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No festival hindu de Dahi Handi, em Mumbai, o uso de crianças pequenas em pirâmides humanas tem gerado novas leis | Shailesh Andrade/Reuters
No festival hindu de Dahi Handi, em Mumbai, o uso de crianças pequenas em pirâmides humanas tem gerado novas leis| Foto: Shailesh Andrade/Reuters

Numa noite recente no sul de Mumbai, homens com camisas iguais se organizaram em círculos concêntricos e içaram meninos menores para cima, até seus pés descalços se equilibrarem precariamente sobre os ombros abaixo.

Finalmente, o menor deles – que disse ter 13 anos, mas era tão magro quanto um menino de 10 – escalou até o topo. Agora, cinco níveis de corpos humanos o separavam do solo, cerca de nove metros abaixo. Fez-se um silêncio; esse era o momento mais perigoso.

O festival hindu de Dahi Handi atinge seu clímax com a vista estarrecedora de jovens garotos içados ao topo de vacilantes pirâmides humanas, onde quebram jarros de leite suspensos no ar em homenagem ao deus Krishna. E, todo ano, meninos e homens se machucam em quedas.

O jornal diário "Indian Express" relatou que 202 participantes se feriram nas recentes celebrações em Mumbai. Além disso, um menino de 14 anos morreu no início de agosto após cair do topo de uma pirâmide de cinco andares.

Nos últimos anos, partidos políticos e grandes corporações se tornaram patrocinadores, e as pirâmides atingiram alturas improváveis – com o atual recorde sendo uma pirâmide de nove níveis, com pouco mais de 12 metros de altura. O prêmio em dinheiro para as pirâmides mais altas podem chegar a 10 milhões de rúpias, ou US$164 mil.

Este ano, o Tribunal Superior de Mumbai tentou impor algumas restrições, definindo uma idade mínima de 18 anos para os participantes, limitando a altura a seis metros e exigindo o uso de capacetes, cintos de segurança e camadas de almofadas. Políticos e organizadores de equipes protestaram.

"Dahi Handi passou de apenas um festival religioso a um esporte de aventura", declarou Mangesh Belose, que organiza a trupe Young Umerkhadi Dahi Handi. "Num esporte de aventura há riscos envolvidos, mas isso não significa que o esporte deva ser proibido".

Ele disse ser "lamentável" que crianças participando do evento tenham morrido, mas que elas representam uma "minoria estatística" das quase 500 mil pessoas que participam a cada ano.

O festival, que comemora histórias de Krishna tentando roubar leite enquanto criança, foi cercado de polêmicas neste ano.

Foi após a morte do menino de 14 anos que o Tribunal Superior impôs suas primeiras leis de segurança, desencadeando o protesto. Então Jeetendra Awhad, um deputado estadual, apelou para a Suprema Corte, que removeu o limite de altura e reduziu a idade mínima de participação para 12 anos.

Segundo políticos e organizadores, os críticos do festival não conseguiriam compreender os homens e meninos pobres que participam. Os críticos "estão sentados em suas casas com ar condicionado", argumentou Awhad. "Eles não estão com o pé no chão, e nunca fizeram parte deste festival".

Os organizadores dizem preferir meninos porque eles são mais leves e ágeis, e porque geram apoio para a equipe. Empresas de seguros começaram a oferecer pacotes especiais aos participantes, cobrando cerca de 50 rúpias de cada um e oferecendo cobertura de até 150 mil rúpias, cerca de US$2.500. Ativistas dizem que a quantia é baixa demais.

"O governo e os organizadores pagarão à família alguma compensação banal, mas o resto da vida daquela criança está arruinada", afirmou Minaxi Jaiswal, ex-presidente da Comissão Estadual Maharashtra para a Proteção dos Direitos da Criança, órgão governamental que promove a segurança dos participantes infantis no festival.

Ishwar Prabhakar Bhandari, que garantiu ter 13 anos, já foi duas vezes o topo da pirâmide no grupo Young Umerkhadi Dahi Handi. Neste ano, contou ele, serão nove andares.

"Todos na vizinhança me conhecem", disse ele. "Deixo minha mãe e meu pai muito orgulhosos".

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