| Foto: Bob De Braey

Quando o teórico literário da Universidade Yale Paul de Man morreu, em 1983, foi saudado como o brilhante professor que ajudou a converter a desconstrução, a abordagem crítica originada por Jacques Derrida, em uma força na vida intelectual americana. Quatro anos mais tarde, porém, a descoberta de que na Bélgica sob ocupação nazista De Man tinha escrito artigos para um jornal colaboracionista —incluindo um texto de 1941 com reflexões sobre o impacto que a literatura sofreria se os judeus fossem transferidos para uma colônia— foi recebida como uma bomba. Os críticos da desconstrução aproveitaram para argumentar que uma escola de pensamento vista havia muito tempo como pouco mais que "terrorismo crítico" cult era algo ainda mais sinistro que isso.

CARREGANDO :)

A primeira biografia extensa de De Man ameaça reabrir a discussão sobre o legado dele, reunindo acusações para retratá-lo como colaboracionista, estelionatário, falsificador, bígamo e trapaceiro cujas ideias filosóficas nasceram dos "hábitos de sigilo que ele cultivou ao longo da vida". "The Double Life of Paul de Man", de Evelyn Barish, 78, gerou uma espécie de reação dupla. A Kirkus Reviews considerou o livro "uma biografia fascinante" de um "mestre vigarista". Mas alguns acadêmicos e antigos colegas de De Man veem o livro como um esforço atrasado e duvidosamente documentado de flagrar o intelectual em seus momentos de fraqueza.

Especialista no transcendentalismo americano do século 19, Barish conheceu De Man por alto em meados dos anos 1960, quando ambos faziam parte do corpo docente da Universidade Cornell, em NY. Quando o escândalo eclodiu, em 1987, ela ficou chocada com os textos de jornalismo escritos por De Man durante a guerra e intrigada pelas acusações feitas —mas não substanciadas— por um antigo associado belga de De Man. Segundo ele, De Man não era apenas um "resenhista literário dúbio", mas também empregado bem pago de várias editoras colaboracionistas, além de ser a força motriz de um projeto de revista de arte que faria o elogio da ideologia nazista.

Publicidade

Depois da guerra, as autoridades se negaram a processá-lo por colaboração com os nazistas, após um interrogatório cuja documentação Barish disse ter sido a primeira a descobrir. Mas ela encontrou a documentação de um julgamento de 1951 em que De Man —que tinha partido para a América em 1948— foi sentenciado a cinco anos de prisão por fraude em conexão com sua empresa editora, a Hermès, fundada no pós-guerra. Barish descreve a empresa como um complexo esquema voltado para o enriquecimento de De Man.

De acordo com ela, o início de carreira de De Man nos EUA foi arcado por problemas. Como instrutor no Bard College, no Estado de Nova York, entre 1949 e 1951, De Man se indispôs com colegas, acumulou dívidas e se tornou bígamo ao casar-se com uma estudante, abandonando sua mulher belga e os filhos deles. Em Harvard, onde De Man se destacou como doutorando, Barish o mostra falsificando seu currículo, evitando fazer exames e, em 1954, mal explicando alegações anônimas sobre seu passado.

Peter Brooks, ex-colega de De Man em Yale, hoje na Universidade Princeton, descreveu o livro de Barish como "às vezes fascinante", mas o criticou por retratar o início de carreira de De Man nos EUA como parte de um longo esforço de enganação, em vez de ser o início de uma empreitada intelectual séria. "Não estou dizendo que o passado deva ser esquecido", disse Brooks, que escreveu a resenha "The Double Life of Paul de Man" para o "New York Review of Books". "Mas não ele deve invalidar todo seu pensamento." O veredicto de Barish sobre a filosofia de De Man —"essa ideia de que o significado não pode ser definido" e que "julgamentos morais claros são impossíveis", nas palavras dela— é inequívoco. "É uma perda de tempo", disse. Para os admiradores do trabalho de De Man, esse trabalho não foi uma niilista fuga da verdade, mas um exame da instabilidade do discurso subjacente às nossas afirmações mais amplas de sentido. "Ele levou as pessoas a ficar mais atentas para a linguagem e as maneiras estranhas em que ela se comporta", disse Brooks. "Converteu quem o leu em leitores melhores."