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Há certo tempo, os jornalistas paquistaneses eram vistos como defensores da democracia. Mas um ataque armado a Hamid Mir, o locutor mais famoso da televisão, parece ter mudado tudo, e praticamente provocou uma guerra interna nos meios de comunicação.

Em questão, estão as alegações que foram ao ar na Geo News, onde Mir é funcionário, de que a agência de espionagem das forças militares, o Diretório para Interserviços de Inteligência (ISI, sigla em inglês), estava por trás do atentado de 19 de abril, no qual Mir foi baleado seis vezes enquanto se dirigia para o estúdio televisivo em Karachi.

Mesmo os críticos do ISI acharam que os ataques pessoais à estação, que destacou o chefe de espionagem do ISI, foram apressados e prematuros. Estações rivais levaram a controvérsia adiante, questionando a motivação de Mir na época em que o ISI estava tentando formalmente fechar a Geo para sempre.

As trocas de farpas expuseram os aspectos preocupantes da revolução nos meios de comunicação do Paquistão: além da campanha conjunta das forças militares para amordaçar a imprensa, existem as brigas dos barões da mídia, provocadas por preocupações comerciais e ressentimentos pessoais.

"Se o bom senso não prevalecer, toda a liberdade de imprensa que já conquistamos estará perdida", declarou Zaffar Abbas, editor do jornal Dawn, que se absteve da discussão.

Desde 2007, quando a televisão fez a cobertura dos protestos que levaram à destituição do General Pervez Musharraf, os meios de comunicação ganharam força por aqui. Os apresentadores de programas de entrevistas do horário nobre como Mir se tornaram figuras poderosas, e alguns novos magnatas da mídia fizeram fortunas.

Enquanto isso, 34 jornalistas morreram no cumprimento do dever, segundo a Anistia Internacional.

Há algum tempo, temos o aumento das tensões entre o ISI e o Grupo Jang, o maior conglomerado de comunicações do país e dono do Geo News.

O dono do Grupo Jang, Mir Shakil ur-Rehman, que mora com duas esposas em Dubai, chegou a acreditar no ano passado que o ISI era patrocinador de uma nova estação de TV, a Bol. Os seus jornais publicaram reportagens hostis à Bol, e as empresas de comunicações concorrentes contra-atacaram com artigos que retratavam a Geo como simpatizante da Índia.

Em novembro, Ibrahim, filho de Rehman e diretor executivo da Geo, declarou ter recebido ameaças do "ISI ou de um dos seus representantes". Mir alegou que o ISI tentou atraí-lo para fora da estação, além de ameaçar a sua vida.

O seu irmão, Amir Mir, acusou o ISI de orquestrar o ataque a Mir em um depoimento emocionado que foi ao ar na Geo, quase sempre com uma foto de fundo do diretor geral do ISI, o General Zaheer ul-Islam.

Mir, que ficou famoso após entrevistar Osama bin Laden em 1998, defendeu nos últimos anos a causa dos nacionalistas de Baluquistão, revelando abusos dos direitos humanos durante as operações militares.

Em uma declaração divulgada por seu irmão, Mir em recuperação prometeu "continuar a luta pelos direitos das pessoas até a última gota de sangue".

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