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A campanha eleitoral tem elementos dignos de um romance de Le Carré: traições, alegação de documentos secretos roubados e intrigas.

O que está em jogo não é a liderança de um país, mas a presidência de uma organização obscura que preside a Federação Mundial de Xadrez. O órgão supervisiona os campeonatos internacionais de xadrez e controla torneios e contratos de patrocínio de milhões de dólares.

Os principais personagens também parecem tirados da ficção. Há um ex-campeão mundial de xadrez —hoje um líder da oposição russa—, um ex-presidente de uma obscura república russa que acredita que foi abduzido por extraterrestres e um ex-fotógrafo de moda.

A última intriga gira ao redor das alegações de corrupção contra dois candidatos à presidência da entidade, o ex-campeão Garry Kasparov e o atual presidente e suposto refém de alienígenas, Kirsan Ilyumzhinov.

Kasparov há muito tempo critica Ilyumzhinov, dizendo que suas estranhas crenças e sua amizades com líderes mundiais polêmicos —incluindo Saddam Hussein, Muammar Gaddafi e Bashar al Assad— prejudicam a credibilidade da federação. Ele e outros há muito acusam Ilyumzhinov de corrupção.

Mas nunca houve qualquer prova até recentemente, quando um memorando vazou para o jornal "Sunday Times", de Londres. No documento, Ilyumzhinov e o ex-fotógrafo de moda Andrew Paulson concordavam em dividir os lucros de uma nova companhia criada para organizar os maiores eventos mundiais de xadrez.

A Federação de Xadrez, controlada por Ilyumzhinov, havia concedido à companhia um contrato em 2012 pelos direitos de organizar, encontrar patrocinadores e comercializar o campeonato mundial de xadrez, a Copa do Mundo e o Grande Prêmio durante 11 anos. Os direitos valem potencialmente milhões de dólares.

Segundo o memorando, Paulson administraria a empresa, chamada Agon, e possuiria 49%, e Ilyumzhinov ficaria com 51%. Os dois admitem que o contrato publicado on-line é real, mas dizem que ele nunca entrou em vigor e que Ilyumzhinov nunca se tornou um proprietário.

O contrato não tinha sido aprovado pelo conselho. O vice-presidente da federação, Georgios Makropoulos, disse em uma declaração que o acordo foi "apenas uma de várias propostas" e que havia sido rejeitado.

Paulson disse que queria que Ilyumzhinov possuísse uma participação na companhia para garantir que a federação tentaria trabalhar com a Agon. "O conflito de interesses de um homem é o alinhamento de interesses de outro", escreveu em um e-mail.

Ele denunciou que o contrato tinha sido roubado por um ex-empregado que foi contratado pela campanha de Kasparov.

Paulson disse que nunca teve uma aliança com Ilyumzhinov e que ainda está pensando em disputar a presidência, pois acha que Ilyumzhinov deve ser substituído, mas não por Kasparov.

Kasparov chamou o acordo de "abuso de poder" e conflito de interesses. "Aquelas assinaturas falam mais efetivamente que suas milhares de palavras de negações e ataques", disse ele.

Um esboço do contrato que vazou, entre Kasparov e Ignatius Leong, o secretário-geral da federação, mostra o que parece ser um esquema de compra de votos para a eleição presidencial da federação, em agosto próximo. O pagamento total dependia da eleição de Kasparov, com Leong prometendo entregar no mínimo 11 votos de sua região.

Esses escândalos afastam potenciais patrocinadores, segundo Fridrik Olafsson, ex-presidente da federação. "Minha impressão é de que as empresas não querem chegar perto do xadrez porque sentem que é corrupto. Deveria ser possível endireitá-lo, mas a corrupção é muito forte."

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