• Carregando...
Kennedy Noel, à esq., e Tarone Lindsay posam para fotos em um vagão entre Manhattan e o Brooklyn | Victor J. Blue para The New York Times
Kennedy Noel, à esq., e Tarone Lindsay posam para fotos em um vagão entre Manhattan e o Brooklyn| Foto: Victor J. Blue para The New York Times

Os jovens dançarinos Peppermint e Butterscotch examinaram os rostos dos passageiros dentro de um metrô na cidade de Nova York. Um dos passageiros notou os rapazes.

"Você é da polícia?", perguntou um dos dançarinos enquanto o metrô seguia para a Canal Street. O homem fez sinal negativo. Peppermint e Butterscotch ficaram aliviados.

"Está na hora do show!", gritaram os dois.

A música dominou o vagão. Pernas se enroscaram nas barras de apoio como uma hera assustadora. Então, houve um final eletrizante que surpreendeu até os dançarinos: quatro policiais à paisana convergiram com dois pares de algemas.

Aplaudidos por turistas, tolerados pelos usuários do metrô e temidos por aqueles que detestam ser abordados por estranhos, os dançarinos do metrô involuntariamente se tornaram uma prioridade para o Departamento de Polícia de Nova York — a prefeitura considera esses artistas, em sua maioria adolescentes, avatares da desordem urbana.

As detenções de artistas mais do que quadruplicaram neste ano, totalizando 203 até o início de julho, em comparação com 48 no mesmo período do ano passado. Isso faz parte de uma estratégia policial mais ampla, focada em pequenos delitos, a fim de sufocar crimes mais graves.

"Eu entendo quando alguns nova-iorquinos dizem que esses artistas não estão cometendo um delito tão grande nem algo que nos preocupe individualmente", disse o prefeito Bill de Blasio. "Mas ir contra a lei é sempre um desrespeito."

Outrora emblemáticas da desordem urbana, as linhas de metrô têm sido alvo de esforços renovados e recebido recursos significativos para o que o inspetor-adjunto Edward O’Brien chama de "jogo de gato e rato".

Equipes de policiais à paisana seguem dicas de passageiros ou de funcionários do metrô e circulam pelos vagões. "Eles sabem que estamos por lá", disse o inspetor O’Brien, que estava à paisana no vagão quando outros policiais entraram para deter Peppermint e Butterscotch. "E estão intensificando mais seu jogo."

Algumas detenções de dançarinos causaram discussões, incluindo o caso de uma jovem que tentou morder um policial e outro de um rapaz de 18 anos que portava uma arma de choque elétrico. Peppermint, Butterscotch e outros geralmente são acusados de conduta desordeira ou de criar riscos devido à sua imprudência. (Seus verdadeiros nomes não foram revelados porque seus casos foram posteriormente arquivados.)

Muitos dançarinos usam o metrô para ensaiar seus shows, esperando que algum dia possam exibir seu talento em locais mais prestigiosos como clubes e festas de casamento ou ao ar livre. Porém, apresentações ao ar livre também envolvem problemas: no mês passado, o grupo Waffle (We Are Family for Life Entertainment, ou, A Família da Diversão ao Vivo) foi perseguido na Union Square por um policial à paisana. A repressão perturbou o segundo membro mais jovem do grupo, o dançarino de break Marc Mack, de apenas 8 anos, que sonha em entrar para a polícia. "Eu quero ser um policial que deixa as pessoas dançarem", disse o garoto.

Em uma sexta-feira recente, dançarinos afastaram passageiros de uma área no vagão de metrô, fincando seu amplificador no chão como uma bandeira. "Para sua segurança, saiam do meio!", disse Kennedy Noel, 18, adotando a cadência de um anúncio oficial do sistema de metrô. "Nós não temos seguro."

No final da apresentação, a maioria dos passageiros já havia saído do vagão ou estava prestando atenção em outra coisa. Somente um cachorro aparentava ter um pouco de interesse pelos dançarinos.

Todavia, como há um número suficiente de passageiros dispostos a dar alguns dólares por apresentação, os rapazes continuam dançando, independentemente da repressão cada vez mais intensa da polícia.

É difícil ignorar esses jovens. Braços e pernas ondulam. Pares de tênis voam. Bonés rodopiam. Eles disparam frases de efeito, como "Não há nação como a doação", para os passageiros. Em geral, quem mora há pouco tempo na cidade ou turistas reagem de maneira mais positiva a esses shows, ao passo que antigos moradores se mantêm reticentes.

"Eu sempre tenho medo de que um pé descuidado atinja a cabeça de alguém", disse Joseph J. Lhota, ex-diretor da Autoridade de Transportes Metropolitanos.

Segundo a maioria dos relatos, os dançarinos se multiplicaram nos últimos cinco anos.

"Há muitos mais dançarinos agora", comentou Andrew Saunders, 20, membro do Waffle, que tem se apresentado menos no metrô devido à repressão. "Muitas pessoas resolveram entrar nessa onda."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]