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Michael Chow, com uma escultura de si mesmo na inauguração de “Voice for My Father”, voltou à arte depois de um jejum de 50 anos | Zhenyu Mao/Centro Ullens de Arte Contemporânea
Michael Chow, com uma escultura de si mesmo na inauguração de “Voice for My Father”, voltou à arte depois de um jejum de 50 anos| Foto: Zhenyu Mao/Centro Ullens de Arte Contemporânea

Fora da China, ele é mais conhecido como o dono da Mr. Chow, cadeia de restaurantes chineses de luxo e ponto de encontro de artistas e celebridades em Londres, Nova York, Beverly Hills, Miami e Malibu.

Porém na China, sua terra natal, Michael Chow é famoso para muitos por ser filho do venerado Zhou Xinfang, mestre da ópera de Pequim e fundador do estilo Qi que foi torturado durante a Revolução Cultural, nos anos 60, e acabou morrendo em 1975, após anos de prisão domiciliar.

Exonerado politicamente, hoje ele é reverenciado pela instituição cultural oficial — e enquanto o país comemora o que seria seu 120« aniversário, seu filho lhe fez uma homenagem mais pessoal, na forma da exposição “Voice for My Father”.

É a primeira vez que Chow exibe na China. Aos doze anos, em 1952, ele foi mandado para a Inglaterra, para estudar em um colégio interno e, mais tarde, se dedicar às artes no Central St. Martins, em Londres. Depois de muito batalhar para ter sucesso, se voltou para um negócio que tinha uma clientela bem mais receptiva na capital inglesa: a comida chinesa. Há três anos, Chow, hoje com 75, voltou a se dedicar à arte depois de um jejum de meio século, pintando sob seu nome chinês, Zhou Yinghua.

Além das obras do próprio Chow, a mostra inclui retratos reunidos em sua vasta coleção pessoal, feitos por nomes como Andy Warhol, Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Em exposição também está uma seleção de imagens de arquivo de Zhou, que compôs mais de 200 óperas e encarnou cerca de 600 personagens durante uma carreira próspera de 60 anos.

“Para mim, pessoalmente, essa exposição preenche um vazio. Há muito tempo, quando eu tinha doze anos, cheguei à Inglaterra. Tinha perdido tudo, literalmente. Nunca mais vi meu pai, nem falei com ele. Nem soube de sua morte trágica durante a Revolução Cultural”, afirmou Chow em entrevista concedida durante a inauguração da exibição.

Resultado de uma combinação de técnicas, inclusive tinta atirada e colagem, as obras são um exercício do que Chow chama “acidente controlado”.

Só olhando bem de perto é que se notam os detalhes: gema de ovo preservada na resina; um pedaço de ouro no valor de US$14 mil; unhas antigas e uma nota de US$100 em um saco plástico cercado de tinta seca.

“Na colagem você consegue reunir coisas que não deveriam estar juntas, muito semelhante com o que acontece na minha vida”, diz o artista. Fica bem claro que Chow se inspirou em décadas de conversas e experiências.

“Os artistas mais jovens trabalham de forma bem consciente no sentido em que tentam se posicionar num tipo de narrativa artística e histórica; já no caso dele, a coisa é mais real. Absorveu várias influências com as quais conviveu bastante tempo”, afirma Philip Tinari, diretor do Centro Ullens de Arte Contemporânea em Pequim.

“Chegar a essa fase da vida e ter essa nova forma de escape, para ele deve ser totalmente liberador”, acrescentou.

Na manhã do dia seguinte à recepção de inauguração, na frente de suas pinturas, Chow admitiu que estava cansado. Tinha chegado à China há duas semanas. Entretanto, a sensação de poder levar sua arte de volta à terra natal durante “meados do terceiro ato” de sua vida é incomparável.

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