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O BJP conquistou uma vitória arrasadora na eleição em maio, mas desde então Modi vem mantendo discrição | Kuni Takahashi para The New York Times
O BJP conquistou uma vitória arrasadora na eleição em maio, mas desde então Modi vem mantendo discrição| Foto: Kuni Takahashi para The New York Times

Nos meses que antecederam as eleições parlamentares da primavera, os indianos olharam para Narendra Modi e enxergaram o que queriam enxergar. Os hindus de direita viram um guerreiro cultural. Os eleitores da classe trabalhadora viram um "outsider" incorruptível. Os industriais acreditavam que teriam um partidário no governo. E intelectuais públicos em Nova Déli enxergaram em Modi um reformista econômico que adotaria medidas ousadas.

Quando o verão chegou, ouviu-se o primeiro coro de desapontamento vindo dos defensores de mudanças radicais, incluindo alguns que atuaram como assessores econômicos na campanha.

O que eles esperavam não estava acontecendo. O governo de Modi apresentou seu primeiro orçamento em 10 de julho, com cobertura televisiva entusiasmada. Mas o orçamento não trouxe nada que pudesse ser descrito como iniciativa ousada, como a suspensão dos limites aos investimentos estrangeiros diretos, a revogação dos subsídios pagos pelo governo anterior ou dos impostos cobrados de transações retroativamente, o que sempre afastou investidores.

Boa parte do orçamento sugeriu que Modi tinha decidido modificar, não eliminar, as medidas econômicas do governo anterior, liderado pelo Partido do Congresso —uma surpresa para quem tinha ouvido seus ataques virulentos durante a campanha. Modi fez muito poucas modificações ao alto escalão da burocracia nomeada pelo Partido do Congresso, tendo mais notavelmente estendido o mandato do secretário de gabinete Ajit Seth, que estava previsto para aposentar-se em junho e é o funcionário de mais alto escalão.

"Este é um governo que chegou cercado de esperança, navegando uma onda de altas expectativas e prometendo transformações", escreveu em coluna no "India Today" o economista Bibek Debroy, que assessorou Modi durante a campanha. "Agora um clima de tédio se instalou."

Pratap Bhanu Mehta, presidente do Centro de Pesquisas sobre Políticas Públicas, escreveu no "India Express" que o governo de Modi desperdiçou seu período de "lua de mel" "com uma combinação esdrúxula de ninharias, detalhes burocráticos sem importância, álibis, aversão ao risco e política sigilosa".

Narendra Modi está mostrando ser um líder discreto. Consta que tem passado muitas horas em reuniões com burocratas sêniores, procurando identificar gargalos e obstáculos regulatórios que mantêm obras infraestruturais no limbo há anos. Essa atitude condiz com a que ele teve quando foi ministro-chefe do Estado de Gujarat. Nos dois ou três primeiros anos, enquanto trabalhava intensivamente com a burocracia, ele "sumiu das primeiras páginas", contou o colunista destacado Ashok Malik, que apoiou a campanha de Modi.

Para ele, Modi "tem um pouco de estudante". Ele disse que o líder ainda está "encontrando sua base de apoio".

Um argumento em favor da paciência é que, apesar de ter conquistado uma maioria na câmara baixa do Parlamento, Modi ainda não consolidou poder suficiente para poder impor políticas econômicas coerentes. Seu Partido Bharatiya Janata ainda tem a esperança de conquistar o governo de vários Estados importantes nos próximos meses, algo que será necessário para que possa avançar na câmara alta do Parlamento. Assim, pode ser mais seguro adotar mudanças em 2015, durante o período entre eleições.

"Foram apenas dois meses de governo até agora", disse Malik. "Se ele ainda estiver fazendo a mesma coisa depois de oito meses, isso sim será motivo de preocupação."

Colaboração de Neha Thirani Bagri, em Mumbai

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