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 | CARl wiens
| Foto: CARl wiens

Pouco depois dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, enquanto o mundo ainda enfrentava as consequências do espectro da energia nuclear, um empresário chamado Roger Babson se preocupava com outra força da natureza: a gravidade.

Cinquenta e cinco antes, sua irmã Edith se afogara num rio do Massachussetts, quando, na descrição que Babson faria mais tarde, a gravidade "subiu, a agarrou como um dragão e a arrastou para o fundo". Mais tarde esse dragão também levaria seu neto, quando ele tentou salvar um amigo num acidente de barco. Alguma coisa precisava ser feita.

"Parece que é preciso descobrir algum isolador parcial da gravidade que possa ser empregado para salvar milhões de vidas e prevenir acidentes", Babson escreveu num manifesto. Em 1949, aproveitando sua fortuna, ele criou a Fundação de Pesquisas da Gravidade e começou a conceder prêmios anuais em dinheiro para as melhores ideias novas que ajudassem a fomentar sua causa.

A causa acabou revelando ser impossível. Quando foram anunciados os prêmios de 2014, em maio deste ano, a fundação já não tinha a esperança de contrapor-se à gravidade —ela forma a arquitetura do espaço-tempo—, mas de entendê-la melhor. Algo que começou como um esforço excêntrico passou para o domínio da ciência reconhecida. Ao longo dos anos o prêmio já foi dado a cientistas como Stephen Hawking, Freeman Dyson e Roger Penrose.

Com sua teoria da relatividade geral, Einstein descreveu a gravidade com uma elegância que ainda não foi superada: uma massa como o Sol faz o Universo se curvar, levando massas menores, como os planetas, a se moverem na direção dela. O problema é que as outras três forças da natureza são descritas de modo inteiramente diferente, pela mecânica quântica. Nesse sistema, as forças são transmitidas por partículas. Os fótons, o exemplo mais conhecido, são os portadores da luz. Para muitos cientistas, o prêmio máximo seria a prova de que a gravidade é transmitida por grávitons, permitindo que ela se enquadrasse com o resto da máquina.

Após quase um século de tentativas, o melhor que os físicos puderam propor é a teoria das supercordas, um modelo matemático coerente com ele mesmo mas possivelmente vazio que depende da existência de dimensões adicionais e deixa entender que nosso universo é um entre uma multidão de outros, sendo cada um impossível de ser conhecido pelos outros.

Até agora os grávitons fugiram do alcance dos melhores detectores científicos. Numa palestra recente, Dyson sugeriu que a busca por eles talvez seja inútil, já que exigiria um instrumento com espelhos tão maciços que eles desabariam e acabariam por formar um buraco negro.

O primeiro prêmio de gravidade deste ano, de US$ 4 mil (R$ 8.800), foi dado a Lawrence Krauss e Frank Wilczek, este ganhador do Nobel. Em seu artigo, Krauss e Wilczek sugerem como os grávitons talvez deixem sua marca na radiação cósmica de fundo, o fulgor remanescente do big bang.

Em "The Perfect Theory" (a teoria perfeita), um novo livro sobre a relatividade geral, o astrofísico de Oxford Pedro G. Ferreira conta como um jovem teórico, Bryce DeWitt, precisando dar a entrada para a compra de uma casa, inscreveu-se no concurso da Fundação de Pesquisas da Gravidade em 1953 com um artigo mostrando por que a tentativa de criar um artefato que combatesse a gravidade seria "uma perda de tempo".

DeWitt ganhou o prêmio e acabou por tornar-se um dos mais destacados teóricos da relatividade geral.

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