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Vista da terceira e última porção do High Line, construído sobre os trilhos elevados do West Side, em Manhattan | todd heisler/The New York Times
Vista da terceira e última porção do High Line, construído sobre os trilhos elevados do West Side, em Manhattan| Foto: todd heisler/The New York Times

Se o novo trecho da High Line não fizer com que você se reapaixone por Nova York, não sei nem o que dizer. A Fase 3 do parque elevado, que agora avança rumo oeste, na rua 30, a partir da Décima Avenida em direção ao rio Hudson, proporciona uma vista belíssima do pôr-do-sol e é simplesmente irresistível.

Hoje é difícil acreditar que muita gente achou que reformar a linha elevada, em ruínas, fosse má ideia. A última vez que um parque conseguiu mudar a percepção da população em relação aos espaços públicos e à própria cidade foi com a inauguração do Central Park, em 1857. Como o Museu Guggenheim de Frank Gehry na Espanha, ele inspirou um sonho, mesmo que inalcançável, ao redor do mundo: o de como um projeto excepcional – nesse caso, de paisagismo – pode alterar o destino de uma cidade.

Sim, a aproximadamente US$35 milhões, a Fase 3, assim como o resto da High Line, custou mais por hectare do que qualquer parque na história da humanidade. Com a maioria das áreas verdes lutando para sobreviver, é inevitável que essa quantia seja fonte de ressentimento, mesmo que a High Line tenha sido, em grande parte, construída e seja mantida por fundos privados.

É verdade também que em nenhum outro lugar da cidade a divisão econômica, cada vez mais pronunciada, é tão óbvia como no trecho do West Side. A nova fase circunda Hudson Yards, área de dez hectares que em breve se tornará um complexo arquitetônico multibilionário, com torres comerciais e residenciais gigantescas – sendo que pelo menos uma delas será mais alta que o Empire State Building. Sua praça elevada, construída sobre o terminal ferroviário de West Side, será brindada com parte do parque, com os arranha-céus formando um verdadeiro desfiladeiro de vidro. O caos e os guindastes vão ser divertidos para a criançada; já muitos pais vão lamentar ver mais um pedaço da Nova York industrial ceder aos condomínios de luxo.

A James Corner Field Operations foi quem projetou a High Line com a Diller Scofidio & Renfro. Corner define a área ao redor do parque de "sua paisagem emprestada".

Já sufocado por cinco milhões de visitantes/ano, esse é um parque feito para os turistas – e para aqueles que não sabem dar uma volta sem ter um destino em mente.

"Você sobe aqui e começa a reparar em tudo", define o arquiteto Ricardo Scofidio. Perto de seus limites, o parque é composto de uma sequência de trilhas, mirantes, jardins – partes ligadas por uma arquitetura composta de bancos de madeira reciclada, trilhos enferrujados e lajes de concreto. E é uma simples alteração na direção dessas últimas que sinaliza a mudança de norte-sul para leste-oeste. Algumas se transformaram em reduto de namorados, mesas de piquenique e até uma gangorra.

Mais à frente, uma ponte sobre a 11« Avenida oferece um tipo de passarela, ladeada por bancos baixos, local perfeito para ver e ser visto; dali, uma parte dos trilhos foi retirada, as vigas cobertas de silicone para que as crianças possam brincar em segurança e explorar os cantinhos em que se encontram vários periscópios espalhados aqui e ali. De lá, a trilha se estreita, resumindo-se à seção que margeia o rio Hudson.

Nessa parte, os vergalhões enferrujados foram cobertos de cascalho para deixar o caminho nivelado; vigas de madeira empilhadas oferecem uma verdadeira arquibancada de onde o público pode admirar a paisagem; a natureza tem liberdade de agir. Nua, essa parte do viaduto, cenário criado sem vigilância nem controle, parece selvagem, teimosa, indomável. Há até prímulas e cenoura selvagem tremulando ao vento; os trens entram e saem da estação. O tempo parece retroceder e a elegante High Line, de repente, some.

A Fase 3 é um novo capítulo da Nova York do século XXI – uma metrópole mais verde, sofisticada e rica, com um olhar ansioso no passado. Ocupando um espaço entre prédios, bairros, ruas e céu, o parque ganha inúmeros significados. Nem ruína autêntica, nem inteiramente novo, marca de uma capital fugidia, mas também de um espaço comum, é um monumento moderno que se aproveita do romance e da nostalgia de uma Nova York de outros tempos – a "verdadeira" selva de pedra – um parque nascido sob as mesmas forças que empurraram a cidade para longe.

"Tudo é como deveria ser, nada vai mudar, ninguém vai morrer", escreveu um dia Vladimir Nabokov.

Ali, com o Hudson de um lado e a linha de prédios do outro, Nova York se abre em 360 graus, suspensa e infinita.

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