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O Papa Francisco, que ajudou a mediar o acordo entre os EUA e Cuba, recebendo novos embaixadores | Osservatore Romano
O Papa Francisco, que ajudou a mediar o acordo entre os EUA e Cuba, recebendo novos embaixadores| Foto: Osservatore Romano

Um dia depois de receber os créditos pela intervenção na reaproximação diplomática histórica entre Cuba e os EUA, o Papa começou os trabalhos recebendo um novo grupo de enviados ao Vaticano e distribuindo conselhos.

"O trabalho de um embaixador está nos pequenos detalhes, nos pequenos passos, mas sempre acabam obtendo a paz, aproximando os corações das pessoas, semeando a fraternidade. É esse o seu trabalho, mas ele reside nos detalhes mínimos", ensina.

Se o Vaticano pratica essa diplomacia discreta e metódica há tempos, o que mudou sob o comando de Francisco foi a opção pela ousadia e a disposição de inserir a Igreja nas disputas diplomáticas.

Depois de escrever cartas secretas aos presidentes Obama e Raúl Castro, ele se ofereceu para sediar um encontro sigiloso e crucial entre as duas partes em outubro.

A comparação que muitos analistas fazem agora é com João Paulo II. Se os dois religiosos nem sempre dividem a mesma ideologia, como homens descobriram o uso do papado na era da mídia global e o poder da biografia pessoal para ajudar a posicionar o Vaticano como mediador neutro.

Da mesma forma que o primeiro pontífice polonês conquistou uma credibilidade única ao condenar o comunismo na Europa Oriental, Francisco, o primeiro latino-americano a se tornar Papa, obteve uma posição ímpar nos países em desenvolvimento.

"Seus elementos são muito semelhantes aos de João Paulo. O papado hoje é um dos grandes formadores de opinião mundiais", afirma Francis Campbell, ex-embaixador britânico na Santa Sé.

Francisco herdou impasses antigos, incluindo um com a Arábia Saudita, mas principalmente com a China, com ambas as partes querendo o controle sobre as ações dos bispos daquele país, que sanciona a Igreja Católica em seu território.

O tema é tão delicado que Francisco, aparentemente para evitar ofender os chineses – que veem o líder espiritual tibetano como um inimigo – se recusou a se encontrar com o Dalai Lama.

Em menos de dois anos no cargo, porém, já viajou para o Oriente Médio, a Turquia, Coreia do Sul, Brasil, Albânia, França e a ilha italiana de Lampedusa, onde chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes. No mês que vem irá a Sri Lanka e às Filipinas e, em março, fará sua primeira visita aos EUA.

Francisco também alterou a burocracia do Vaticano, nomeando diplomatas para cargos vitais – principalmente seu braço direito, o Secretário de Estado Pietro Parolin, um cardeal italiano que liderou negociações delicadas com o Vietnã e serviu como núncio apostólico na Venezuela. No geral, o trabalho dos dois é considerado uma verdadeira parceria – o Papa carismático e o diplomata metódico.

"Esse Papa governa junto com o Secretário de Estado; não o deixa agir separadamente ou de forma independente como antes", diz Paolo Rodari, especialista do jornal italiano La Repubblica. E acrescenta: "Francisco foi rápido em consolidar uma relação cordial com os líderes mundiais, mas a verdade é que ele é bom nisso".

Antigamente o Vaticano era visto pelo mundo não-ocidental como aliado dos EUA e Europa; sendo argentino, porém, Francisco procura sempre se colocar em uma posição mais neutra. Criticou a perseguição dos cristãos no Oriente Médio, sim, mas se mostrou solidário aos muçulmanos pela percepção negativa da qual geralmente são vítimas.

Ao cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana, foi atribuída a difícil tarefa de defender a Igreja contra a perseguição do governo, inclusive mantendo contato com as autoridades cubanas.

Foi Francisco, entretanto, que ajudou os dois líderes a selarem a questão. De acordo com o analista Marco Politi, Francisco levou a Santa Sé de volta ao cenário internacional.

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