Soldados franceses patrulham estação de trem em Paris; ferrovias do continente garantem pouca segurança| Foto: Binta/AP

Depois de um jovem marroquino ter tido frustrado seu aparente plano de promover uma chacina em um trem expresso rumo a Paris, cresceram as dúvidas das autoridades europeias em relação a quais medidas adicionais podem ser adotadas para evitar ataques contra alvos vulneráveis sem paralisar os espaços públicos ou adotar medidas de vigilância ainda mais intrusivas.

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As medidas de segurança e vigilância já tinham chamado a atenção das autoridades para o rapaz, Ayoub El Khazzani, 26. Ele era um dos milhares de europeus que apareceram no radar das autoridades como potenciais ameaças, depois de viajarem à Síria.

O grande número de militantes suspeitos, somado à multiplicação de alvos potenciais, impõe às autoridades europeias uma tarefa de vigilância que elas reconhecem ser quase impossível.

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Especialistas em segurança temem que a escala do desafio possa gerar um novo clima de incerteza no continente.

Na realidade, as autoridades de pelo menos dois países já sabiam muito sobre Khazzani antes de ele ganhar notoriedade, em 21 de agosto: ele constava de uma lista francesa de ameaças à segurança, e as autoridades da Espanha disseram à imprensa que ele tinha viajado à Síria.

No entanto, mesmo com tudo que as autoridades já sabiam a seu respeito, ele conseguiu embarcar, provavelmente na Bélgica, no trem de alta velocidade de Amsterdã a Paris, carregando um saco de armamentos, sem enfrentar qualquer obstáculo.

“Hoje estamos diante do terrorismo imprevisível”, disse o consultor francês de segurança Jean-Charles Brisard. “De agora em diante, os terroristas vão escolher alvos ‘soft’ —os que têm pouca segurança.”

Alguns especialistas disseram que o controle da movimentação entre países europeus de suspeitos que possuem permissão de residência na Europa é fraco.

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Graças às fronteiras abertas dos países da União Europeia, não há “controle sistemático da passagem de europeus” ou de pessoas com cartão de residência em um país europeu, “apenas de estrangeiros”, disse Brisard.

Com extremistas resolutos, 40 milhões de passageiros por dia e 100 mil trens, garantir a segurança das redes ferroviárias da Europa é um desafio que não deve ser resolvido no futuro próximo ou em qualquer momento, disseram especialistas em segurança.

Para eles, o problema é que os trens, as estações e os milhares de quilômetros de estradas de ferro da Europa são muito diferentes dos espaços controlados dos aeroportos. Em Paris, meia dúzia de grandes estações ferroviárias são como vilarejos pelos quais passa um fluxo constante de pessoas todos os dias, sem qualquer controle. As estações foram projetadas décadas atrás, quando os problemas de segurança de hoje não eram cogitados.

Para os especialistas, a adoção de postos de controle de segurança e revistas de passageiros e bagagens não apenas tornaria as viagens mais demoradas como superaria a capacidade física das estações de trem urbanas.

Até agora, os únicos serviços de trens da Europa onde passageiros e suas bagagens passam por controles sistemáticos são os da Eurostar, que liga o Reino Unido à França e Bélgica, além de algumas linhas de alta velocidade para a Espanha. Em outras linhas, os sistemas de segurança utilizam câmeras de vigilância, policiais uniformizados ou à paisana e cães farejadores de bombas.

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O cenário mais plausível é o retorno à situação que prevaleceu na França em meados dos anos 1990, após uma série de ataques islâmicos contra trens e estações ferroviárias. Por um breve período, militares fizeram patrulhas nos trens e as bagagens passaram por revistas.

“O sistema ferroviário será um dos principais alvos ‘soft’, pois hoje os trens estão muito desprotegidos”, disse Bertrand Monnet, especialista francês em terrorismo e riscos.

Para ele, durante anos, “o alvo simbólico dos terroristas foi o transporte aéreo, mas esse alvo se tornou muito difícil de atingir”.

Os trens são um alvo evidente, para ele. “Milhões de pessoas dirão ‘poderia ter sido comigo’. A questão não era se isso ia acontecer, mas quando.”

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