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Os americanos, como cidadãos de uma nação que representa uma ideia, são otimistas por natureza. Estão profundamente imbuídos da noção de que seu país deve ser um farol para a humanidade, uma "cidade no alto de uma colina", com todos os olhos voltados a ela, como disse um dos fundadores da colônia de Massachusetts Bay no século 17.

Apesar de seu otimismo ter sido temperado por duas guerras sem vitórias e por viver com rendas da classe média estagnadas ou em queda, eles relutam em abraçar o realismo ou o pessimismo nos assuntos internacionais.

Querem que a primavera árabe conduza a um verão, que o levante na Síria desaloje um déspota, que a descarada anexação russa da Crimeia seja revertida, que a longa guerra afegã resulte em governança decente e que a liberdade se dissemine pelo mundo.

Assim, um presidente como Barack Obama —desapaixonado, intelectual e prudente—, que aplica um realismo ferrenho à política externa, não os anima.

Pode ser verdade que não exista desenlace positivo na multiétnica Síria, e com certeza não existe desenlace fácil. Talvez fosse inevitável que a democracia egípcia fosse natimorta.

Talvez Vladimir Putin se importe mais com a Crimeia que os americanos, e não há dúvida de que está bem mais perto dela.

Talvez o Afeganistão sempre tenha sido um país pobre com um governo fraco e que investimento algum em sangue ou tesouro pudesse mudar essa situação.

Mesmo assim, os americanos não gostam da mensagem de que faz sentido recuar, focar na política interna e que o mundo se dane, se for isso que ele quiser.

Uma política desse tipo, e é essa a política de Obama, cheira a fracasso, a recuo, possivelmente a fraqueza. Alguma coisa no íntimo dos americanos se recusa a enxergar o país deles sob essa ótica —como uma potência em declínio, enquanto a China ascende para herdar a terra.

Um dualismo estranho opera na psique americana. Os americanos querem que os soldados voltem para casa. Querem que as guerras acabem. Estão fartos das investidas pós-11 de setembro, caras e inconclusivas.

Querem investimento em empregos nos EUA, educação, saúde e infraestrutura. Mas, quando o presidente faz tudo isso, eles recuam. Sentem que ele está decepcionando o país. Querem que ele lidere, não apenas cumprir desejos ou interpretar sentimentos.

Não havia opinião americana majoritária em favor do envolvimento nas guerras mundiais, até presidentes terem decidido que essa era a coisa certa. A liderança também é isso: mudar percepções e aspirações.

É isso o que Robert Kagan, membro sênior do Instituto Brookings, em Washington, descreveu como "o paradoxo de política externa de Obama". O presidente que está promovendo a política externa que os americanos supostamente querem é impopular por isso.

Uma pesquisa recente da CBS News mostrou que apenas 36% dos americanos aprovam o trabalho que Obama faz na política externa, enquanto 49% desaprovam. O resultado condiz com os obtidos pelo Centro Pew de Pesquisas no ano passado.

Então o que é que os americanos, em seu estado bipolar atual, desejam de fato? Não querem um presidente que defina uma linha vermelha na Síria, que conduza os aliados dos EUA em preparativos para ação militar e depois os faça recuar, levando muitas pessoas em todo o mundo a concluir que os Estados Unidos não é sério em seus engajamentos.

Não querem um presidente que, quando a democracia é esmagada, territórios são anexados e combatentes da liberdade são bombardeados, erga as mãos em um gesto de impotência e diga que isso é lamentável, mas que há limites aos Estados Unidos.

Para um país ainda jovem e que está inextricavelmente ligado à ideia de que ele próprio difunde a luz pelo mundo, isso não basta.

O Vietnã, onde outra guerra longa dos Estados Unidos terminou sem vitória, parece um país improvável no qual sentir um otimismo americano revigorado e a importância do poder americano.

No entanto, hoje o país é um lugar assim. O magnetismo da ideia americana está em toda parte —nas aspirações da nova classe média, nas lojas e nos restaurantes que os vietnamitas lotam, nos shoppings, na música, na cultura.

O Vietnã abraçou os Estados Unidos como potência asiática que ele vê como contrapeso à China. As memórias da guerra ficaram no passado. O comércio e os investimentos têm primazia.

Tudo isso teria sido inimaginável há 40 anos. É impossível estar aqui e não concluir que mais vontade e imaginação são necessários numa Casa Branca em que a ideia americana não está sendo adequadamente valorizada.

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