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Fidel Castro, à direita, e Che Guevara, à esquerda, jogando golfe em Cuba em 1961, fato que inspirou “Cubanacán” | Carlos Nunez/Prensa Latina via The Associated Press
Fidel Castro, à direita, e Che Guevara, à esquerda, jogando golfe em Cuba em 1961, fato que inspirou “Cubanacán”| Foto: Carlos Nunez/Prensa Latina via The Associated Press

Um tenor fazia o papel de Fidel Castro. Che Guevara era um barítono. Durante o ensaio de ópera ao ar livre aqui, eles jogavam golfe, com tacos comicamente enormes e cantando sobre Eisenhower, Kennedy e suas tacadas.

“Temos que construir o mais belo centro de artes no Clube de Campo”, canta Roger Quintana, o jovem tenor que interpreta Fidel Castro — tendo a ideia de transformar o campo de golfe, símbolo da riqueza e dos excessos pré-revolução, em um complexo de escolas de arte gratuitas.

Isso pode soar como fantasia de libreto, mas nesse caso há certa verdade. Em 1961, os dois revolucionários, trajando seus uniformes, maliciosamente decidiram jogar o que Castro um dia chamara de o “jogo dos ricos ociosos”.

E Castro realmente transformou o mais exclusivo Clube de Campo de Havana em um complexo de escolas de arte, mesmo não sendo exatamente como havia planejado. Alguns prédios nunca foram terminados, acabaram abandonados e invadidos pela vegetação. Outros abriram, e a nova ópera, “Cubanacán: a Revolução das Formas”, teve sua estreia no complexo durante a Bienal de Havana.

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A história que conta — a fundação do complexo, a decisão de contratar arquitetos ousados para construir edifícios fantásticos, quase surreais, o fracasso na finalização do trabalho e a decisão de alguns de seus arquitetos de deixar Cuba — é ambígua.

Ela fala sobre o idealismo utópico dos primórdios da revolução? Ou sobre sua incapacidade de atingir seus objetivos? Ou seria uma mistura dos dois? — dado que, mesmo que alguns dos edifícios estejam em ruínas, outros produziram gerações de artistas, incluindo muitos que trabalham nessa produção.

Charles Koppelman, cineasta da Califórnia, trabalha nessa opera há mais de uma década como libretista e produtor. Ele disse que nunca lhe pediram para mostrar seu libreto para autoridades do governo.

O compositor que contratou, Roberto Valera, 76 anos, uma figura ilustre da música cubana, disse que a ideia de retratar Fidel Castro e Che em uma ópera pode ter deixado algumas autoridades inquietas — “Nenhum cubano teria essa ideia”, ele disse — mas ele a defendeu, e vê a ópera capturar um momento significativo após a revolução.

Koppelman interessou-se pelo assunto depois de ver uma exposição sobre as escolas em San Francisco, feita por John A. Loomis, professor de Design de Interiores da Universidade Estadual de San Jose, e ficou intrigado com o livro de Loomis, “Revolution of Forms: Cuba’s Forgotten Art Schools” (Revolução das Formas: as Escolas de Artes Esquecidas de Cuba).

Valera disse que achava que o trabalho — encenado por uma orquestra de 54 integrantes, um pequeno coro e um elenco de jovens cantores cubanos — destacava a importância e a perseverança das escolas, onde dá aulas desde 1968.

“Apesar de todas as dificuldades, já ensinamos aqui mais de 90 por cento dos mais importantes artistas de Cuba, de todas as áreas — arte, música, artes plásticas, teatro, dança. De uma maneira ou de outra, 90 por cento deles passaram por aqui.”

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