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“Beauté Congo”, na Fundação Cartier em Paris, inclui Chéri Samba com “Sim, Devemos Pensar” | André Morin /The New York Times
“Beauté Congo”, na Fundação Cartier em Paris, inclui Chéri Samba com “Sim, Devemos Pensar”| Foto: André Morin /The New York Times

A arte praticamente salta das paredes.

Há uma pintura notável do presidente Barack Obama com Nelson Mandela e Patrick Lumumba, o líder congolês que foi assassinado em 1961. Fotos em preto e branco dos anos 1950 da vida noturna em Leopoldville, hoje Kinshasa. Aquarelas curiosas dos anos 1930.

São algumas das 350 obras de 41 artistas presentes em “Beauté Congo” [Beleza Congo], pesquisa surpreendente da arte do Congo de 1926 a 2015, na Fundação Cartier em Paris. A exposição oferece uma janela para uma cena artística dinâmica não muito exibida nos museus ocidentais.

“Quisemos criar uma narrativa que reintroduzisse estes artistas excepcionais na história da arte”, disse André Magnin, o curador da mostra. Ele viajou ao Congo durante décadas, cultivando relações assim como comprando arte. “Quisemos mostrar ao público as obras excepcionais de um continente de onde a televisão só apresenta imagens sombrias e desastrosas de guerra e doença.”

A exposição apresenta uma sólida tese pela continuidade da rica produção artística ao longo do século passado no país.

Embora grande parte dessa exposição seja dedicada a artistas contemporâneos, como Chéri Samba, que pintou a imagem dos líderes mundiais, raramente obras mais antigas foram mostradas em tal quantidade.

“Beauté Congo”, que fica em cartaz até meados de novembro, começa na década de 1920, quando o casal de pintores Albert e Antoinette Lubaki e o artista conhecido como Djilatendo deixaram de decorar cabanas tradicionais para criar obras em papel, a pedido de um administrador colonial belga.

As aquarelas dos Lubaki, muitas vezes de animais ou folhas, recaem em algum lugar entre realismo e fantasia. Já os desenhos geométricos de Djilatendo pairam entre o tradicionalismo e o modernismo.

No final dos anos 20 e início dos 30, obras dos Lubaki foram expostas em importantes museus e galerias da Europa. Djilatendo foi representado em uma exposição em Bruxelas ao lado de Magritte. No entanto, eles pararam de produzir e com o tempo se perderam na história. Magnin diz que soube de seu trabalho por meio de um livro que encontrou por acaso em 1989 no Zaire, como o país era chamado na época (hoje é a República Democrática do Congo).

A exposição também exibe os artistas que participaram entre 1946 e 1954 de uma academia “para a arte popular indígena”, como diz o catálogo, iniciada por um então oficial da marinha francesa e artista, Pierre Romain-Desfossés.

Várias obras da mostra são dedicadas a “Rumble in the Jungle” [barulho na selva], a luta de boxe em 1974 em Kinshasa em que Muhammad Ali derrotou George Foreman, um momento de orgulho em um país recém-liberto.

Também na mostra estão esculturas futuristas e coloridas, modelos arquitetônicos enlouquecidos, de Bodys Isek Kingelez (“Cidade Fantasma”, 1996) e Rigobert Nimi (“A Cidade das Estrelas”, 2006), que usa material encontrado e objetos eletrônicos descartados.

“Beauté Congo” teve resenhas positivas na França desde sua inauguração em 11 de julho, mas também houve algumas críticas.

Pascale Obolo, cineasta e editor do jornal cultural “Afrikadaa”, encontrou erros na atitude “muito neocolonialista e paternalista” de Magnin e outros que trazem arte africana para museus da Europa. Outros questionaram por que a única mulher incluída na exposição é Antoinette Lubaki ou as possíveis implicações comerciais da mostra, já que Magnin adquiriu obras de alguns dos artistas apresentados, na formação do patrimônio de um empresário.

Hervé Chandès, diretor da Fundação Cartier, disse que não se preocupou com isso. “Se André não existisse, eu não poderia ter feito a exposição”, disse ele. “Eu precisava de alguém que conhecesse a vida artística do Congo.”

Na inauguração, alguns dos artistas agradeceram a Magnin por promovê-los. “Ele me ajudou muito depois que disse ‘Encontre seu estilo”, disse J.P. Mika, ao lado de um de seus quadros.

Ali perto havia ricas fotografias coloridas da série de 2011 “Uma Vista”, de Kiripi Katembo, nascido em 1979. Elas mostram imagens de Kinshasa refletida em poças de água. Um mundo de ponta-cabeça, saturado de sujeira, cor e amor.

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