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Os extremistas que conquistaram vastas porções da Síria e do Iraque chamaram a atenção do mundo pela destreza militar e brutalidade irrestrita. Porém, os serviços de inteligência ocidentais também estão preocupados com seu comando sobre armas aparentemente menos mortais: vídeos de primeira, imagens aéreas obtidas com drones e mensagens em vários idiomas no Twitter.

O Estado Islâmico no Iraque e Levante (EIIL) está empregando o estilo contemporâneo de comunicação para recrutar combatentes, intimidar inimigos e promover a afirmação de ter estabelecido um califado, um estado muçulmano governado de acordo com uma interpretação severa da lei islâmica.

E embora o EIIL possa ter sido construído com derramamento de sangue, ele parece decidido a demonstrar o tino burocrático do estado que afirma estar construindo. Seus dois relatórios anuais divulgados até agora estão repletos com uma espécie de escrituração contábil ao estilo jihadista, acompanhando estatísticas sobre tudo, de "cidades tomadas" e "assassinatos a faca" cometidos por suas forças a "pontos de controle montados" e até mesmo "apóstatas arrependidos".

De forma impressionante, a propaganda política do EIIL apresenta poucas convocações de ataques ao Ocidente, o que o diferencia da Al Qaeda, que fez dos ataques a alvos ocidentais sua maior prioridade.

A ação de imprensa do EIIL centra sua campanha em termos monumentais, atacando as divisões e fronteiras do Oriente Médio desenhadas pelas potências ocidentais depois da I Guerra Mundial. Essas "divisões de cruzados" e seus líderes árabes modernos, como afirma o EIIL em sua revista publicada em inglês, compõem a estratégia de dividir para conquistar criada para impedir a unificação dos muçulmanos "sob um imã, carregando a bandeira da verdade".

Esse ressentimento histórico é um assunto antigo para a Al Qaeda e grupos islâmicos mais moderados. A diferença é que ao capturar território e armas, e se abarrotar de dinheiro por meio de sequestros, pirataria envolvendo petróleo, roubo a bancos e extorsões, o EIIL afirma ter dado um grande passo para corrigir o que considera um equívoco antigo.

A rebelião militante na Síria e no Iraque atraiu dois mil ocidentais, sem falar nos muitos milhares do Oriente Médio e de outros lugares. Especialistas acreditam que a maioria dos que ainda permanecem agora estão combatendo pelo EIIL.

"A percepção de vitórias rápidas, territórios, armas e bases significa que eles não precisam se esforçar muito para recrutar", afirmou Emile Nakhleh, ex-analista da CIA.

Em seu entender, durante duas décadas Osama bin Laden falou em reestabelecer o califado. "Os jovens veem o EIIL e dizem: ‘Caramba, eles estão conseguindo!’ Eles veem vídeos com combatentes montados em grandes tanques". Dezenas de contas no Twitter divulgam sua mensagem, e o EIIL publicou discursos em sete idiomas. Os vídeos são inspirados em Hollywood e jogos de guerra. Quando as contas são bloqueadas, novas surgem de imediato. Ele também usa serviços como JustPaste para publicar resumos de batalhas, SoundCloud para divulgar relatórios em áudio, Instagram para compartilhar imagens e o WhatsApp para espalhar gráficos e vídeos.

A Al Qaeda ressaltou várias vezes a vantagem de a rede terrorista dispor de partidários com passaportes ocidentais e poder atacar em seus países. Porém, um rito de passagem público comum dos novos recrutas do EIIL é rasgar ou queimar seus passaportes, representando o compromisso de não voltar atrás.

Um vídeo refinado do EIIL apresenta um recruta canadense chamado Andre Poulin conclamando muçulmanos da América do Norte a seguirem seu exemplo – e até a trazer suas famílias. "Você seria muito bem cuidado aqui", ele disse no vídeo. "Suas famílias viveriam seguras aqui, da mesma forma que em casa. Você sabe que temos vastos territórios aqui na Síria".

Os vídeos em inglês não ignoram os perigos da luta; o vídeo de Poulin, por exemplo, apresenta e celebra sua morte em batalha. Porém, o recado a quem fala inglês é, todavia, muito mais suave do que os em árabe, que se valem de cadáveres de inimigos e apresentam prisioneiros algemados metralhados sem cerimônia.

Em outro vídeo de recrutamento em inglês, um combatente britânico identificado como irmão Abu Bara al-Hindi apresenta o chamado à guerra como um teste para os ocidentais que gozam de bem-estar. "Você está disposto a sacrificar seu emprego, seu carrão, a família?", ele pergunta. Apesar desses luxos, ele declara, "eu sei como é morar no Ocidente, no fundo você se sente deprimido". Segundo o combatente, o profeta Maomé afirmou que "a cura para a depressão é a jihad".

Combatentes britânicos responderam aos milhares às perguntas sobre se juntar ao EIIL no site Ask.fm, incluindo que tipo de sapato levar e se escovas de dente estão disponíveis. Quando questionado sobre o que fazer ao chegar à Turquia ou Síria, os combatentes costumam responder: "Mande um Kik para mim", referindo-se ao programa para comunicação instantânea para smartphones, para continuar a discussão em particular.

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