Retardadores de chamas foram encontrados em pinguins na Antártida| Foto: Whybrow/Royal Navy Crown, via EPA

Pouco mais de dez anos atrás, Arnold Schecter, pesquisador de saúde pública no Texas, começou a encontrar traços de retardadores químicos de chamas no leite materno de mulheres americanas. Parece que os compostos passaram da gordura nos corpos das mães para seu leite.

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"A trajetória descrita não nos surpreendeu", Schecter comentou. O leite materno é rico em gordura, e os compostos que ele encontrou —éteres de difenila polibromados, ou PBDEs—ficam na gordura por muito tempo.

A pergunta real era como os retardadores de chamas estavam penetrando no corpo das mulheres. Uma fonte inesperada revelou ser os alimentos.

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Schecter estudou supermercados em Dallas e encontrou retardadores de chamas em produtos ricos em lipídios, incluindo manteiga, manteiga de amendoim, bacon, salmão, pimenta com feijão, frios fatiados e outros.

O uso das substâncias químicas aumentou na década de 1970, quando os fabricantes passaram a incluir materiais sintéticos e plásticos que queimam rapidamente. Hoje, cerca de 1,5 milhão de toneladas desses compostos é usada a cada ano no mundo.

Formulações diversas de retardadores de chamas são vinculadas a uma variedade de possíveis efeitos sobre a saúde, todos ainda sob estudos. Algumas parecem ser benignas, mas outras seriam carcinogênicas.

Algumas delas parecem interferir com o funcionamento normal de hormônios, especialmente os da tireoide, e outras, como os PBDEs, parecem afetar o desenvolvimento cerebral.

Algumas das substâncias mais antigas, como os PBDEs, estão deixando de ser usadas nos EUA e foram proibidas na Europa. Mas, pelo fato de terem sido criadas para serem resistentes, elas permanecem no ambiente.

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Retardadores de chamas já foram encontrados em pinguins da Antártida e orcas do Ártico; em falcões e corujas norte-americanos; nos ovos de aves na Espanha, peixes do Canadá e, indiretamente, em abelhas: foi encontrado mel do Brasil, Marrocos, Espanha e Portugal contaminado com as substâncias.

Esses compostos químicos também foram encontrados em residências e escritórios, trens e metrôs, automóveis e aviões.

Um estudo recente mostrou que as cabinas de aviões contêm níveis assustadores de retardadores que se desprendem de assentos, latas de lixo e até da cortina que divide a primeira classe da classe econômica. Os compostos também foram detectados em produtos para bebês.

"Se uma pessoa que vai acampar monta sua barraca num lugar de temperatura muito alta, parece que os compostos se desprendem do tecido da barraca", comentou Heather Stapleton, professora de ciências ambientais na Universidade Duke, na Carolina do Norte. "Nosso receio é que as pessoas os estejam absorvendo quando respiram."

As atividades humanas favorecem a difusão dos retardadores de chamas, mas eles se espalham principalmente devido a seu uso prolongado.

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Os compostos muitas vezes são pulverizados sobre tecidos e espumas usados em móveis, em lugar de ser fundidos com os materiais. Assim, vão se desprendendo aos poucos. Com frequência, se prendem à poeira.

No momento, não existe muito o que se possa fazer para limitar nossa exposição aos compostos.

Asa Bradman, diretor associado do Centro de Pesquisas Ambientais e Saúde Infantil da Universidade da Califórnia, em Berkeley, recomenda lavar as mãos e usar o aspirador de pó.

O professor de biologia R. Thomas Zoeller, da Universidade do Massachusetts Amherst, estuda o efeito deles sobre a tireoide.

Ele disse: "Antes de usar compostos que podem acabar em todo lugar, deveríamos nos perguntar se são necessários".

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