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Tudo é clique: uma renderização do que um usuário do HoloLens pode ver quando usar a tecnologia do holograma da Microsoft | Microsoft
Tudo é clique: uma renderização do que um usuário do HoloLens pode ver quando usar a tecnologia do holograma da Microsoft| Foto: Microsoft
  • Jon Hamm em 'Black Mirror', série britânica na Netflix

A Microsoft fez um grande anúncio recentemente, revelando que o Windows estava prestes a ser lançado no ambiente físico através dos óculos chamados HoloLens que sobrepõe o sistema operacional ao mundo real. Em certo sentido, isso foi animador. Ver empresas maduras se adaptando a um mundo diferente é um fato interessante.

Mas há algo assustador sobre a nova tecnologia da Microsoft, e provavelmente tem menos a ver com a ameaça de hologramas participando de nossas vidas todos os dias e mais a ver com telas diferentes.

"Black Mirror" é uma série de três temporadas, com sete capítulos cada, lançada em 2011 pelo Channel 4 no Reino Unido e que agora está disponível no Netflix, gerando muita conversa instigante. O show lembra "No Limite da Realidade" (The Twilight Zone), mas é muito mais sobre o futuro que vemos hoje.

Criada por Charlie Brooker, ex-crítico de videogame que escreve para o jornal The Guardian e que tem seu próprio programa de televisão, a série utiliza a tecnologia como uma forma de refletir sobre o que estamos nos tornando nos ambientes infestados de telas em que vivemos. O espelho negro do título refere-se às telas nas paredes, em nossas mesas e em nossos bolsos.

A série veio à mente durante uma demonstração em vídeo do HoloLens da Microsoft, porque, como as telas estão por todos os lados, a quantidade de efetiva realidade que temos parece ameaçada.

Nossas vidas são enriquecidas pela internet e vários dispositivos — tablets, controles remotos e smartphones ao nosso alcance imediato — que nos oferecem diversão, pelo menos até certo ponto.Porém, "Black Mirror" faz perguntas fundamentais sobre aonde tudo isso nos levará, não pela criação de um improvável futuro distópico, mas nos atingindo em nosso ambiente. Seu mundo está a apenas um clique de distância daquele à nossa frente.

Essa é uma sátira construída não em risos, mas em uma profunda melancolia.

Em um episódio, o primeiro-ministro é forçado por supostos terroristas a realizar um ato inqualificável que é transmitido a todo o público. Em outro, as suspeitas de um homem sobre sua esposa estão em vívida exibição, porque nada mais é secreto. Em um dos episódios mais tocantes, uma mulher não resiste e reconstrói um avatar de seu falecido parceiro e tragicamente se apaixona por ele. Em um especial de Natal, o personagem interpretado pelo ator Jon Hamm usa a realidade virtual com pessoas incautas com propósitos escusos e impiedosos.

Em todos os episódios, o ato de observar — não de agir — envolve o espectador.

Em 2013, o filme "Ela" fez alarde ao mostrar um homem, interpretado por Joaquin Phoenix, se apaixonando por um sistema operacional. Agora a Annapurna Pictures, a produtora do filme, está montando uma divisão para criar conteúdo de realidade virtual. Nesse caso, a vida imita uma imitação da vida.

O que há em nossa realidade hoje que se mostra tão insuficiente a ponto de nos compelir a aumentá-la ou melhorá-la? Chegamos ao ponto em que até mesmo nossas distrações exigem distrações. Nenhuma experiência de visualização de mídia parece estar completa sem uma segunda tela, quando podemos nos conectar com nossos amigos na mídia social ou em mensagens instantâneas para contar o que estamos assistindo.

Todas as formas de mídia são nossas companheiras, nenhuma tendo maior destaque que a outra. Ou somos hoje as pessoas mais entediadas da história da nossa espécie, ou a ubiquidade das distrações nos fez agir dessa maneira. Como Brooker disse em uma coluna para o The Guardian há vários anos: "Se a tecnologia é uma droga — e ela parece uma droga — então, precisamente, quais são seus efeitos colaterais?"

Não só aqueles criados entre telas estão propensos à distração. Como adultos, podemos fazer "amigos" que não são realmente amigos, conseguir "seguidores" que são pessoas que não nos seguiriam se saíssemos de uma sala e "curtir" as coisas quer gostemos delas ou não.

O que importa mais, a experiência ou a representação dela?

O presidente dos Estados Unidos exibe seu domínio sobre todos os tipos de novas mídias, incluindo Medium, Facebook, YouTube, Reddit e outras mais. Talvez seu envolvimento nessas plataformas o esteja distraindo do fato de que ele é menos bem sucedido no ato de governar.

Outro dia, eu estava morrendo de frio e resolvi comprar um par de luvas. Entrei na Amazon, digitei "luvas quentes para homens" e comprei um par. Mas e se eu pudesse — usando o HoloLens — experimentar vários pares para ver como eles ficariam?

Se o Windows ou algo parecido se tornar o sistema operacional não apenas da área de trabalho do indivíduo, mas do mundo, quanto será que as pessoas poderão se aventurar por ele?

Segundo vários relatos, a Microsoft criou uma tecnologia que mistura o real e o virtual em um híbrido útil sobrepondo uma tela sobre o que vemos. Podemos nos perguntar se mais tempo de tela é o que realmente precisamos.

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