A anexação da Crimeia em março deixou a maioria dos russos em um estado de euforia que ainda não diminuiu.

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A anexação inspirou no público russo um sentido de grandeza que eles haviam perdido, e aumentou os índices de aprovação do Presidente Vladimir Putin acima de 80 por cento, mês após mês.

"É antiquado não apoiar o presidente", declarou Olga Timofeyeva, aliada de Putin no Parlamento.

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Outros são mais ardentes. "Não é um índice de aprovação de Putin; é um índice da decisão de Putin de anexar a Crimeia", disse Alexei Venediktov, editor-chefe da Ekho Moskvy, uma estação de rádio.

Os russos cada vez mais se preocupam em como neutralizar o agravamento da crise na Ucrânia. O número dos que apoiam a anexação do sudoeste da Ucrânia caiu para menos de 25 por cento vindo de cerca de 60 por cento logo após a aquisição da Crimeia, disse Lev Gudkov, diretor da Levada Center, agência independente de pesquisas da Rússia.

Diversos fatores estão por trás disso, inclusive a inflação modesta provocada em parte pelas sanções.

Mas a modificação da disposição provocada pela anexação da Crimeia se mantém.

A Ucrânia e os seus aliados ocidentais condenam a anexação, porém, não existe nenhum sinal de que estão tentando retomar a Crimeia.

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"Hoje, existe um tipo de renascença, as pessoas estão sentindo que o país é forte novamente, mas não se trata de agressão", declarou Olga Kryshtanovskaya, socióloga. "Após a queda da União Soviética, começamos a perder territórios – cada vez mais. Agora, a Crimeia é um símbolo de que paramos de perder, estamos ganhando".

Mesmo os críticos habituais na Rússia tendem a torcer pelo time da casa nesse assunto.

Para Artemy Lebedev, fundador da empresa de design que nunca foi tímido em relação a criticar o que ele lamenta ser a falta de profissionalismo da Rússia, na Crimeia foi diferente – rápido e sem derramamento de sangue.

"Talvez eles tenham usado alguém de Hollywood que lhes ensinou como deveria ser o exército do futuro", ele disse, ecoando comentários no seu blog sobre a inteligência, a boa forma, a educação e a boa aparência desses soldados.

Lebedev foi insultado online pelos adversários de Putin, porém, disse que seus sentimentos tinham a ver com o orgulho e a realização. "Eu nasci na União Soviética e não gostei quando 14 países se separaram do meu", ele escreve. "É só porque isso aconteceu há muito tempo, todos se acostumaram".

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Os membros da geração jovem que se opõem a Putin disseram que aprenderam a se calar sobre o assunto, por causa da alegria prevalecente.

Fala-se da Crimeia em todos os lugares, não apenas nos debates políticos. Uma empresa criou uma barra de chocolate chamada "Crimeia. Apenas Tente Tomá-la". A embalagem exibe um super-herói com as cores da bandeira russa. Clientes se aglomeraram em uma loja de departamentos em Moscou que recentemente começou a vender camisetas glorificando a anexação de Putin.

Na cidade do sul de Krasnodar, a fábula de Chapeuzinho Vermelho foi reescrita para o teatro como uma parábola sobre a anexação, com a Crimeia sendo a pequena heroína, a Rússia como a vovozinha e os Estados Unidos como o grande lobo mau.

Putin sempre fala da Crimeia. Em 12 de junho, o dia da Independência da Rússia, ele declarou: "Este ano, celebramos a nossa independência com uma disposição especial, um júbilo especial. A Crimeia e Sevastopol retornaram para a Rússia, para a sua terra natal".

No entanto, entre o júbilo, os pesquisadores de opinião também notam preocupações crescentes em relação à Ucrânia.

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Os altos índices de aprovação de Putin estão, sem dúvida, ligados à propaganda ininterrupta em toda rede de televisão estatal que ainda vendem a anexação da Crimeia como um feito histórico. Mas essa campanha também reflete a opinião pública.

"A propaganda não funciona a não ser que as pessoas queiram acreditar nela", Gudkov disse. "Eles compreendem completamente que é propaganda, porém, ao mesmo tempo, els apreciam essa retórica imperialista, assim, entram no jogo. A maioria das pessoas que entrevistamos afirma que a sua principal vitória é que ele conseguiu restaurar a reputação da Rússia como uma potência mundial".

Contudo, Gudkov e outras pessoas não têm muita certeza sobre o que poderia manter a disposição atual. "Não acho que a euforia irá durar", ele disse.

Alexandra Odynova contribuiu