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Muita coisa pode dar errado num revezamento da tocha olímpica de 64 mil Km, e tem dado. Trecho da viagem, no Lago Baikal | Comitê organizador de Sochi 2014
Muita coisa pode dar errado num revezamento da tocha olímpica de 64 mil Km, e tem dado. Trecho da viagem, no Lago Baikal| Foto: Comitê organizador de Sochi 2014

Já foi muito ruim quando a chama olímpica apagou e teve de ser reacendida por um isqueiro descartável e não com a chama oficial de reserva, e ainda pior quando um portador da tocha conseguiu atear fogo a si mesmo na cidade siberiana de Abakan.

Porém, talvez o ponto baixo no que pareceu mais um exercício de inépcia e azar do que o revezamento de uma tocha olímpica tenha se dado quando um dos corredores que a carregavam para os Jogos de Sochi sofreu um infarto fatal enquanto tentava caminhar seu trecho, de cerca de 200 metros.

"Ele voltou ao ponto de encontro, foi fotografado, depois disse que não estava se sentido bem e foi levado ao hospital, mas os médicos não conseguiram salvá-lo", declarou aos repórteres Roman Osin, porta-voz do revezamento da tocha olímpica de Sochi 2014, em referência ao diretor esportivo de uma escola e treinador de luta greco-romana de 73 anos.

"Nós expressamos nossas mais profundas condolências a seus entes queridos."

Quem sabe algumas experiências ruins sejam rotina num empreendimento que, a exemplo de muitas coisas ligadas aos Jogos Olímpicos de Sochi, foi baseado em superlativos, querendo ser maior, melhor e mais emocionante do que qualquer revezamento de tocha acontecido antes.

Com aproximadamente 64 mil quilômetros de extensão, a rota é a maior na história olímpica, serpenteando pelo Polo Norte, sob a água no Lago Baikal e subindo ao espaço.

Catorze mil pessoas estão participando do evento, um recorde, e elas estão se deslocando de vários modos: a pé, de avião, de trem, carro, veículo para neve, quebra-gelo, propulsor a jato, descendo de tirolesa, de trenó, a cavalo e de camelo.

Esperando usar as Olimpíadas como forma de exibir a variada paisagem natural do país e uma capacidade organizacional superior, as autoridades russas naturalmente gostariam de apresentar a situação da forma mais favorável possível.

Por exemplo, apesar dos diversos relatos e provas em vídeo sugerindo que a chama apagou perto de 50 vezes, o discurso oficial é de que ela somente parou de queimar três vezes até agora, garantiu Osin. E somente uma vez, salientou o porta-voz, ela teve de ser acesa por um isqueiro.

"Foi só um pé de vento", ele declarou a respeito do incidente, que aconteceu nas dependências do Kremlin, no segundo trajeto de um revezamento com 14 mil trechos. "O portador da tocha que estava correndo ficou morrendo de medo e não sabia o que fazer, pedindo ajuda do guarda, e o guarda" – aqui ele fez uma pausa – "o auxiliou, com o único equipamento à mão".

Não se sabe o que aconteceu ao guarda.

Também segundo Osin, a chama somente incendiou pessoas em três ocasiões, e nunca de forma perigosa.

Carregar a tocha não é tão fácil quanto parece. De acordo com J. J. Fetter, medalhista olímpico do iatismo que correu em dois revezamentos de tocha, para começo de conversa o objeto é pesado e é necessário levá-lo num ângulo incômodo.

"Você fica nervoso com medo de tropeçar e não dá para correr com o braço indo para frente e para trás como parte de uma passada normal, pois assim você estaria acenando com a chama", ele explicou. "A ideia não é botar fogo no próprio cabelo ou no de outra pessoa."

Além disso, as tochas costumam se sair melhor quando estão paradas, assegurou Jennifer Grosshandler, diretora de marketing da Tiki Torches.

"Não recomendo correr com ela", afirmou Grosshandler.

A chama olímpica não é eterna, sendo acesa poucos meses antes de cada edição das Olimpíadas, afirmou Bill Mallon, ex-presidente da Sociedade Internacional de Historiadores Olímpicos.

O fogo vem do templo de Hera, em Olímpia, Grécia, onde é aceso de forma cerimonial por uma "sacerdotisa grega supostamente virgem", que utiliza os raios solares num espelho parabólico.

Segundo Osin, em geral os organizadores podem esperar um índice de mau funcionamento da tocha de cinco por cento nos revezamentos que antecedem os jogos, já o da Rússia é de apenas dois por cento.

Em 1988, em Seul, Coreia do Sul, vários pombos libertados durante a cerimônia de abertura voaram para a pira olímpica e morreram assados.

Nas Olimpíadas de Inverno de 1956, em Cortina, Itália, Guido Caroli, patinador de velocidade no gelo, entrou na arena e tropeçou num cabo de microfone, terminando sentado no chão, ainda agarrado à tocha.

"Ele sempre afirmou com orgulho que a chama não se apagou", disse Mallon.

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