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Amadores encenam a novela de Harper Lee no tribunal onde seu pai, o advogado que inspirou Atticus Finch, trabalhou | Jeff Haller /
Amadores encenam a novela de Harper Lee no tribunal onde seu pai, o advogado que inspirou Atticus Finch, trabalhou| Foto: Jeff Haller /

Todo ano, em abril e maio, durante a “temporada de peças”, como os moradores dizem, os hotéis desta cidade de 6.300 habitantes costumam lotar nos fins de semana. Filas se formam nos restaurantes, e os ônibus que trazem os turistas enchem a estrada.

Durante quase todos os 26 anos em que ela foi produzida, a peça “O sol é para todos” (“To Kill a Mockingbird”) foi um sucesso aqui na cidade natal de sua autora, Harper Lee.

Amadores reencenam a novela como uma peça na frente e dentro do tribunal onde um dia trabalhou o pai de Lee, o advogado que ela moldou em Atticus Finch.

Mas neste ano as 18 apresentações tiveram os ingressos esgotados em cinco dias —um sucesso que os organizadores atribuem ao entusiasmo pelo fato de que Lee, 88, publicará um segundo romance em meados do ano, “Go Set a Watchman” (“Vá destacar um vigia”, em português).

“É a melhor temporada da cidade”, disse Sandy Smith, diretora-executiva da Câmara de Comércio do Condado de Monroe.

A adaptação para o teatro de Christopher Sergel é fiel ao retrato feito por Lee do racismo impiedoso no Alabama dos anos 1930, e os moradores ao longo dos anos já a apresentaram em lugares distantes como Israel e China.

Mas na noite de estreia desta temporada eles a interpretaram como fazem há tempo no tribunal de Monroe County, onde o público se senta em bancos ou assiste em pé, no fundo, exatamente como Lee descreve o tribunal no capítulo 16 de seu romance.

Atticus Finch sentava-se com o braço ao redor do acusado, Tom Robinson. No balcão, uma mulher negra cantava uma súplica chorosa pela libertação de seu povo. Jem, o irmão de Scout, era corajoso e responsável.

“Eu gosto do modo como influenciamos as pessoas”, disse Gaines Downing, 15, um estudante colegial que faz o papel de Jem e é um dos 52 membros do elenco. “Gosto do modo como disseminamos a mensagem da igualdade.”

O público incluía um ônibus cheio vindo de Florence, Alabama, cinco horas ao norte, e gente do Texas, Indiana, Flórida, Louisiana e, como costuma acontecer, alguns visitantes internacionais.

Goran e Katarina Olsson Trampe, de Mariestad, Suécia, estavam em excursão pelo sul dos Estados Unidos e decidiram ver o espetáculo depois que estava esgotado; mas os deixaram entrar quando disseram a distância que tinham viajado.

Lee, que mora em um asilo a 3 quilômetros do tribunal, nunca assistiu à peça, porém, segundo a direção do Museu do Patrimônio do Condado de Monroe.

O museu produziu a peça todos os anos, mas no próximo entregará a produção a uma entidade sem fins lucrativos que a autora fundou depois de uma disputa por licenciamento.

O Simpósio de Escritores do Alabama também atrai uma multidão para a cidade, que se intitula a Capital Literária do Alabama, por causa de Lee e porque Truman Capote, seu amigo, morou lá quando criança. Smith estima que os hotéis devam faturar US$ 200 mil durante a temporada teatral.

Na Ol’ Curiosities and Book Shoppe (loja de curiosidades e livraria), o dono, Spencer Madrie, encomendou 5.000 exemplares de “Go Set a Watchman”.

Como há grande demanda por um exemplar vindo de Monroeville —que incluirá um selo dourado—, ele disse que espera encomendar pelo menos 15 mil livros até julho.

“As pessoas vêm aqui com ou sem a peça”, disse Sandy Smith. “O bom da peça é que é um foco concentrado. Cerca de mil pessoas por semana vêm para cá. Sem a peça, as pessoas vêm, mas não nesse nível.”

Cidade do Alabama relembra um duro retrato de si mesma.

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