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Liz Barraclough comparou a sensação ao ato de cair nua num canteiro de urtigas. Guy Wickett disse que a sensação era a de fazer bolas de neve sem luvas. Timothy Sutton foi mais direto, e disse: "Dói para caramba. O bom é que se você grita debaixo d’água ninguém consegue te ouvir".

Recentemente num dia de dezembro, logo depois das 8h, a temperatura da água de Brockwell Lido, uma piscina olímpica a céu aberto no sudeste de Londres, caiu para 6 graus pela primeira vez nesta temporada. Uma pequena multidão de nadadores se juntou num pátio, com a respiração fazendo fumaça em meio à chuva. Contadores, professores, donas de casa, aposentados e estudantes: todos precisam de uma dose diária de água gelada.

Alguns carregam roupas de mergulho na mochila. Porém, poucos chegam a usá-las. A maioria prefere meias e luvas de neoprene ou usa duas toucas de natação de silicone em vez de uma. Marianne Apherton, de 57 anos, confia num gorrinho de lã.

"Nooossa!", gritou Lizzie McPhee, de 44 anos, uma atriz que virou coach em comunicação. Ela ajeitou os óculos de natação, esfregou as mãos, aproximou-se da borda da piscina e mergulhou de cabeça. "Faz com que eu me sinta viva", explicou mais tarde, com os lábios roxos e o corpo rosa brilhante. "É como se eu nascesse de novo."

Na Grã-Bretanha, um número cada vez maior de pessoas está combatendo o frio e a umidade passando mais frio e se molhando mais. Em Londres, cinco piscinas não aquecidas a céu aberto funcionam durante todo o ano, e os nadadores também mergulham em lagos públicos em Hampstead Heath, um parque no noroeste de Londres, ou Serpentine, no Hyde Park. No último mês de janeiro, em águas praticamente congeladas, 575 pessoas competiram no Campeonato de Natação em Águas Frias da Grã-Bretanha.

Antigamente a piscina Brockwell ficava fechada de novembro a março. Contudo, os usuários fizeram pressão e conseguiram mantê-la aberta durante o ano todo.

A explosão do nado em águas frias é parcialmente atribuída à crescente popularidade do triatlo. Porém, há outros motivos, disse Jonathan Cowie, diretor de corridas no Clube de Natação South London.

"As pessoas praticam o nado em águas frias pelo barato, por motivos de saúde, pelas amizades que fazem e para aliviar a depressão", explicou Cowie. "Mas isso também é parte de um movimento direcionado a uma relação mais próxima com a natureza."

Alguns entusiastas disseram que esse movimento tem sido reforçado pelos problemas econômicos que os fizeram perceber a natureza fugaz da felicidade material.

"Eu vejo a cara feia das pessoas debaixo do guarda-chuva pela manhã e penso: ‘eu tenho uma roupa de mergulho na bolsa’", disse Maureen Ni Fiann, psicoterapeuta de 61 anos. "As folhas sobre a água, as árvores, o ar fresco – é tudo uma oportunidade de escapar da monotonia."

Helen Milstein, professora de 61 anos, disse que costumava sofrer de depressão sazonal, mas já não sofre mais. "É uma ótima ajuda durante o inverno inglês." Muitos alegam que a prática reforça o sistema imunológico. "Eu não me lembro da última vez em que tive uma gripe", disse o marido de Milstein, Peretz, cujo apelido é Urso Polar porque ele passa muito tempo na água.

Nadar no inverno é muito popular na Rússia, China, Escandinávia e Finlândia. Contudo, os nadadores da Brockwell sugerem que há algo essencialmente britânico na dor e nos prazeres deles. Este é um país onde, até não muito tempo atrás, banhos frios faziam parte dos pacotes de colégios internos, e casas vitorianas com correntes de ar mantinham-se frias, não importando o quanto fossem aquecidas.

Algumas pessoas dizem não precisar de um termômetro para saber a temperatura da água. "Você sabe que a água está muita fria quando suas, hum, partes pudendas começam a formigar", disse Linda Spashett, uma aposentada de 63 anos. "Geralmente essa é a marca dos 10 graus."

Mais tarde, quando todos se juntaram no café ao lado, a conversa voltou-se para as melhores formas de se aquecer. Milstein recomendou um gorro e luvas. Os homens disseram ter usado secadores de cabelo para soprar ar quente pela camisa.

Que tal um banho quente?

"Você definitivamente não quer fazer isso", disse Milstein. Ao invés disso, ele aconselha: "Tome um banho frio".

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