• Carregando...
Buraka Som Sistema mistura música angolana com nuances caribenhas. Abaixo, moradores de Buraca, um subúrbio de Lisboa | fotografias de patricia de melo para The New York Times
Buraka Som Sistema mistura música angolana com nuances caribenhas. Abaixo, moradores de Buraca, um subúrbio de Lisboa| Foto: fotografias de patricia de melo para The New York Times

Em uma quente e enluarada noite de outono, a banda Buraka Som Sistema subiu ao palco em um festival ao ar livre aqui. Andro Carvalho, conhecido como Maestro, cantava aos brados enquanto Blaya, a frontwoman da banda, dançava ao redor em cintilantes shorts curtos. "De Portugal para o mundo!" o outro vocalista, Kalaf Angelo, gritou para a multidão que ia de pré-adolescentes até aposentados, todos dançando ao ritmo intenso.

Fundada em 2006, a banda mistura kuduro, um tipo de música dançante angolana nascida na década de 80, com música eletrônica e nuances caribenhas. Em um país conhecido pelo triste fado — e pela tristeza geral trazida pela crise do euro — a banda revela o lado de Portugal e da Europa que é um caldeirão musical multiétnico. Um pós-colonialismo dançante.

"Eles são o oposto de fado," disse Vitor Belanciano, crítico de música do jornal lisboeta Público.

O grupo de cinco membros, que já fez turnês pelo mundo inteiro, lançou em setembro seu mais recente álbum, "Buraka".

Ao crescerem em Amadora, um subúrbio de classe média baixa de Lisboa, os fundadores portugueses da banda, João Barbosa, de 34 anos, conhecido como Branko, e Rui Pité, de 36, apelidado DJ Riot, costumavam ouvir sons africanos vindo das janelas dos carros. Na adolescência, caíram no mundo dos clubes de Lisboa, no auge da Europa com fronteiras abertas e passagens aéreas baratas, que facilitavam viajar para ouvir novos sons, e no mundo do Myspace, YouTube e, agora, o SoundCloud .

Chamaram a banda de Buraca, a região da classe trabalhadora da Amadora, com uma grande população de imigrantes de Angola e Moçambique, antigas colônias portuguesas, e usaram a letra K porque parecia mais legal.

Conheceram novos sons através de amigos e de CDs piratas de kuduro. "O som era feito na cidade" disse Angelo, o vocalista de 36 anos que veio de Angola para estudar quando tinha 17 anos.

"Apesar de ser muito local, existe um apelo global — há a comunicação com diferentes cenas. A cena do Rio de Janeiro pela cena da Jamaica — todos esses movimentos de alguma forma fazem sentido em grande escala", acrescentou ele, falando no pequeno estúdio da banda no centro de Lisboa.

A banda já percorreu o mundo, incluindo Angola, Moçambique, a América Latina — onde fez seu maior show até agora, para uma platéia de 150.000 em Bogotá, na Colômbia — Rússia, Japão e Estados Unidos. Eles procuram novos sons da América do Sul e da África pela internet.

O Buraka Som Sistema "é um exemplo típico da música urbana, que é criada, misturada e desenvolvida nos subúrbios das grandes cidades europeias", disse Marc Benaiche, fundador da revista on-line parisiense Mondomix. "É uma mistura nova e genuína e é por isso, de certa forma, que funciona tão bem. É uma música que fala muito aos jovens, porque eles cada vez mais são de etnia mista", acrescentou.

Os membros da banda vêm de uma geração de múltiplas identidades, até mesmo em suas famílias. O pai de Pité, que é meio índio, é de Moçambique, e sua mãe é portuguesa. O pai de Carvalho é angolano, e sua mãe é cubana; agora com 34 anos, Carvalho passou parte da sua infância em Cuba e se mudou para Lisboa aos 18. Agora está tirando o passaporte de Cabo Verde, terra de sua esposa. "Ele é o Jason Bourne do terceiro mundo", disse Barbosa para provocá-lo.

Os três álbuns da banda e um EP venderam juntos mais de 100.000 cópias, mas a maioria dos rendimentos vem de apresentações ao vivo. Pité, Barbosa e Carvalho também trabalham como DJs. Angelo escreve uma coluna para o jornal Público e está escrevendo um romance.

Blaya, de 27 anos, cujo nome é Karla Rodrigues, dá aulas de dança. Após o show ao ar livre, muitos adolescentes pediram seu autógrafo. "Você é tão bonita e dança tão bem", disse-lhe uma garota brasileira com uma imagem de seus avós tatuada na perna.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]