Ghalla Sid Ahmed e sua mãe vivem em um povoado isolado no deserto, sobrevivendo graças a cinco cabras e a uma pensão de guerra. Exiladas há 40 anos, elas são impedidas de chegar à sua terra por uma muralha de areia patrulhada constantemente que se estende por 2.500 quilômetros nesta parte remota do Saara.

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Elas são vítimas de um dos últimos conflitos remanescentes da Guerra Fria. Os combates cessaram há 24 anos, desde que foi acordado um cessar-fogo monitorado pela ONU entre o Marrocos e a Frente Polisário, movimento de resistência anticolonial que luta pela independência do Saara Ocidental.

Mas tampouco houve paz, apesar das promessas (não cumpridas) de um referendo para determinar o status do Saara Ocidental.

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Hoje os habitantes do território se mobilizam para buscar uma solução, mesmo que pela guerra. “Gostamos daqui”, disse Ahmed, 51, “mas é muito difícil viver sem independência e sem o resto de nossas terras. Ninguém quer guerra, mas, se a paz não trouxer resultados, então eu darei todos meus filhos para conquistar a independência.”

O Saara Ocidental se estende da Argélia e da Mauritânia, no leste, até a costa do Atlântico.

O Marrocos ocupa a maior parte do território, e soldados marroquinos patrulham a muralha de areia erguida originalmente para fortificar a linha de frente no conflito, mas que ainda divide os habitantes nativos, algumas centenas de milhares de nômades berberes, ou sarauís.

Uma força das Nações Unidas monitora o cessar-fogo a partir de meia dúzia de campos. Ao leste, a Frente Polisário controla uma faixa estreita de território e um grupo de campos de refugiados na Argélia. O Polisário ainda é a única entidade que rege a comunidade refugiada. Sua mensagem socialista de solidariedade na luta pela independência não é questionada.

Soldados do Polisário patrulham o deserto, enquanto civis, muitos dos quais mulheres, administram serviços educativos e sociais. Dirigentes do movimento dizem que, quando houver independência, vão adotar uma democracia pluripartidária.

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O Saara Ocidental foi um protetorado da Espanha no passado. Em 1975, ele foi ocupado pelo Marrocos e brevemente pela Mauritânia. Os sarauís tinham formado uma resistência armada contra os espanhóis e depois passaram a combater o Exército marroquino.

Eles formaram a Frente Polisário em 1973, um movimento guerrilheiro socialista de estilo latino-americano que recebeu apoio de Cuba, da Líbia, da Argélia e, mais tarde, da África do Sul pós-apartheid. A vizinha Argélia, que abriga os refugiados sarauís, ainda é a maior fonte de apoio do Polisário.

Embora gerações estejam crescendo sem nunca terem conhecido sua pátria de origem, a sede de independência não diminuiu. Um grupo de jovens que caminhava de suas tendas para o centro de Tifariti citou apenas um problema em sua vida: “O Marrocos”.

O Marrocos já desistiu há muito tempo do referendo aventado e insiste que os sarauís aceitem a autonomia dentro do reino do Marrocos. O país reage fortemente contra a oposição. Em 2010, desmontou um acampamento de protesto de sarauís e encarcerou ativistas. Em novembro passado, o rei Mohamed 6°, do Marrocos, declarou que o Saara Ocidental vai continuar a fazer parte do Marrocos por toda a eternidade.

Mas os moradores de Tifariti não esquecem as promessas de assistência dadas por outros países. “Quero que você leve aos EUA uma mensagem de pedido de ajuda, ajuda para conquistarmos a independência”, falou outra das filhas de Ahmed, Tofa, 58. “Somos um povo; fomos atacados em nossa terra e tratados injustamente. Só queremos nossa terra.”

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Colaborou Amir Jalal Zerdoumi

O Marrocos e a Frente Polisário reivindicam o Saara Ocidental