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A sonda Curiosity, da Nasa, registrou presença de metano, substância que pode ser resultado da presença de micróbios | NASA
A sonda Curiosity, da Nasa, registrou presença de metano, substância que pode ser resultado da presença de micróbios| Foto: NASA

Vida em Marte? Hoje? A ideia pode afinal não ser tão disparatada.

Um ano depois de informar que a sonda Curiosity, da Nasa, não havia encontrado nenhum indício de gás metano em Marte, praticamente eliminando as esperanças de que haja organismos vivos no planeta vizinho, os cientistas voltaram atrás. A sonda Curiosity registrou emissões de metano que duraram pelo menos dois meses.Por enquanto, os cientistas têm apenas duas explicações para a presença dessa substância. Uma delas é que seja um resíduo deixado por certos micróbios vivos. "É uma das hipóteses que podemos propor e que devemos levar em conta daqui por diante", disse o cientista-chefe da missão, John Grotzinger.

Os cientistas também relataram que, pela primeira vez, confirmaram a presença de moléculas orgânicas à base de carbono em uma amostra de rocha. Os chamados compostos orgânicos não são sinais explícitos de vida passada ou presente, mas conferem peso à possibilidade de Marte já ter tido os ingredientes necessários para a vida, e talvez ainda tê-los.Os cálculos indicam que a luz solar e reações químicas na atmosfera marciana poderiam romper as moléculas no prazo de alguns séculos. Por isso, o metano presente agora deve ter sido criado recentemente.

Um processo geológico conhecido como serpentinização, que exige simultaneamente calor e água em estado líquido, pode ter sido responsável por isso. Ou então o metano pode ser resultado da presença de micróbios conhecidos como metanogênicos, que liberam metano como resíduo.

Ainda que a explicação para o metano seja afinal geológica, os sistemas hidrotérmicos seriam locais privilegiados para a busca por sinais de vida. As novas descobertas, descritas de forma detalhada em um artigo na revista "Science", contrariam as conclusões de um ano atrás, quando cientistas disseram que a Curiosity não havia encontrado sinais de metano.

Desde então, a Nasa aprimorou suas medições e detectou a presença de 0,7 parte de metano por bilhão. Isso é metade do previsto, o que motiva outro mistério: de alguma forma, o metano também está sendo destruído.

Mas, em novembro de 2013, dois meses após os cientistas relatarem a ausência de metano, a sonda mediu níveis de metano dez vezes maiores. "Foi um momento de surpresa", disse Christopher Webster, do

Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, principal autor do artigo na "Science".Os níveis de metano permaneceram altos até pelo menos o final de janeiro. Uma medição anterior, em julho, também havia sido elevada, embora caísse pela metade uma semana depois —e a margem de erro deixava dúvidas sobre o que estava acontecendo. A Curiosity não fez nenhuma medição de metano entre julho e novembro de 2013.Sushil Atreya, que leciona na Universidade de Michigan e participa da equipe científica, disse ser possível que os níveis elevados de metano tenham durado de julho a janeiro. "Pode ter sido mais de seis meses", disse ele, "mas não sabemos". Levando-se em conta a rapidez do seu surgimento e desaparecimento, foi uma erupção de metano relativamente pequena, suspeitam cientistas da missão.Há uma década, três equipes científicas relataram ter detectado metano na atmosfera marciana —duas delas por intermédio de observações da Terra, e outra usando a sonda Mars Express, da Agência Espacial Europeia.

Todas as medições foram feitas no limite da capacidade dos instrumentos, e o metano parecia ter sumido dois anos depois. Se isso for verdade, significa não só que algo está criando metano em Marte, mas também que outra coisa o está destruindo rapidamente.

Muitos cientistas que estudam Marte concluíram que uma solução mais simples para o mistério do metano seria atribuir as variações a erros de medição —uma hipótese reforçada pela ausência de metano relatada pela equipe da Curiosity no ano passado.

Agora, segundo Grotzinger, a questão "está de volta à mesa".Michael Mumma, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, em Greenbelt (Maryland), que comandou uma das equipes que relataram a presença de grandes nuvens de metano na atmosfera marciana em 2003, com base em medições feitas da Terra —e que não voltou a encontrar metano desde 2005—, disse que os novos dados são "agradáveis", após anos de dúvidas por parte dos críticos.

As novas medições da Curiosity "confirmaram essa realidade surpreendente de que o metano está sendo liberado esporadicamente e está sendo destruído rapidamente", disse ele. "Ambos os fatos são surpreendentes." Quanto às moléculas orgânicas, eles apareceram em um bloco de lamito apelidado de Cumberland, que a Curiosity perfurou em maio de 2013.

Dentro da Curiosity fica um minilaboratório químico que já detectou quantidades significativas da molécula orgânica clorobenzeno, em concentrações muito superiores às que haviam sido vistas em outras rochas previamente examinadas.Os cientistas passaram meses analisando se os compostos orgânicos estavam na Cumberland ou numa contaminação trazida da Terra pela Curiosity. "Você não quer ser vítima de uma falsificação", disse Grotzinger.

Os cientistas ainda não têm certeza de que a Cumberland continha clorobenzeno, composto que não ocorre naturalmente na Terra, ou se essa substância foi o resultado de reações químicas envolvendo outras moléculas orgânicas na rocha quando ela foi aquecida. Mas eles se convenceram de que o carbono orgânico é marciano.

"A Curiosity foi em parte construída para explorar compostos orgânicos", disse Grotzinger, "e nós os achamos".

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