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Um juiz se negou a divulgar uma lista de vítimas de um fraudador de ações retratado no filme “O Lobo de Wall Street” | jemal countess/getty images
Um juiz se negou a divulgar uma lista de vítimas de um fraudador de ações retratado no filme “O Lobo de Wall Street”| Foto: jemal countess/getty images

A história da pessoa que escreveu ao jornal era tristemente comum. Um familiar idoso fazia negócios com desconhecidos no exterior: mandando uma doação de US$ 15 mil (R$ 35.700) para ajudar uma ONG a formar uma fazenda; vendendo sua casa e a reformando para ficar do agrado do comprador estrangeiro.

"Ele é independente e parece esperto, mas essas histórias nos preocupam", escreveu a pessoa a um colunista do "New York Times". "Será que devemos lhe falar de nossa preocupação?"

Philip Galanes, o autor da coluna de conselhos, "Social Q’s", respondeu com base em sua experiência própria, revelando que uma vez foi persuadido a dar vários milhares de dólares a vigaristas num embuste por e-mail.

Aconselhou a pessoa a falar de seus receios, mas o avisou: "Prepare-se para uma atitude um pouco defensiva por parte de seu parente. Ninguém gosta de pensar que foi feito de otário."

Talvez não, mas há otários de sobra. E os vigaristas sabem que as pessoas que foram enganadas uma vez nem sempre aprendem.

Este ano um juiz de Nova York se negou a divulgar uma lista de 1.300 vítimas do fraudador retratado no filme "O Lobo de Wall Street", por temer que elas voltem a ser alvos de embusteiros.

"É fato sabido no mundo das fraudes que a melhor lista que se pode conseguir é a de pessoas que já foram ludibriadas uma vez", comentou Doug Shadel, especialista em fraudes na AARP, um grupo voltado a americanos idosos. "O juiz tem razão em não divulgar a lista, porque os nomes que aparecem nela são das pessoas mais vulneráveis."

Ex-assistente da Promotoria Pública do Estado de Washington, Shadel ficou surpreso quando soube que ladrões procuram essas pessoas. "Por que o vigarista quereria ligar para alguém que acaba de perder US$10 mil numa fraude de petróleo e gás?".

Para ele, as pessoas deveriam estar em guarda contra outros embusteiros. Mas, através de interrogatórios de criminosos, ele descobriu que, ao perder US$ 10 mil (R$ 23.800) numa fraude energética, a vítima passou numa espécie de prova de credulidade.

"Alguns vigaristas me disseram que a primeira coisa que fazem é deixar a pessoa se queixar dos prejuízos que já sofreu, anotando tudo o que fala", disse Shadel ao "New York Times".

Ele compara a atitude à de um ladrão que observa uma joalheria antes de assaltá-la. E não são só idosos que se deixam enganar por mais um e-mail que deixam de aprender com os erros.

Dois processos criminais abertos em Nova York vão parecer familiares a quem assistiu ao filme sobre a carreira criminosa de Belfort como corretor de ações.

Um deles alega que centenas de milhões de dólares foram canalizados por empresas de fachada em Belize e Nevis que permitiram aos clientes manipular os preços de ações e esconder lucros. O outro envolve manipulação de ações que levou investidores a sofrer perdas de US$ 290 milhões (R$ 690 milhões).

"Seria de se imaginar que um filme que fez grande sucesso de bilheteria pudesse ensinar os investidores a não confiar nesse tipo de corretor", Peter J. Henning escreveu no "NYT", "mas as fraudes no mercado de ações continuam no mesmo nível."

Recomendando aos investidores que se distanciem das ações sobrevalorizadas, Henning voltou ao cinema para apontar para outro problema. "Como foi dito em ‘Scarface’,‘lição número 1: não subestime a cobiça do outro’."

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