.

As autoridades concordam. Elas pagam a Den Hertog para que ele impeça a crescente população de gansos de devorar pastos e voar na direção de aviões que decolam do aeroporto Schiphol, em Amsterdã, importante polo aeroviário da Europa.

A população local de gansos disparou por diversos fatores: a proibição da caça (declarada em 1999), o crescente uso de fertilizantes à base de nitrogênio e a expansão das áreas de proteção ambiental. Essa combinação, somada à abundância de rios e canais, fez do país um “Eldorado dos gansos”, na descrição de Julia Stahl, da ONG Sovon, que monitora as populações de aves selvagens nos Países Baixos.

Den Hertog foi contratado pelo governo para matar gansos em 2008, devido ao risco que esses animais acarretavam à aviação. O trabalho deixou Den Hertog na mira dos grupos de defesa dos animais, que já invadiram a sede da sua empresa, atearam fogo a um cômodo e picharam as paredes. Ninguém foi preso.

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Depois disso, Den Hertog instalou câmeras de vigilância na empresa e na sua casa.

Ele espera que o pior já tenha passado, mas ainda se preocupa com as mensagens de ódio que recebe. “Vocês são como os nazistas na guerra”, dizia um recente e-mail apócrifo. “Espero que você tenha uma doença letal e morra lentamente.”

Den Hertog disse que lida com essa agressividade pensando em “todos os agricultores felizes que gostam do que eu estou fazendo”.

As comparações com as práticas nazistas causam tamanho impacto emocional que durante algum tempo os funcionários públicos recuaram do seu apoio aos métodos de Den Hertog.

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Ele calcula que já matou entre 50 mil e 60 mil gansos, sendo mais de 25 mil nos arredores do Aeroporto Schiphol. Todas as aves são doadas a um abatedouro.

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Depois da polêmica envolvendo seus métodos, Den Hertog foi temporariamente proibido de usar o dióxido de carbono. Por isso, precisou abater os gansos a tiros ou marteladas. “Era muito feio, com sangue por todo lado”, disse o agente florestal Hugo Spitzen.

Den Hertog concentra sua atividade em poucas semanas de cada ano, na época em que os gansos perdem suas penas antigas e se tornam incapazes de voar.

“Eu amo os gansos. Eles são muito inteligentes”, disse Den Hertog, acrescentando que na infância tinha fascínio por capturar animais em áreas rurais e que passou anos aperfeiçoando o seu sistema de extermínio. “Estou sempre aberto a sugestões sobre como melhorar seu funcionamento.”

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Colaborou Rosanne Kropman