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Elizabeth, 6, e sua terapeuta, Liz Miguel, durante programa; estima-se que 1 em cada 140 crianças seja seletivamente muda | Melissa Lyttle/SELECTIVE MUTISM
Elizabeth, 6, e sua terapeuta, Liz Miguel, durante programa; estima-se que 1 em cada 140 crianças seja seletivamente muda| Foto: Melissa Lyttle/SELECTIVE MUTISM

A fala é uma habilidade que a maioria das crianças acha natural. Mas não nesta sala de aula.

Doze crianças estão sentadas em círculo, trajadas para o “dia do pijama”. Algumas seguram um bichinho de pelúcia ou abraçam os joelhos. Um garotinho parece estar preocupado, mas ansioso, tentando criar coragem para falar.

“Quem vai ser o primeiro a me dizer que dia é hoje?”, pergunta a terapeuta Alejandra Golik, que comanda a aula. Todas as crianças, que têm entre seis e dez anos, sabem a resposta.

Depois de uma pausa que parece se arrastar muito, uma menina de dez anos sussurra: “Quinta-feira”. Sua resposta mal é audível. Mas não deixa de ser um avanço, e nesta sala de aula mesmo o sussurro mais baixo é aplaudido.

Algumas destas crianças não falam com ninguém que não seja de sua família há meses ou mesmo anos. Elas têm mutismo seletivo, um transtorno de ansiedade, e pavor de falar em situações sociais. Podem ser tagarelas em casa, mas na escola ou na presença de desconhecidos fazem silêncio e mantêm o rosto inexpressivo.

Especialistas estimam que uma em cada 140 crianças seja seletivamente muda. O problema normalmente começa antes dos cinco anos de idade. O tratamento envolve a terapia comportamental cognitiva, com modificações para as crianças que não falam com adultos desconhecidos, incluindo terapeutas. Se a terapia não funciona, podem ser receitados medicamentos, como o Prozac.

Agora, entretanto, pesquisadores estão adotando uma abordagem diferente: programas de imersão intensiva de uma semana de duração, como este, promovido pela universidade Florida International, em que crianças com mutismo seletivo são submetidas a exercícios diversos para praticar aquilo que mais as assusta.

A imersão em sala de aula pode funcionar em menos tempo que a terapia convencional, dizem alguns especialistas. “Com seis horas de prática por dia, as crianças têm tempo de processar, ajustar e treinar situações múltiplas, com exposição repetida”, disse Jami Furr, diretora do programa de mutismo seletivo do Centro da universidade para Crianças e Famílias. “A ideia é traduzir os ganhos para um ambiente de escola real, aquele em que as crianças apresentam a fala mais limitada.”

O programa de julho promovido pela Florida International teve 26 crianças participantes. Cada uma delas recebeu um terapeuta adulto que é chamado “amigo de coragem”, e a primeira tarefa foi tentar falar com ele (ou ela), com pai ou mãe presentes.

Mais tarde, em sessões sem a presença dos pais, os terapeutas ajudaram cada criança a fazer todas as atividades do dia, incluindo jogos de tabuleiro, gincanas e outros exercícios, que pouco a pouco foram exigindo que elas respondessem a perguntas em voz alta.

“Pensamos o programa como uma escada de coragem, na qual cada degrau representa um passo de dificuldade crescente, como, por exemplo, falar com uma pessoa nova, falar em voz mais alta ou falar em orações completas, em vez de apenas dar respostas de uma só palavra”, explicou Rachel Merson, psicóloga da Universidade de Boston, que promove um programa semelhante.

As crianças com mutismo seletivo frequentemente recebem diagnósticos equivocados, pois o transtorno é confundido com timidez. A demora em tratar o problema pode exacerbá-lo.

Existem vários programas de imersão nos EUA. Kurtz ajudou a iniciar um no Centro Médico Langone da Universidade de Nova York e outro no Child Mind Institute, em Nova York.

Mesmo depois de receber ajuda intensiva no programa da Flórida, algumas crianças não conseguiram falar audivelmente. Ao final da semana de imersão, quatro das 26 participantes ainda tinham dificuldade em falar em voz alta.

No último dia, muitas das crianças conseguiram pedir sozinhas um hamburguer na lanchonete da universidade. Mas Elizabeth, garotinha texana ruiva de seis anos, cochichou o que queria para sua terapeuta, que fez o pedido à garçonete.

“É frustrante não termos visto um avanço maior”, comentou Jonathan, pai de Elizabeth, pedindo que seu sobrenome não fosse publicado. “Por outro lado, ela já está falando com alguém que nunca tinha visto antes”, disse, ficando um pouco mais animado. “Isso é muito bom.”

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