Vladimir Ashurkov, uma figura da oposição russa que fugiu de Moscou para Londres há quatro anos| Foto: ANDREW TESTA/NYT

Personagem de oposição na Rússia, Vladimir L. Ashurkov deu um suspiro de alívio quando fugiu de Moscou para Londres em 2014. Depois de meses sendo seguido por agentes de inteligência do Kremlin, o que culminou com uma invasão televisada do seu apartamento, finalmente conseguiu relaxar, desaparecendo nas ruas elegantes e poliglotas de Kensington.  

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Passaram-se seis meses antes que percebesse que ainda estava sendo seguido.  

Um velho amigo voltou de uma viagem para a Rússia com notícias angustiantes: em Moscou, autoridades de segurança haviam feito perguntas detalhadas sobre uma conversa privada que ele tinha tido com Ashurkov em um café em Londres. Enquanto construía sua vida em Londres, Ashurkov aprendeu a procurar agentes russos como um reflexo – homens de ternos escuros sentados sozinhos em reuniões de imigrantes, pessoas apresentadas em jantares que podiam ser informantes.  

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"Não há muito a fazer sobre o assunto. Mesmo depois que você escapa de Moscou para Londres, sabe que está ao alcance deles", disse.  

Ashurkov aprendeu a procurar agentes russos  

A Rússia hoje possui mais agentes de inteligência sediados em Londres do que no auge da Guerra Fria, segundo antigas autoridades de inteligência britânicas. Esses homens servem a uma variedade de funções, entre elas fazer contato com os políticos britânicos. Mas a tarefa mais importante é ficar de olho nas centenas de pesos-pesados russos – os alinhados ao presidente Vladimir Putin e os que são contra ele – que construíram suas vidas na Inglaterra, atraídos por seu mercado imobiliário e seu sistema bancário.  

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O envenenamento de Sergei V. Skripal, um agente duplo russo aposentado, e de sua filha pressionou o governo britânico a controlá-los.  

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As autoridades britânicas já devotaram recursos abundantes para acompanhar o movimento dos agentes soviéticos por aqui. Nos últimos anos, porém, as ameaças terroristas se tornaram prioridade, e o MI5 possui poucos recursos para seguir as operações em expansão da Rússia, diz John Bayliss, que se aposentou do Quartel-General de Comunicação do Governo, a agência de inteligência eletrônica do Reino Unido, em 2010 e agora faz palestras sobre ameaças à segurança.  

"Acho que é meio que aceito que há mais espiões em Londres hoje do que no auge da Guerra Fria. Naquela época, era muito difícil para os russos se moverem pelo país, eles normalmente ficavam fora de Londres. Mas agora têm movimentação praticamente livre, podem ir aonde quiserem. Não temos gente suficiente para seguir todo mundo o tempo todo."  

Londres também é a base para as firmas de coleta de inteligência comercial, como a liderada pelo antigo agente do MI6 Christopher Steele, que montou um dossiê sobre a relação do presidente Donald Trump com Putin. O governo russo está profundamente interessado nesses esforços e em suas fontes.  

Quando era um jovem oficial da KGB, Putin foi primeiro designado para uma estação na cidade de Dresden, na Alemanha Oriental, que enviou espiões para roubar segredos tecnológicos e comprometer e recrutar figuras influentes nas duas Alemanhas. Como líder russo, expandiu as redes de inteligência estrangeira para que elas "atingissem ou ultrapassassem os níveis da Guerra Fria", diz Mark Galeotti, especialista em Rússia do Instituto de Relações Internacionais de Praga.  

"Há uma sensação de que a Rússia está geopoliticamente em competição com o Ocidente. Nestas circunstâncias atuais, os espiões são relativamente baratos e eficazes. É assim que Putin administra seu Estado", explica ele.  

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Nos últimos dez anos, a Inglaterra garantiu asilo político para uma série de críticos de Putin, importantes ou não, que se integraram perfeitamente à colônia russa de Londres. Entre eles, como um dos habitantes explicou, um burocrata de férias pode jantar cordialmente com um escritor que fala em um comício anti-Putin.  

Um antigo oficial de inteligência britânico, falando anonimamente por causa dos protocolos, descreveu isso como "muitos amigos e ex-amigos de Putin, inimigos e aliados, todos juntos em uma cena onde sobra dinheiro".  

"E, claro, metade deles mandam seus filhos para as escolas públicas britânicas", afirmou o ex-oficial, usando o termo do Reino Unido para se referir, na verdade, às escolas privadas.  

Espionagem

Em entrevistas, russos importantes descreveram uma consciência cada vez maior de que estavam sob rigorosa vigilância do Kremlin.  

Yevgeny Chichvarkin, magnata dos telefones celulares que reclamou publicamente de corrupção, fugiu para Londres em 2009 e depois foi acusado de sequestro e chantagem. Chichvarkin, que veio para a entrevista em um suéter cor de rosa fashion comido pelas traças e pantalonas vistosas, agora é dono da Hedonism, uma loja de vinhos em Mayfair onde uma garrafa de um conhaque vintage custa US$340.  

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Chichvarkin disse que percebeu que estava sendo vigiado logo depois de se mudar para Londres, quando observou um grupo de dois ou três homens parados por horas a cerca de 100 metros de sua porta. Olhando mais de perto, viu que passavam o tempo descascando e comendo sementes de girassol, um hábito comum entre os homens do interior da Rússia.  

Mesmo após ter saido de Moscou, Chichvarkin se sente inseguro e sabe que pode estar sendo vigiado o tempo todo 

"Stirlitz tinha chegado", afirmou, referindo-se a um icônico agente da KGB, o herói de uma série de televisão de 1973 ambientada na Alemanha nazista, "Seventeen Moments of Spring".  

Bill Browder, investidor rico que liderou campanhas internacionais para impor sanções a Putin e seus associados por causa de corrupção e violações de direitos humanos, diz que o envenenamento de Skripal significa que pessoas como ele correm um risco maior.  

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Por anos, o ponto de apoio da oposição a Putin em Londres foi Boris A. Berezovsky, bilionário que rompeu amargamente com o líder russo e recebeu asilo político em 2003. O lorde Timothy Bell, que era próximo de Berezovsky, conta que eles frequentemente se sentavam em locais públicos enquanto seu amigo lhe apontava os agentes que o seguiam.  

"Eles não estavam com ninguém. Ficavam sentados sociavelmente. Ficavam encarando. Era irritante. Mas depois de um tempo você se acostuma", diz.  

Berezovsky contratou serviços de segurança caros, que tinham entre seus funcionários antigos oficiais do Exército de Israel ou da Legião Estrangeira francesa. Mas o custo se tornou impossível à medida que sua fortuna diminuía, e o número caiu gradualmente de seis para quatro, depois três e dois, conta Bell. Apenas um guarda-costas estava com ele em 2013 quando foi encontrado morto no banheiro trancado de uma mansão.  

"Acho que não valia a pena, já que não foram capazes de protegê-lo no final", diz Bell.  

O legista do caso disse, no ano seguinte, que era impossível dizer se Berezovsky havia se matado ou sido assassinado. Chichvarkin, outro amigo, lembra-se de que Berezovsky via seus seguranças com certo grau de fatalismo.  

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"Ele costumava dizer: 'Ele não é um guarda-costas, é uma testemunha", conta Bell.  

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