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Deveria tornar-se o Museu da Corrupção, um troféu da revolução de fevereiro na Ucrânia e um monumento à determinação dos seus novos líderes de acabar com a ilegalidade e a mesquinhez que marcaram as duas primeiras décadas de independência deste país.

Mais de seis meses depois que os manifestantes tiraram o Presidente Viktor F. Yanukovych do poder, no entanto, sua luxuosa propriedade ao norte da capital Kiev mostra como a transição é difícil.

"Esse foi o principal símbolo da nossa revolução, foi a nossa Bastilha", disse Yuriy Syrotiuk, membro do parlamento ucraniano que, um dia depois de Yanukovych fugir Kiev, em 21 de fevereiro, promulgou uma lei ordenando que a propriedade fosse transferida para o Estado.

Em vez disso, a residência de Yanukovych, com quadras de tênis, um campo de golfe, zoológico pessoal, heliporto e vários alqueires de jardins, cujo valor estimado pode passar de US$ 1 bilhão, é agora "o símbolo da incapacidade de o país funcionar normalmente", disse Syrotiuk.

Seu projeto, que virou lei em 24 de fevereiro, determinava que a propriedade de Yanukovych fosse assumida pelo Estado no prazo de 10 dias. Isso não aconteceu.

O plano afundou em meio à confusão jurídica e às discussões sobre o controle do refúgio opulento de Yanukovych, que inclui peças de banheiro de ouro, um piano de cauda Steinway branco e uma mistura variada de aves exóticas, cervos e outros animais.

Denys Tarachkotelyk, chefe de uma empresa de transporte que apoiou os protestos na Praça da Independência de Kiev, chegou à residência de Yanukovych, conhecida por Mezhyhirya, na manhã seguinte à fuga do Presidente e conseguiu impedir que outros revolucionários se apossassem da propriedade.

Apoiado por antigos manifestantes da Praça da Independência e agora por combatentes voluntários que voltam da guerra, Tarachkotelyk, o "comandante" autodeclarado da propriedade de 140 hectares, manteve os pretensos saqueadores e vândalos afastados e, argumentando que os burocratas corruptos só querem enriquecer, tem resistido às ordens do governo, que exigem que ele entregue seu domínio a uma empresa agrícola.

"Muitas pessoas querem tomá-la. Estão jogando o mesmo jogo", disse Tarachkotelyk, falando da varanda de seu escritório, em um hotel conhecido como "Casa de Putin", por causa de rumores de que o Presidente da Rússia, Vladimir V. Putin, hospedou-se lá uma vez. "Yanukovych sumiu, mas um exército de burocratas ficou para trás. E só pensam em se apropriar de alguma coisa".

Mas, enquanto critica políticos e funcionários, o próprio Tarachkotelyk vem sendo acusado de roubo.

"Quem é esta pessoa? Ele não é ninguém", disse Syrotiuk. Ele disse que o objetivo do Tarachkotelyk era manter o controle do fluxo de caixa gerado pela venda de ingressos a visitantes.

A campanha militar no leste da Ucrânia contra rebeldes pró-Russia, objeto de um cessar-fogo no início de setembro, tem ajudado a manter a frustração com os novos líderes da Ucrânia em cheque. E mesmo os mais fervorosos críticos reconhecem que o Presidente Petro O. Poroshenko, rico empresário eleito em maio, ainda evita a ganância associada a Yanukovych.

Quando Tetyana Chornovol, que apoiou os protestos em Kiev, anunciou sua renúncia como líder de uma nova agência de combate à corrupção, muitos ficaram alarmados. Ela reclamou que seus esforços se afogaram em um "pântano burocrático".

"Nosso país está muito doente, carece de patriotismo e não se pode esperar coisas melhores do governo agora", escreveu Chornovol, cujo marido foi morto recentemente na luta contra os rebeldes perto de Donetsk, em um artigo explicando sua partida.

O Ministro da Economia, Pavlo Sheremeta, também renunciou, frustrado com a lentidão da reforma.

Tarachkotelyk diz que tem usado o dinheiro arrecadado com a venda de ingressos não só para pagar os salários dos 145 membros da equipe, mas também para comprar capacetes, coletes à prova de balas e outros equipamentos para soldados. Ele também se orgulha de comprar comida para alimentar a dezenas de combatentes que se recuperam na propriedade, bem como cerca de 80 refugiados.

O ingresso para conhecer a residência de Yanukivych custa pouco mais de um dólar, e a visita guiada pode chegar a US$15. O número de visitantes caiu desde fevereiro, mas dezenas de milhares ainda a visitam nos fins de semana. Mais dinheiro vem de barracas de comida e operadoras de tours, mas o valor total e seu destino não são claros.

Tarachkotelyk desmentiu relatos da mídia ucraniana que dizem que ele ou seus aliados roubaram uma barra de ouro deixada por Yanukovych e embolsaram o dinheiro que deveria ser destinado à compra de comida para os animais do zoológico do ex-presidente.

Os animais parecem bem alimentados, e Tarachkotelyk diz que a barra de ouro nunca existiu. "Isso tudo é um jogo político das pessoas que querem tomar Mezhyhirya", disse ele. "Nós a protegemos para o povo".

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