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 | Jenn Ackerman
| Foto: Jenn Ackerman
  • Os celeiros de laticínios centenários, de manutenção cara, estão sendo transformados em salões de banquetes. Casamento em Grant, Minnesota

Para legiões de jovens casais nos EUA, não há outro local mais desejável para oficializar sua união que um celeiro no interior, com seu clima despojado, cenários pitorescos e autenticidade bucólica.

Já para os vizinhos, é uma agonia que dura o verão todo. "É música alta a noite toda; geralmente são universitários que não param de gritar e todo mundo bebe, é claro. O pessoal do interior tem uma vida pacata. Às vezes, me pego pensando, ‘Mas que diabos está acontecendo aqui?’", desabafa Laurie Tulchin, que mora ao lado de uma dessas estruturas.

Em muitas áreas rurais dos EUA os moradores vêm reclamando que os donos dos celeiros ignoram as leis de zoneamento que exigem que sejam usados apenas para fins agrícolas. Geralmente eles não são inspecionados, ou seja, provavelmente não cumprem a lei no que diz respeito às normas sanitárias, de prevenção de incêndios (portas corta-fogo e sprinklers), nem têm licença para vender bebida alcoólica.

No Meio-Oeste, por exemplo, os celeiros centenários estão por toda a parte, mas nas fazendas modernas têm pouca ou nenhuma utilidade: além de manutenção cara, suas portas são muito pequenas para os equipamentos do século XXI. Transformá-los em salões de festas básicos, com mesas para banquetes, pista de dança e lofts para o inevitável "social", se tornou a nova opção dos proprietários para ganhar dinheiro.

Para os noivos, eles fazem parte da mudança cultural em relação aos casamentos tradicionais. No celeiro não se usa louça nem copos formais, pois foram substituídos por pratos descombinados e vidros de geleia como copos de coquetel. Os convidados podem beliscar pratos simples como espigas de milho grelhadas e carne de porco na brasa. E se e quando o tempo ajuda, é bem provável que a noite termine com todo mundo reunido ao redor de uma fogueira.

De uns anos para cá, os recursos e ideias de decoração disponíveis para os noivos proliferaram. Sites como Pinterest e rusticweddingchic.com chegam a sugerir detalhes como sofás feitos de fardos de feno; outros recomendam locais afastados para a festa, como o blog de compras Racked fez no ano passado com "Os locais mais belos de Chicago para um casamento de celeiro".

Os donos dizem que estão apenas reagindo à demanda do mercado. Scott Jordan, que é dono de oito hectares aqui em Grant, povoado tranquilo pertinho de St. Paul, gastou mais de US$300 mil na reforma do celeiro em sua propriedade, que aluga principalmente para casamentos, cobrando US$4.800/evento.

E conta que os vizinhos fizeram de tudo para impedi-lo de levar o plano adiante.

"Vieram com tudo para cima de mim, todos de uma vez. Estão querendo engrossar", relata Jordan, um homem musculoso de 53 anos, rosto corado usando botas de trabalho e uma camiseta vermelha Harley-Davidson.

Tom Windisch, um dos vizinhos em questão, diz que não só ele, mas outros moradores da área ficaram chocados ao saber que manter um salão de festas para casamentos no interior era permitido por lei.

"Nós nos mudamos para cá justamente pela tranquilidade, a paz, a amplidão. Eu lá vou querer música no último volume e bagunça por aqui várias vezes por semana? Claro que não. Qualquer um reagiria da mesma forma", bufa ele.

No ano passado, um juiz do Condado de St. Louis, no Missouri, decidiu que um celeiro histórico não poderia ser usado pelo risco de incêndio que oferecia, deixando os noivos com apenas alguns dias para fazer outros planos.

Bill Bruentrup, presidente da associação Amigos dos Celeiros de Minnesota, disse que, embora veja com bons olhos os casamentos de interior, também nutre sentimentos contraditórios pela tendência.

"Como conservacionista, acho uma verdadeira benção que alguns celeiros possam ser salvos dessa maneira; são muito bonitos e antigos e, se não fosse pelo dinheiro gerado por essa moda, nem existiriam mais; por outro lado, eu não sou o cara que se mudou para o campo atrás de paz e sossego e tem que aturar música alta até meia-noite ou até mais tarde", filosofa.

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