Simpatizantes do candidato Mohammad Reza Aref participam de comício em Teerã, a cinco dias da eleição presidencial| Foto: Abedin Taherkenareh/EFE

Distanciamento

Esfriamento de relações com o Brasil deve permanecer

O esfriamento nas relações Brasil-Irã desde o início do governo Dilma Rousseff deve permanecer e até mesmo se intensificar, não importa quem vença a eleição presidencial. Segundo avaliação de integrantes do governo e analistas do setor privado, a reaproximação política entre brasileiros e iranianos só ocorrerá se o presidente eleito apresentar alguma proposta nova nas áreas nuclear e de direitos humanos.

"Ainda é cedo para se prever exatamente o que vai acontecer, porque o próprio líder supremo (Ali Khamenei) sequer expressou preferência ostensiva a este ou àquele candidato", comentou uma fonte do Palácio do Planalto.

Apesar das sanções, o Irã é um mercado importante para o Brasil. Nos cinco primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras para o país subiram mais de 100% em relação ao mesmo período de 2012, atingindo US$ 377 milhões. Por outro lado, as importações de produtos iranianos caíram 46,7%.

Para Guilherme Casarões, professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, as relações entre Brasil e Irã vão depender de como o mundo receberá o novo presidente.

"O Irã pode voltar a ser um elemento importante no protagonismo brasileiro", diz.

Eduardo Viola, da Universidade de Brasília, acredita que qualquer tipo de flexibilização não partirá do presidente eleito, mas de Khamenei.

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Em dezembro do ano passado, o Congresso americano solicitou ao Departamento de Estado a elaboração de um plano estratégico para conter a presença do Irã no continente. O documento ainda não foi entregue, e o prazo vence em 30 de junho, duas semanas depois da eleição presidencial iraniana. A preocupação dos congressistas norte-americanos cresceu de forma expressiva nos últimos anos, em paralelo ao fortalecimento do vínculo entre o governo do Irã e vários países da região, entre eles Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Cuba e Argentina. Na visão de analistas de países que se aproximaram do regime iraniano, a eleição deve manter — com pouca ou nenhuma modificação — os relacionamentos consolidados por Mahmoud Ahmadinejad.

A novidade, diz Juan Gabriel Tokatlián, professor de Relações Internacionais da Universidade Di Tella de Buenos Aires, será um maior interesse dos EUA na estratégia de inserção latino-americana de Teerã, uma das respostas encontradas pela Revolução Islâmica para enfrentar o isolamento internacional.

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A Venezuela chavista é considerada pelo Irã um de seus principais aliados no continente. Com Hugo Chávez e Ahmadinejad, o vínculo bilateral tornou-se importantíssimo para os dois governos. Em seus 14 anos de gestão, o presidente venezuelano visitou oito vezes o Irã, e foram assinados mais de 300 acordos de cooperação bilateral em energia nuclear, construção de casas populares, saúde, educação, transporte, produção petrolífera e agricultura.

"O relacionamento poderia até intensificar-se mais, sobretudo em questões de defesa e no setor petrolífero", opina Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela.

"O embaixador do Irã em La Paz me disse que o principal objetivo de seu governo é a transferência tecnológica entre os dois países, e isso vai continuar no futuro governo", comentou Carlos Cordero, professor da Universidade Maior de San Andrés.

Já o presidente equatoriano, Rafael Correa, afirmou que seu país sofreu ameaças do Grupo de Ação Financeira (Gafi, formado por 33 nações), por seus vínculos com o Irã:

"Não pediremos autorização a ninguém para definir nossas relações diplomáticas", desafiou.

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