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Em campos onde o gado pasta e o trigo cresce, um grupo de conservacionistas e doadores milionários alinhava seus planos de um Serengeti americano. Pouco a pouco, eles tentam construir um novo tipo de parque nacional, comprando antigas fazendas para criar uma reserva de pastagens com 10 mil bisões vagam e poucas cercas.

Os apoiadores consideram o projeto de financiamento privado, que já tem uma década, a última e melhor maneira de criar espaços públicos amplos em uma era de cortes de orçamentos e batalhas entre imobiliárias e conservacionistas.

"É um projeto para os EUA", disse George E. Matelich, presidente do grupo ambientalista American Prairie Reserve [Reserva da Pradaria Americana] e diretor-gerente de uma empresa de capitais privados em Nova York.

O problema é que muitas famílias fazendeiras do norte de Montana dizem que não querem participar do projeto e resistem. Dizem que conhecem o poder transformador das imobiliárias no oeste: cidades mineiras tornam-se paraísos do esqui, planaltos viram refúgios rurais para magnatas e as culturas mudam inevitavelmente.

"Não pretendemos vender", disse Leo Barthelmess, 57, que tinha oito anos quando sua família se instalou em uma fazenda de 10 mil hectares. "Temos crianças voltando. Estamos trabalhando em um plano de sucessão. Queremos que esta paisagem se mantenha para a próxima geração."

Barthelmess e outros fazendeiros dizem que famílias como as suas reconstruíram a pradaria, temporada após temporada, desde a destruição causada pelo Dust Bowl [tempestades de areia na década de 1930]. Eles trabalham com grupos de conservação, fazem rodízio dos rebanhos para incentivar uma mistura saudável de capins e reservaram amplo espaço para aves como maçaricos, perdizes e garças. Eles tentam arar menos terra, para não destruir o ecossistema subterrâneo. Alguns até permitem pequenas colônias de cães-da-pradaria, que muitos agricultores exterminam como pragas. "Já salvamos esta paisagem", disse Barthelmess.

Alguns fazendeiros também dizem temer que este recanto do condado de Phillips, com 4.128 habitantes, sacrifique sua identidade. Um outdoor próximo às estradas de cascalho informa aos visitantes que o município pode produzir gado suficiente para alimentar mais de 2 milhões de pessoas. "Esta é nossa subsistência, nosso negócio", disse Perri Jacobs. A família de seu marido dirige uma fazenda desde 1917.

Diretores da American Prairie Reserve dizem que são bons vizinhos. Seus 275 bisões não invadem as propriedades alheias, e a caça é permitida em suas terras. Eles também alugam parte da terra para que fazendeiros levem o gado para pastar.

Ainda assim, os perfis financeiros dos apoiadores da reserva criaram uma divisão em um município onde o emprego médio paga cerca de US$ 2 mil por mês, segundo a Universidade Estadual de Montana. O grupo, que tem gerentes de fundos e bilionários do varejo em seu conselho, angariou mais de US$ 63 milhões.

Sean Gerrity, presidente do grupo, estima que são necessários de 15 a 20 anos para concretizar a visão de mais de um milhão de hectares de pradaria preservada. Hoje o grupo possui cerca de 23 mil hectares e tem aluguéis de pastagens de 87 mil hectares em terras do governo federal.

O objetivo da reserva é reviver a paisagem que existia quando Meriwether Lewis e William Clark passaram por ali, no início dos anos 1800. Os participantes derrubaram 60 quilômetros de cerca, replantaram parte do solo arado com capins nativos, derrubaram celeiros e limparam montanhas de lixo. "A ideia é ter um ecossistema que funcione o mais naturalmente possível", disse Dick Dolan, que supervisiona aquisições e finanças para a reserva.

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