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A menos de 30 minutos da casinha onde vi uma menina morrer de ebola, ficava a clínica à qual ela desesperadamente queria chegar. Era uma construção modesta, de cômodos simples, forrada de macas de ferro. Não vi nenhuma tela de computador ou máquinas apitando. Parecia mais uma enfermaria escolar do que uma UTI.

Em um dos quartos, enfermeiras discretamente colocavam comprimidos em quadradinhos de papel.

"O que é isso?", perguntei.

"É o remédio para os doentes de ebola", explicou um médico.

Verifiquei as caixas: acetaminofen, ciprofloxacina, sais de reidratação oral — tudo disponível em farmácias, até mesmo aqui. Fiquei atordoado.

"É só isso?", perguntei.

"É, sim. Talvez um soro para os casos piores", respondeu o médico.

Já cobri um monte de desastres na África — fomes, guerras civis, senhores da guerra em ação, todas as coisas ruins que muitas pessoas associam com o continente mais pobre do mundo. Estamos acostumados a ver fotos de africanos mortos em uma estrada de terra vermelha com um helicóptero branco de Nações Unidas sobrevoando.

Talvez o ebola se pareça com isso à distância. Mas de perto é diferente. O que aprendi no último mês trabalhando em Serra Leoa é que se trata de uma crise que deveria ser de fácil resolução.

O ebola, mesmo com seus sintomas que lembram filmes de terror, é normalmente muito simples de tratar. O vírus é rápido e implacável, horrível e assustador, fazendo com que alguns pacientes vomitem e defequem sangue, ou mesmo — em casos graves — sangrem pelos olhos. O ebola é um entre inúmeros vírus que podem desencadear uma febre hemorrágica, com sangramento interno, mas na maioria dos casos a maior ameaça é a desidratação, que pode ser resolvida com água potável e medicamentos básicos.

Como afirmou Daniel Bausch, médico infectologista da Universidade de Tulane em Nova Orleans, "Não é algo difícil" — o tratamento depende tanto de logística quanto de medicina. A chave para derrotá-lo é um número suficiente de ambulâncias, leitos hospitalares e um modo competente de identificar os doentes, isolá-los rapidamente antes que infectem outras pessoas, e então repor os fluidos que perderam por causa do vírus.

O fato de que o ebola pode ser combatido tão facilmente é o que o torna tão frustrante e deprimente — e às vezes até mesmo enlouquecedor. Aprendi isso no meu primeiro dia. Eu passava por uma aldeia procurando vítimas do ebola para fazer seu perfil, quando alguns voluntários acenaram para mim de uma casinha com telhado enferrujado.

Uma família encontrava-se na varanda, e Isatu Sesay, garota de 16 anos de idade em um suéter de gola em v, estava sentada em uma cadeira, parecendo enfraquecida.

"Ela passou o dia vomitando. Está com diarreia, com febre. Estamos esperando a ambulância, mas ela não chega", disse a mãe.

Olhei para meus colegas que cobriam o ebola há meses.

"E se lhe déssemos uma carona?", perguntei.

"De jeito nenhum", responderam.

Seria extremamente perigoso; ela estava em estágio infeccioso e poderíamos contrair a doença.

Jaime, o tradutor, me puxou de lado.

"Não se envolva muito. O menor erro pode ser o pior", ele avisou.

Libéria, Guiné e Serra Leoa — o triunvirato do ebola da África Ocidental — com 18.000 casos, estão entre as nações menos desenvolvidas do mundo, definitivamente um fator importante nessa crise, embora eu desconfie que ele esteja sendo aumentado. Outros países da região, como o Mali, também muito pobre, e a Nigéria, agora chamada de "Afeganistão da África" por causa da intensidade de sua insurgência islâmica, controlaram seus surtos de ebola em questão de semanas, com poucas mortes, mostrando que isso pode ser feito.

No dia seguinte, quando voltei à aldeia, o estado de Isatu já era diferente. Estava deitada, delirando, manchas secas de vômito preto em sua calça jeans. O vírus a devorava. Seus olhos estavam abertos, vidrados.

Os vizinhos continuavam ligando para a hotline do ebola. Não há resposta. Não acreditei, então eu mesmo liguei.

"Bom dia, centro de resposta do ebola", disse uma voz alegre.

Forneci o nome, endereço, idade e sintomas de Isatu.

"É urgente. Vocês têm muitos casos como esse?"

"Ok, senhor, tudo bem", respondeu o operador.

Click.

Isatu morreu no fim da tarde.

Foi enterrada em um saco plástico em uma cova rasa no cemitério lotado.

Vendo isso tudo, minha culpa me corroía. Não foi simplesmente que eu não tivesse lhe dado uma carona. Se estivesse pensando direito, eu poderia ter pelo menos corrido para uma farmácia local e comprado um remédio para aumentar suas chances de sobrevivência, até que uma ambulância chegasse. Teria sido fácil.

Nas histórias que cobri, com tantas pessoas necessitadas, nunca soube exatamente quando me afastar, quando ajudar, como ser um observador imparcial, pois sou pago para ser assim, mas ao mesmo tempo me manter um ser humano decente. Aqui eu falhei.

A ambulância nunca veio, descobri mais tarde, porque alguns trabalhadores de saúde entraram em greve por falta de pagamento. Mas nem isso fez muito sentido. Os Estados Unidos e outros países têm injetado centenas de milhões de dólares no combate ao ebola; parecia que todos os dias chegava outro avião cheio de peritos internacionais — epidemiologistas chineses, enfermeiros cubanos, microbiologistas americanos, engenheiros britânicos. Eu continuava ouvindo dos funcionários da ajuda humanitária que talvez esse fosse o problema: Serra Leoa agora tem muitos especialistas, muitas orientações diferentes.

Mais de seis mil pessoas morreram, mas Isatu será a única que não conseguirei esquecer. Falei sobre minha culpa com um editor em Nova York que sugeriu que eu comprasse remédios e os levasse no carro, caso fosse preciso.

Mas nunca encontramos outra Isatu. Vimos pessoas muito doentes e outras que haviam sido tratadas com sucesso, mas ninguém naquele limbo febril em que a menina estava.

Na noite em que fui embora, peguei minha mala na parte de trás do carro. Os remédios ainda estavam lá, intocados.

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