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A maioria dos turistas que se aventura a ir a Khajuraho, na Índia, o fazem atraídos pelo conjunto milenar de templos janaistas e hindus situado na cidadezinha – que inclusive têm cenas de sexo explícito enfeitando as paredes.

Entretanto, quando Amir Aczel visitou o local, em janeiro de 2011, estava à procura de um “quadrado mágico” de quatro por quatro em uma das paredes. Entre os 16 números havia um “dez” familiar, escrito em numerais hindus – ou seja, uma das representações mais antigas de que se tem notícia do numeral zero.

Em “Finding Zero”, o matemático conta a história de sua busca pela origem do número mais elusivo de todos, o zero – afinal sem ele, nosso sistema de numeração posicional não seria possível; não teria jeito de distinguir entre 48, 480 e 4.080, por exemplo. O zero é indispensável para nossas operações aritméticas e é metade da linguagem binária dos computadores modernos.

Mesmo assim, os europeus só vieram a descobrir o conceito do número no século XIII, quando começaram a se referir a ele como um número indiano ou árabe. Então Aczel se voltou para o Oriente.

O quadrado mágico de Khajuraho, que é de 954, antecipa os zeros europeus em três séculos inteiros; no entanto, não é o mais velho da Índia. Esse fica em Gwalior, onde a inscrição em um templo, de 876, registra um terreno de 270 “hastas” de comprimento.

Na verdade, porém, Aczel estava à procura de algo ainda mais antigo, pois suspeitava que o zero de Gwalior fosse contemporâneo do Califado de Bagdá, o que corrobora a teoria de que o zero chegou à Índia vindo do Oeste, através dos comerciantes árabes. Contudo, ele tinha certeza de que o conceito era criação da “mente oriental”.

O zero é um paradoxo, um sinal que representa ausência, ou seja, uma coisa que não é nada.

No pensamento oriental, não há uma rigidez absoluta separando a existência da não-existência – e é essa fluidez, segundo Aczel, que permite a justaposição da matemática com o sexo em Khajuraho. Representa o “shunyata”, o vazio positivo que é o objetivo da meditação budista. E zero, em hindu, é “shunya”.

Mas o registro de datas e medidas em Gwalior e outros locais sugere que os indianos antigos podiam ser tão práticos quanto os europeus no uso dos números; e o intercâmbio entre o subcontinente europeu e o mundo mediterrâneo data de pelo menos do Império Aquemênida, ou seja, quase mil anos antes do Califado de Bagdá.

Aczel descobriu que, em 1929, o arqueólogo francês George Coedès traduziu uma inscrição encontrada nas ruínas de um templo cambojano que incluía a data 605, equivalente a 683 d.C. Na época, a descoberta foi comemorada, mas a inscrição acabou se perdendo.

Aczel levou sua busca à Tailândia, Camboja, Laos e Vietnã, aos poucos juntando as pistas sobre o paradeiro do objeto.

E, de repente, encontrou em um depósito de antiguidades no Camboja uma pedra com uma inscrição onde se via o zero mais velho de que se tem notícia, perdido há quase um século.

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