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Placa no túmulo de Vladislav Barakov informa que ele morreu em 24 de agosto, porém não diz onde e como | James Hill PARA The New York Times
Placa no túmulo de Vladislav Barakov informa que ele morreu em 24 de agosto, porém não diz onde e como| Foto: James Hill PARA The New York Times

Em um cemitério perto deste vilarejo, uma bandeira preta exaltando a potência militar das forças russas equipadas com tanques ondula acima da sepultura recém-cavada do sargento Vladislav A. Barakov.

Além de uma foto do soldado de rosto infantil e uniforme completo sobre uma cruz, a sepultura tem uma pequena placa citando 24 de agosto como o dia de sua morte. Ele tinha apenas 21 anos.

O que a placa não menciona e ninguém quer comentar é como e onde o sargento morreu: dentro de um tanque que foi destruído quando ele foi enviado para lutar na Ucrânia, onde líderes russos têm descrito sua atuação como mediadores da paz.

Barakov, que servia na Sexta Brigada de Tanques russa, está entre as centenas de soldados russos mortos em ação neste verão.

Os corpos foram entregues nos últimos dias aos entes queridos que não tinham ideia de onde lutavam, receberam poucas informações sobre como morreram e são pressionados a não falar sobre isso.

Algumas famílias foram inclusive ameaçadas de não receber qualquer indenização se comentassem sobre o assunto.

"Nós somos pessoas simples", disse o tio de Barakov, que não quis se identificar, quando instado a dar detalhes sobre a morte do sobrinho. "Você, que é da imprensa, tem mais condições que nós para descobrir o que aconteceu."

Grande parte das informações sobre tropas russas na Ucrânia é dada pelos próprios soldados, que fazem postagens nas mídias sociais sobre seus deslocamentos e as mortes durante os combates.

Embora seu discurso tenha ruído, o Kremlin continua empenhado em manter tudo encoberto. Há porém, ao menos três bases de dados que mapeiam os soldados russos mortos ou feridos na Ucrânia.

"Aparentemente, há uma ordem tácita para negar perdas e esconder sepulturas", disse Lev Shlosberg, um legislador regional que foi espancado e hospitalizado no após passar a documentar as mortes de soldados.

A cidade, no noroeste da Rússia, é sede da célebre 76° Divisão Aerotransportada da guarda Tchernigovskaia, de Pskov.

"Muitos funerais são feitos de madrugada ou no início da manhã, para haver poucas testemunhas, acrescentando vergonha ao sofrimento das famílias", afirmou Shlosberg. "Elas estão até dispostas a ir à guerra, mas se sentem humilhadas com os funerais."

O Kremlin admite apenas que alguns "voluntários" russos foram para a Ucrânia. Os corpos de soldados também evidenciam um quadro mais amplo da intervenção da Rússia em prol dos separatistas que se opõem a Kiev.

Os mortos serviam não só em forças de elite, como aquelas que lideraram a incursão na Crimeia, mas também em unidades de paraquedistas, de defesa aérea ou de infantaria, e em brigadas de rifles motorizadas ou blindadas.

Os cadáveres começaram a minar o discurso oficial do Kremlin no início de junho, quando uma primeira carga de voluntários russos mortos que lutavam na Ucrânia chegou de volta em um caminhão com cruzes vermelhas e um "200" rabiscado nas laterais.

A referência era à "Carga 200", uma expressão originalmente ligada ao peso de caixões de zinco usados para trazer soldados mortos do Afeganistão, que agora designa baixas militares em geral.

Ficou mais difícil para o governo russo negar as evidências em agosto, quando tropas do Exército russo foram enviadas para salvar os rebeldes da derrota.

Uma dessas unidades era a Sexta Brigada de Tanques do sargento Barakov, que normalmente fica baseada em Mulino, a 360 quilômetros a leste de Moscou.

Em 15 de agosto, quando a brigada recebeu a ordem de ir para a fronteira com a Ucrânia, o soldado Sergey Rusakov postou a notícia no VKontakte, o Facebook russo, insinuando que queria desistir.

Na semana seguinte, a unidade integrou um comboio enviado à Ucrânia e, em 24 de agosto — dia em que o sargento Barakov foi morto —, um porta-voz dos militares ucranianos, Andriy Lysenko, disse que pelo menos dois tanques russos foram destruídos.

Em Selizovo, Aleksandr, o irmão mais velho de Barakov, disse que a família foi vagamente informada de que o sargento fora morto em treinamento, mas negou que o irmão tenha estado na Ucrânia.

Dmitry Gorbachyov, outro soldado da Sexta Brigada de Tanques, que postou fotos de Barakov e de Rusakov no VKontakte, indica que a verdade é diferente.

"Essa guerra os levou, mas vocês estarão sempre em nossos corações", escreveu Gorbachyov.

Colaborou Andrew Roth, em Moscou

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