• Carregando...
 | Katherine Streeter
| Foto: Katherine Streeter

Joan Rees, de 79 anos, poucas vezes na vida ficou doente. Seu grande problema era a artrite, principalmente nos joelhos, mas em San Francisco, onde morava, caminhava todo dia e viajava com frequência.

No entanto, ao fim de um dia de novembro de 2013, em Istambul, no último dia de um cruzeiro, ela perdeu o passo e tropeçou – e quando viu que não conseguia ficar em pé, percebeu que havia algo muito errado.

No simples ato de pôr o pé onde não devia e cair, acabou fraturando a bacia em vários lugares. "Foi um choque terrível. Como pude fazer algo tão destrutivo ao meu próprio corpo?", conta ela.

Dali em diante sua vida mudou com uma rapidez cruel e inesperada. Os geriatras em geral concordam que alguns idosos têm um senso exagerado de suas capacidades, mesmo que os riscos estejam sempre presentes: escadarias, tapetes soltos, banheiras escorregadias, raízes de árvores, os próprios animais de estimação. E os antidepressivos e remédios para a pressão sanguínea, que causam tontura, são, cada vez mais, responsáveis pelas quedas.

Vinte e cinco por cento dos idosos que caem e fraturam a bacia nos EUA morrem dentro de um ano. Oitenta por cento fica com graves problemas de mobilidade, sem poder caminhar nem um quarteirão – mas a verdade é que os que se incluem nesses grupos geralmente já eram frágeis ou estavam doentes – ou ambos – antes da queda, diz a Dra. Mary Tinetti, geriatra da Escola de Medicina de Yale.

Depois de uma queda, a vida muda drasticamente em questão de instantes – a perda repentina da independência, a estranha sujeição à família e os amigos e o medo são uma constante para aqueles que caem e seus contemporâneos.

Como muitos que passam por essa situação, Joan se culpa por tropeçar no degrau que não viu em meio ao caos do movimento perto do Grande Bazar. "Não acredito que fiz uma coisa tão estúpida", lamenta.

O caso de Joan é um exemplo típico de um acidente grave prestes a acontecer: entre os riscos, quedas anteriores, falta de equilíbrio e a artrite nos joelhos. Em uma viagem a Londres para visitar a filha, Barbara Rees, em 2008, ela tropeçou e caiu na calçada em frente ao prédio. Sofreu mais duas quedas depois disso, mas, em ambas, conseguiu se erguer sem um arranhão.

Em retrospecto, Barbara, que desde então se mudou para San Francisco, percebe que talvez devesse ter prestado mais atenção ao equilíbrio da mãe; no entanto, nenhum dos filhos de Joan pensou em sugerir a ela que tomasse medidas preventivas – como fazer aulas de estabilidade, por exemplo, ou evitar a desidratação, que também causa tonturas.

O equilíbrio é uma equação complicada que envolve visão, força muscular, propriocepção (a capacidade do corpo de saber onde está no espaço) e atenção. Conforme a pessoa envelhece, esses elementos vão deteriorando.

"A queda é uma ocorrência difícil porque é uma ideia apavorante. Ninguém quer ouvir falar no assunto e quem já foi afetado não fala sobre ele", explica a Dra. Judy A. Stevens, epidemiologista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças em Atlanta. De fato, uma das consequências do tombo é o efeito nos contemporâneos da vítima. A notícia do acidente de Joan em Istambul se espalhou rapidamente entre suas amigas em San Francisco. A reação inicial foi a de compaixão, seguida de um arrepio coletivo.

Desa Belyea, amiga de Joan que já tem mais de 80 anos, confessa que tem mais medo de cair que de ficar doente. "Acaba virando o pior pesadelo", revela Cathy Fiorello, outra amiga também octogenária.

Joan, professora aposentada e antiga dona de uma pousada tipo bed & breakfast em Nova Jersey, se mudou para San Francisco in 2006. Seu marido morrera treze anos antes e ela queria ficar mais próxima dos filhos, pois três deles moravam na Califórnia. Após a queda em Istambul, ela foi morar com o filho John em Saratoga, mas depois de três semanas começou a se sentir um peso e voltou para seu apartamento.

A princípio, sua natureza vigorosa a ajudou a superar as circunstâncias, mas a recuperação, desesperadamente lenta, acabou lhe afetando o espírito. O processo cadeira de rodas-andador-bengala levou meses. Morando sozinha novamente, Joan logo se sentiu isolada – e apavorada com a possibilidade de cair de novo. Pela primeira vez na vida, ela se sentiu velha de verdade. Ficou rabugenta, amarga até. "Era muito dura consigo mesma, e acabou se tornando dura com os outros", conta a filha Joanna. Seis meses depois do acidente, porém, com fisioterapia constante, Joan se recuperou incrivelmente bem.

Quase um ano se passou desde então e hoje ela se considera quase recuperada. Reencontrou sua visão otimista da vida e voltou a fazer longas caminhadas pela cidade.

Apesar disso, os filhos de Joan consideram o tropeço em Istambul como um divisor de águas na vida da mãe, o momento em que os papéis se inverteram. Joanna disse: "Esta é a mamãe 3.0 e é assim que ela vai agir daqui para frente"

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]