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Estima-se que a participação do eleitorado tenha sido de 65% nas eleições legislativas na Venezuela | Juan Barreto / AFP
Estima-se que a participação do eleitorado tenha sido de 65% nas eleições legislativas na Venezuela| Foto: Juan Barreto / AFP

O sociólogo Antonio Cova, professor de importantes instituições de ensino superior venezuelanas, como a Universidade Católica Andrés Bello e a Univer­sidade Central da Venezuela, está otimista com a eleição dos novos deputados. Ele diz que a presença de uma oposição mais forte permitirá avançar o processo de democratização no país.

O que significa para a Venezuela a nova composição da Assem­bleia Nacional?

As eleições de ontem foram o primeiro passo para a reconquista do movimento democrático venezuelano. Haverá uma contraposição ao partido do presidente Hugo Chávez, o que hoje praticamente não existe. A nova legislatura terá a participação de um grupo de deputados que vem das regiões mais urbanas do país.

A Assembleia atual, que está saindo, é ruim?

Um dos problemas da atual Assembleia é que a grande maioria dos deputados é o que nós, venezuelanos, chamamos de "foca". Esses deputados aprovam tudo o que o governo quer. Com uma maior presença da oposição haverá vozes discordantes.

O desempenho dos chavistas nas eleições não é uma demonstração de que a plataforma dos oposicionistas tem pouca aceitação?

O partido do governo conseguiu distorcer o sistema político nacional com a intenção claríssima de controlar a Assembleia Nacional. Para se eleger um deputado por Caracas, por exemplo, são precisos muitos votos, enquanto que em outras regiões, menos populosas, um parlamentar é eleito com poucos votos. Comparando com o Brasil, seria dar o mesmo peso de representatividade no Congresso a Manaus e a São Paulo, que têm populações numericamente bem diferentes. Outro problema foi o redesenho da divisão geográfica da votação. Com isso, o número de votos obtidos pela oposição não tem representação proporcional na Assembleia.

Quais são os primeiros desafios dos novos deputados?

O primeiro problema que os novos deputados terão de enfrentar é o da insegurança pública. O governo não deu importância ao problema da delinquência, da violência urbana. Outra questão prioritária será a distribuição equitativa dos investimentos, dos recursos que entram no país resultantes da exportação de petróleo. A nova Assembleia precisa discutir e impedir os "presentes" que o governo dá a vários países simpáticos a Chávez, como Cuba, Nicarágua e Bolívia. Esses recursos enviados ao exterior estão fazendo falta aos venezuelanos. Há também a necessidade de in­­vestimentos nos serviços públicos. O metrô de Caracas, por exemplo, está deteriorado. Em vários outros setores, a deterioração dos serviços públicos é evidente.

É lamentável que um presidente da República, faltando dois anos para as eleições, já esteja em campanha pela sua permanência no cargo. Não há disputa dentro do partido do governo, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). E nos outros partidos que apóiam o governo também não há candidatos. Nem mesmo no Partido Comu­nista da Venezuela (PCV), que é uma tradicional legenda partidária do país, com cerca de 70 anos, existe nome para concorrer à Presidência. O único candidato do bloco, para o período de governo que irá de 2013 a 2018, é Chávez.

Existem semelhanças entre Chávez e Lula?

Não existe semelhança nas formas de governar de Lula e de Chávez. O presidente do Brasil atraiu muitos investimentos para o país, implementou políticas para desenvolver o setor privado. Lula teve muita experiência política e de liderança antes de chegar à Presidência. Chávez, não. Nosso presidente é um militar que não teve nenhuma experiência antes, nenhum conhecimento.

O país está dividido entre ricos e pobres?

Chávez está há 11 anos no poder. Esse tempo é suficiente para a população perceber que muitas das promessas não foram cumpridas, que o presidente usa o discurso de que governa para os pobres, mas na realidade há menos benefícios públicos hoje, há menos investimentos e desemprego. Não há demonstração de nenhum interesse real pelos mais pobres. Como professor universitário, que teve toda uma minha vida dedicada exclusivamente ao ensino, venho notando como o governo perdeu oportunidades para fazer muito mais pela população.

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