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Protesto em Teerã exigiu punições mais severas para mulheres que violam as leis islâmicas e não usam roupas comportadas | hamed jafarnejad/fars news
Protesto em Teerã exigiu punições mais severas para mulheres que violam as leis islâmicas e não usam roupas comportadas| Foto: hamed jafarnejad/fars news

Motoristas buzinavam freneticamente em seus carros, enquanto homens e mulheres vestidas com o chador preto brandiam os punhos ao abrir caminho pelo intenso tráfego matutino, esbravejando para que o governo prenda mulheres que não estejam devidamente cobertas.

"A corrupção e a imoralidade engoliram a nação", disse uma mulher, Shala Mousavi, a um repórter da rede de TV estatal iraniana. "Somos forçados a agir".

Os manifestantes tomaram a praça Fatemi, no centro da cidade, desafiando a proibição governamental a protestos não autorizados previamente.

Agentes da polícia ficaram de prontidão em meio aos manifestantes que bloquearam o trânsito para exigir medidas mais duras contra mulheres que desrespeitem o código de vestimenta islâmico do Irã, principalmente agora que o verão está chegando no país.

Em termos numéricos, o protesto sobre o código de vestimenta, organizado por um seminário xiita em Qom, foi insignificante.

Mas o fato de a manifestação ter sido permitida levou muitos a concluírem que forças poderosas estão conspirando para minar as frequentes promessas do presidente Hasan Rowhani de conceder mais liberdades individuais.

Essa frente na longa guerra cultural entre os radicais e os reformistas do Irã se concentrou em um dos pilares da Revolução Islâmica: o véu para as mulheres.

Todas as mulheres no Irã são obrigadas a, em público, cobrir a cabeça e usar um casaco, de preferência até um pouco acima do joelho, incluindo dignatárias e turistas estrangeiras.

O Estado não determina formas exatas, cores ou tamanhos para os véus e casacos, por isso muitas iranianas criaram conjuntos combinando casacos apertados e echarpes fluorescentes do tamanho de um lenço, de onde mechas de cabelo caem em cascata.

Os radicais frequentemente acusam algumas mulheres de "perambular pelas ruas praticamente nuas". As roupas ocidentais também são desconfortáveis, disse um importante aiatolá.

"Vestindo roupas apertadas, algumas não podem sentar ou ficar em pé facilmente. Tais vestidos são prisões, e não roupas", disse Naser Marakem Shirazi em um comunicado. "Nossa cultura de vestimenta precisa ser mudada."

O Estado promoveu debates com clérigos na televisão para tentar convencer as mulheres a se cobrirem totalmente, destacando que a exposição de mechas pode levar a "depravações morais".

Recentemente, apareceram em Teerã cartazes mostrando a iguaria nacional do país, o pistache, com um texto dizendo que tudo o que é bom vem embrulhado numa casca, assim como o véu, o "hijab".

"Mas isso não está funcionando", disse uma mulher durante o protesto, fazendo referência à abordagem educacional em relação ao "hijab". "Todo verão, os ‘hijabs errados’ aparecem de novo. É simplesmente terrível."

Masoumeh, como ela se identifica, e algumas amigas do seu bairro, Yaftabad, alugaram um ônibus para irem à manifestação "a fim de acabar com essa situação".

Enquanto ela falava, um homem calvo, contrário ao protesto, aproximou-se e disse: "Deixem-nos em paz. Tenho vergonha de que você seja iraniana", e foi embora.

"Que você fique careca para sempre", retrucou ela, fazendo suas amigas caírem na gargalhada.

A solução, "infelizmente", segundo Masoumeh, é dar plenos poderes à polícia da moralidade.

Diante de uma sociedade em transformação, onde mais pessoas estão focadas em direitos individuais do que em tradições, o Judiciário do Irã e a polícia criaram em 2005 a "Gashte Ershad", ou patrulha de orientação, para fazer valer o código de vestimenta.

Há anos esses agentes abordam mulheres que não estariam devidamente trajadas. Seus pais, maridos e irmãos precisam ir à delegacia para que sejam liberadas.

Durante sua campanha, em junho, Rowhani prometeu retirar essas odiadas forças das ruas.

Em visita a uma feira de livros, quando Rouhani disse que "pessoas cultas não precisam de orientação", Ismael Ahmadi Moghaddam, comandante da polícia, respondeu que "as pessoas incultas é que precisam de orientação".

No dia seguinte, a polícia da moralidade apareceu. Há indícios, porém, de que os radicais podem ter um verão difícil pela frente. Uma nova página do Facebook traz fotos de iranianas sem seus lenços, em passeios turísticos.

Mais de 135 mil pessoas curtiram a página "Liberdades Furtivas de Mulheres Iranianas" nos seus primeiros nove dias no ar.

Os administradores da página são anônimos, e a foto da capa, no topo da página, diz "Somos apenas nós mesmas".

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