Policiais militares fazem patrulha em Soure, na ilha de Marajó; uso do animal pela corporação ocorre desde o início da década de 1990| Foto: Marizilda Cruppe/The New York Times

Não faltam lendas para explicar a chegada dos primeiros búfalos-do-pântano asiáticos a esta ilha na foz do rio Amazonas.

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Segundo uma delas, os búfalos teriam vindo originalmente dos arrozais da Indochina francesa, depois do naufrágio de um navio cujo destino seria a Guiana Francesa.

Seja como for, a espécie invasora se multiplicou em Marajó. Hoje há 450 mil búfalos na ilha, que tem o tamanho da Suíça.

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Boa parte do cotidiano da ilha gira em torno dos búfalos. Os marajoaras usam os animais para transportar lixo, promovem corridas de búfalo em dias de festa e saboreiam filés de búfalo cobertos de queijo feito de leite de búfala. “A importância que o búfalo tem em Marajó nos fez pensar”, comentou o major Francisco Nóbrega, 41, do 8° Batalhão da Polícia Militar do Pará, Estado da Amazônia brasileira do qual a ilha de Marajó faz parte.

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“Por que não fazer as patrulhas de búfalo, também?”

A unidade de polícia montada em búfalos começou na década de 1990, patrulhando a cidade modorrenta de Soure, com cerca de 23 mil habitantes, e apartando ocasionais brigas de bar.

Ao longo dos anos, a missão se ampliou para incluir perseguição a suspeitos que fogem para a região agreste do Marajó, além de reprimir o roubo de búfalos nas fazendas mais distantes da ilha.

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“Os búfalos-do-pântano nadam muito bem, melhor que cães, e são mais ágeis que cavalos quando é preciso andar no barro”, disse José Ribamar Marques, que trabalha em Marajó para a Embrapa, empresa brasileira de pesquisas voltadas a agricultura e pecuária tropicais.

“E o animal é dócil, facilitando seu contato com o homem.”

Várias raças de búfalo estão presentes na ilha de Marajó, como a Murrah, famosa por sua carne e seu leite, e a Carabao, conhecida pelos chifres em forma de foice.

Alguns oficiais disseram que o uso dos búfalos no trabalho da polícia acarreta outro benefício: ajuda a reduzir as tensões.

“O fato de ser um sujeito montado num búfalo me torna mais abordável, facilitando um pouco meu trabalho”, comentou o policial Cláudio Vitelli, 45.

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A polícia militar brasileira é acusada de uma série de violações dos direitos humanos, como a morte de supostos inocentes.

Apesar do clima modorrento, a ilha de Marajó conhece as reações de revolta geradas por episódios desse tipo. Em 2011, depois de um policial matar um homem a tiros na cidade de São Sebastião da Boa Vista, moradores furiosos soltaram os presos da cadeia local, puseram fogo na delegacia de polícia, que foi completamente destruída, e fizeram os policiais fugir para outras partes da ilha.

Em Soure, onde o 8° Batalhão funciona numa pequena delegacia adjacente a um curral com dez búfalos, policiais dizem que a patrulha feita no lombo dos animais pode suavizar as tensões com a população, pelo fato de colocar os membros de baixo escalão da PM, conhecidos como soldados, em contato com pessoas que usam búfalos para transporte, agricultura e outros tipos de trabalho.

Os oficiais do 8° Batalhão dizem estar dispostos a dividir com outros seus conhecimentos e experiência com búfalos. Eles mencionam o Centro de Instrução de Guerra na Selva, do Exército brasileiro, que enviou instrutores a Marajó para aprenderem a usar os búfalos-do-pântano, no lugar de mulas e cavalos, para levar suprimentos a tropas na floresta.

“Meus amigos brincam comigo, dizendo que búfalo só serve para ser talhado em bifes, mas isso é ignorância”, falou o policial Emerson Cassiano, 42, da unidade de búfalos.

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“Pense no que o homem realizou desde que começou a andar no cavalo, em vez de apenas comer o animal. Nossa patrulha no lombo de búfalo pode ser o início de uma coisa grandiosa.”

Colaborou Lis Horta Moriconi, do Rio de Janeiro