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Antes consideradas uma conquista, as Unidades de Polícia Pacificadoras estão sendo cada vez mais atacadas nas supostamente subjugadas favelas.  Reconhecendo as preocupações de segurança, as autoridades solicitaram tropas federais para patrulharem as ruas da cidade | Ana Carolina Fernandes/The New York Times
Antes consideradas uma conquista, as Unidades de Polícia Pacificadoras estão sendo cada vez mais atacadas nas supostamente subjugadas favelas. Reconhecendo as preocupações de segurança, as autoridades solicitaram tropas federais para patrulharem as ruas da cidade| Foto: Ana Carolina Fernandes/The New York Times
  • Antes consideradas uma conquista, as Unidades de Polícia Pacificadoras estão sendo cada vez mais atacadas nas supostamente subjugadas favelas. Reconhecendo as preocupações de segurança, as autoridades solicitaram tropas federais para patrulharem as ruas da cidade

Alda Rafael Castilho sonhava em ser psicóloga, e ingressou na força policial para pagar os estudos. Seu sonho acabou aos 27 anos, quando homens armados invadiram o posto policial onde ela estava de plantão no Complexo do Alemão, um extenso conjunto de favelas. Ela foi atingida na barriga, e sangrou até a morte.

"Deixaram-na agonizando no chão como um animal", declarou a mãe, Maria Rosalina Rafael Castilho, de 59 anos, empregada doméstica que mora na periferia do Rio de Janeiro. "Os políticos falam do orgulho de sediar a Copa do Mundo, mas isso é um insulto", ela disse. "Eles não conseguem proteger sequer a própria polícia, muito menos os visitantes da cidade".

]Enquanto o Brasil se preparava para a cerimônia de abertura da Copa do Mundo em 12 de junho, uma onda de crime trouxe preocupações no Rio de Janeiro, que espera receber quase 900.000 visitantes. Uma revisão do sistema de segurança visava exibir um Rio mais seguro no palco mundial, mas houve aumento no número de assaltos, de atentados contra policiais, e de homicídios.

Até agora, pelo menos 110 policiais foram atingidos por tiros no Rio esse ano, um aumento de quase 40 por cento em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme números reunidos de forma independente pela jornalista Roberta Trindade com a ajuda de agentes policiais.

Em um período sangrento de 16 dias em maio, Trindade registrou 14 atentados contra agentes policiais, inclusive dois que foram assassinados. No total, pelo menos 30 policiais foram mortos a tiros, ela disse, incluindo a policial Castilho.

As forças de segurança vêm tentando retomar o território da cidade do controle de gangues do narcotráfico altamente armadas, e até recentemente, o emprego de equipes especiais chamadas de Unidade de Polícia Pacificadora em dezenas de favelas foi visto como uma grande conquista. Mas os policiais estão sendo cada vez mais atacados nessas favelas "pacificadas".

A persistência de táticas policiais brutais, envolvendo o sequestro e tortura dos moradores, aumenta a raiva contra a instituição em algumas comunidades.

As autoridades estaduais pediram ajuda ao governo federal, solicitando 5.300 soldados da Guarda Nacional.

As autoridades sustentam que o Rio é mais seguro do que antes, apesar dos percalços, e salientam que outras cidades da América Latina como Caracas, na Venezuela, ou Tegucigalpa, em Honduras, e mesmo algumas cidades brasileiras como Salvador, têm índices mais altos de homicídios.

"Ainda estamos longe dos índices iniciais de criminalidade", declarou Roberto Sá, subsecretário do planejamento e integração operacional do governo do estado. "Existem áreas onde uma verdadeira guerra precisou ser travada para a entrada dos policiais. Agora, a polícia pode fazer isso sem um grande contingente porque os traficantes de drogas estão perdendo suas bases territoriais".

Sustentando que a nova onda de crime é uma anomalia, Sá salientou a estatística do estado em relação aos ataques contra a polícia, que é limitada aos agentes mortos em serviço: sete até agora este ano.

"Sei que é indesejável, mas vivemos nesse tipo de cultura na América Latina, uma cultura de violência e criminalidade", ele afirmou.

Os furtos e os roubos de carros aumentaram muito nesse ano, atingindo índices mais elevados do que quando o programa de pacificação das favelas começou em 2008, segundo os números oficiais.

Nas ruas do Rio, na televisão e nas mídias sociais no Brasil, a onda de crime está se desenrolando de maneira surreal e assustadora ao mesmo tempo.

Uma equipe da Rede Globo recentemente entrevistava uma mulher sobre a criminalidade, e um assaltante tentou arrancar o colar do seu pescoço durante a entrevista.

Em outro episódio, um motorista gravou o vídeo do corpo de uma mulher pendurado na viatura policial e sendo arrastado pelas ruas.

Os especialistas de segurança atribuem parte da animosidade em relação à polícia à resiliência das gangues do narcotráfico como o Comando Vermelho, grupo originário de uma penitenciária do Rio nos anos 70, e o crescimento de organizações criminosas menores como o Terceiro Comando Puro, formado após uma divisão do Comando Vermelho nos anos 80.

"A legitimidade da polícia está em um nível preocupantemente baixo", declarou Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de segurança pública no Rio. "O processo de pacificação simplesmente transferiu o crime para outras partes da região metropolitana do Rio. Agora, vemos a polícia sendo atacada mesmo nas favelas que chamam de pacificadas".

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