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 | Uli Seit para o jornal The New York Times
| Foto: Uli Seit para o jornal The New York Times

On-line: Uma mãe de elite

Atleta explica por que treina durante a gravidez:nytimes.com Busque Clara Peterson

Quando Paula Radcliffe ganhou a Maratona de Nova York em 2007, nove meses após dar à luz uma filha, Isla, ela era considerada uma anomalia. Seu treinamento intenso durante a gravidez, que incluiu sessões duas vezes por dia e exercícios extenuantes, foi examinado e criticado.

Sete anos mais tarde, manter a carreira de corredora e a família tornou-se algo relativamente comum. Cerca de um terço das profissionais de 31 anos que participou da Maratona de Nova York, realizada em novembro, tem filhos.

"Eu vi Paula vencer em Nova York, basicamente liderando do começo ao fim, e depois pegar seu bebê no colo. Percebi que podia fazer as duas coisas. E quero fazer as duas coisas", disse Kara Goucher, maratonista americana de ponta.

Kara, de 36 anos, terminou em terceiro na Maratona de Nova York de 2008 e correu a de 2014 com seu filho de 4 anos de idade, Colt, pela primeira vez na torcida. Ela terminou em 14º.

Quando pensou em ter um filho, Kara adotou estratégias comuns das atletas de elite, que consideram com precisão o momento de engravidar para não se arriscar a perder uma medalha olímpica ou um patrocínio.

O pico da forma física dessas atletas concorre com o pico de fertilidade, e hoje as corredoras de elite se mantêm na ativa até quase seus 40 anos, por isso a decisão de combinar a maternidade e o treinamento tornou-se cada vez mais inevitável.

"Sempre quis ter um filho e não queria esperar, porque não sei quando será o fim da minha carreira", disse Kara.

As atletas de elite muitas vezes tentam encaixar a gravidez e a recuperação no intervalo de 16 meses entre campeonatos mundiais nos anos sem Jogos Olímpicos. O número de atletas grávidas foi alto em 2014, um como esse.

Licença maternidade nessa área é rara. A gravidez ainda é tratada como se fosse uma lesão, e as atletas podem não receber nada caso não participem de competições por seis meses. Por serem autônomas, elas não são cobertas pelas leis que protegem as mulheres na gravidez.

O fato de que muitos parecem ter uma opinião sobre o assunto não ajuda muito. Depois que Alysia Montaño, atleta olímpica de 2012, participou de uma corrida de 800 metros em junho durante seu oitavo mês de gravidez, o fato tornou-se objeto de intenso escrutínio público.

"Eu queria ajudar a esclarecer o estigma em torno do exercício durante a gravidez, algo que realmente me espanta. As pessoas às vezes agem como se a gravidez fosse uma sentença de morte de nove meses, como se fosse preciso passar o dia de cama. Queria ser um exemplo para as mulheres que começam uma família ao mesmo tempo em que mantêm sua carreira, qualquer que seja" disse Alysia.

Sua filha nasceu em agosto. "Dar à luz é uma atividade muito atlética, como etapas de uma corrida. Como nas contrações, as etapas podem começar fáceis e vão ficando mais difíceis. Às vezes, em alguns momentos, você se pergunta, ‘Dá para avançar um pouco mais?’ Mas você sabe que vai em frente. Até chegar ao final", disse Alysia.

Outras mulheres escolheram caminhos diferentes. Clara Horowitz Peterson, ex-atleta de ponta da Universidade Duke, na Carolina do Norte, queria começar sua família por volta de seus 25 anos, para poder se dedicar à corrida depois. Agora com 30 anos, ela está grávida de seu quarto filho.

"Acho que se eu tivesse treinado pesado poderia ter ido às Olimpíadas", disse Clara, que normalmente corre entre 130 e 145 quilômetros por semana quando não está grávida. "Mas é sacrificado; você põe sua carreira em primeiro lugar, e quando percebe já está com 28 anos e talvez enfrente problemas de fertilidade. Sempre achei que ter filhos era mais importante para mim do que minha carreira."

Mesmo assim, Clara correu até o nascimento dos seus três primeiros filhos. Ela se qualificou para as eliminatórias da maratona olímpica dos Estados Unidos de 2012, apenas quatro meses depois do parto de seu segundo filho, e fez o tempo de 2 horas e 35 minutos na corrida, quatro meses mais tarde.

Para entrar em forma para as eliminatórias, disse Clara, ela amamentou seu segundo filho por apenas cinco semanas — pois achava que os hormônios relacionados ao aleitamento materno a faziam se sentir lenta.

A compreensão da resiliência física da mulher durante e após a gravidez também se desenvolveu nos últimos anos.

"Ainda não temos muitos dados para nos guiar", disse o Dr. Aaron Baggish do programa de desempenho cardiovascular do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, que acompanha as atletas de elite durante a gravidez.

"Mas certamente, acho que as mulheres devem se exercitar durante a gravidez, para o bem do bebê e para seu próprio bem. O corpo evoluiu dessa forma. Seu nível de condicionamento físico básico é a melhor orientação: atletas de elite têm um limite superior, então podem fazer mais."

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